Mas afinal, o que rola entre os jovens mais afastados do palco em um show?
Léo Santana grava o DVD 'Léo e Elas' em Belo Horizonte
“Ou”, diz Breno Patrick, de 21 anos, uma das pessoas mais distantes do palco que Léo Santana armou no Mineirão para gravar seu DVD “Léo e Elas”, neste sábado (23). “É trauma, é trauma”, diz enquanto contém as risadas simpáticas, mineiro hospitaleiro que parece ser. Enquanto pessoas passam mal e são retiradas aos montes da grade do show do 30 Seconds to Mars no Lollapalooza, a Billboard Brasil quis saber o que leva um fã a ficar lá no fundão de um show
“No meu caso é trauma. Minha pressão caiu uma vez…”, diz fazendo aquele sinal universal que significa “vamos fumar um?”. Há um ano, o ajudante de frigorífico, de 21 anos, sofreu o famoso “teto preto” durante apresentação de TZ da Coronel em um festival de trap.
O golpe foi forte que ele não conseguiu ver nem TZ, nem MC Cabelinho, a atração principal. “No final de tudo fui saber que o Cabelinho nem foi!”, conta, mais uma vez, embebido em risos. Sua namorada, Lethycia Diniz, de 19 anos, foi quem o arrastou pro show de Léo Santana, fã que é do baiano. “Daqui a pouco eu vou pra lá e deixo ele aqui”.
Nas cadeiras mais afastadas do estádio mineiro havia a mais diversa cartela de motivos para se estar a uma distância tão grande do palco. Uns alegavam cansaço, outros esperavam seus cônjuges retornarem do banheiro. Mas a unanimidade eram jovens cansados ou com vontade de chapar mesmo.
Um trio de jovens, daqueles jovens que nasceram depois da virada do século, isolava-se também nas últimas cadeiras. “Somos um trio velho”, diz Rafaela, acompanhada dos amigos Iago e Yuri, como que marcando presença em um mar de cadeiras vazias. O show mesmo estava há um campo de futebol profissional de distância, aproximadamente 105 metros.
Ainda mais afastado estava o casal Tarik e Luiza. Ele, eletricista; ela, cozinheira. Ambos conversavam de forma íntima, enquanto Tarik fazia movimento circulares com os dedos, como se preparando alguma receita. “Ah, só estamos descansando mesmo”, começa dizendo a sub-chefe de cozinha, especialista, para delírio do marido, em risoto de limão siciliano, frango empanado com purê e banoffee.
Mas a receita na cuia é o que afasta o casal do palco. “É um colômbia”, revela achando graça da curiosidade, ao mesmo tempo que revelando certo temor da pergunta inconveniente do repórter. “Colômbia” é o nome dado a um tipo de maconha dito um pouco mais superior à vertente do “prensado”, menos adequada sanitariamente (e a mais barata das disponíveis versões da planta).
“A gente prometeu que esse ano íamos bater a meta de ir mais em shows”, diz Luiza, orgulhosa do casamento de seis anos que, por consequência, minguou a disposição financeira do casal, forçando um hiato do entretenimento. Com as coisas mais tranquilas, o show de Léo Santana foi o ponto de partida para a mudança de comportamento.
“Nós já temos coisa marcada. No meio do ano, temos quatro noites de rodeio em Pedro Leopoldo”, diz ela. “E a meta principal é o Samba Prime”, complementa ele, referindo-se a um festival de pagode no mês de maio, no mesmo Mineirão.