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Kim Gordon, a Girlboss do punk, toca neste sábado no Popload

Kim Gordon, a Girlboss do punk, toca neste sábado no Popload

Ex-Sonic Youth, Kim mostra aos 71 por que é a mulher mais icônica do rock

Kim Gordon (Divulgação press_Danielle Neu)

Nunca existirá uma garota mais cool do que Kim Gordon. A norte-americana nascida em Rochester, Nova York, em 1953, não apenas definiu o que significa ser uma mulher no rock – ela reescreveu o manual, rasgou as páginas e usou os pedaços para afinar seu contrabaixo.

Artista visual, ícone do feminismo punk, musa do noise rock e, hoje, aos 71 anos, uma força disruptiva mais relevante do que nunca, Kim Gordon é a prova viva de que autenticidade não envelhece – ela se amplifica. Enquanto o mundo esperava que ela se tornasse uma lenda nostálgica do Sonic Youth, Gordon fez o que sempre fez melhor: surpreender. Seu novo álbum, “The Collective” (2024), é um soco no estômago do etarismo e um manifesto sobre como a criatividade não tem data de validade.

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Das ruínas do rock masculino dos anos 1980 às fronteiras digitais da música experimental hoje, Kim Gordon não segue tendências – ela as antecipa, as destrói e as reconstrói no seu próprio ritmo. E, convenhamos: ninguém jamais fará isso com tanta elegância desconstruída.

Com esse baita currículo, Kim chega como headliner punk do festival Popload, que acontece neste sábado (31) em São Paulo, no Parque Ibirapuera. Além de Kim, o festival traz um line-up majoritariamente feminino, com estrelas como St Vincent, Norah Jones, Laufey e Tássia Reis, além de Samuel Rosa, Terno Rei, The Lemon Twigs e Exclusive os Cabides.

Kim Gordon sempre andou na contramão. Com uma presença de palco calculadamente “anti-sedutora”, enquanto cantoras eram sexualizadas, ela adotava movimentos robóticos e roupas largas, tocando seu baixo e cantando letras incômodas, como “Swimsuit Issue” (1992), que denunciava assédio na indústria musical ou, a icônica, “Kool Thing”*, em que questionava o machismo no hip hop.

Após o divórcio artístico e pessoal de Thurston Moore em 2011, a indústria esperava que Gordon virasse “a ex-baixista do Sonic Youth”. Em vez disso, aos 66 anos, lançou “No Home Record” (2019) – um debut solo que soava mais jovem que bandas com integrantes na faixa dos 20 anos.

Kim Gordon recebeu, virtualmente, a reportagem da Billboard Brasil para um papo sobre punk rock, feminismo e inteligência artificial.

É impossível falar com você e não trazer à tona a forma como você tocava o seu baixo. Esse estilo que você desenvolveu, teve alguém que a inspirou?

Kim Gordon – Não sou uma musicista treinada, eu gosto de minimalismo. Não toco mais baixo, mas eu gostava muito do estilo do Tim Wright, da banda DNA, do Arto Lindsay. Ele tinha um estilo muito interessante de se assistir.

Você acha que ainda existe o estilo Do It Yourself com tanta tecnologia na praça?

Kim Gordon – Bom, antes da IA já existia tecnologia. Mas acho que o jeito que a tecnologia evoluiu, isso mudou o jeito das pessoas pensarem em música. O pensamento de álbum mudou completamente por conta do streaming, agora o pensamento é mais focado numa música e não num disco. Por outro lado, há mais formas das pessoas gravarem e colocarem sua arte no mundo. Acho que foi muito positivo para quem compõe, há mais possibilidades, por exemplo, de espalhar a sua arte num Bandcamp, por exemplo.

Vamos falar de “The Collective”, seu segundo álbum. Que disco mais potente, tem beats, tem noise, tem flerte com hip hop. Como foi essa produção?

Kim Gordon – Eu pensei nisso como uma continuação do primeiro álbum. Trabalhei com o mesmo produtor, Justin Raisen (produtor de Charli XCX, entre outros). O Justin manda uns beats e eu continuo a partir dali. Eu não estou tentando fazer música eletrônica, eu só gosto de brincar com gêneros de música diferentes. O que eu faço não é rock, não é eletrônica, não é hip hop. É uma combinação de muita coisa. O Justin sabe que quando ele me manda um beat de hip hop, quando ele me manda, eu vou transformar em outra coisa com minhas letras e minha guitarra. Eu gosto de trabalhar com ele porque a gente dá um jeito de tornar as faixas mais punk e mais “trashy” (zoadas, sujas).

+Leia mais: Popload Festival 2025: como chegar, objetos permitidos e proibidos

Gostaria que não tivéssemos mais que falar sobre a presença feminina na música, que isso fosse coisa do passado, mas ainda não é. Você sente que tem aumentado a participação de mulheres na música independente?

Com certeza tem. Mas realmente almejo ver o dia em que essas perguntas não sejam mais necessárias. Todas as pessoas da minha banda são mulheres. E não foi proposital. Foi apenas porque elas são mulheres. Estamos numa fase péssima nos EUA, e isso tem afetado muito a nós mulheres. Sofremos mais do que nunca a opressão do homem branco corporativo. Tem sido comum ver mulheres sendo presas por terem feito abortos…

Você escreveu um livro de memórias. Como isso afetou a sua forma de fazer arte?

É uma boa pergunta. O livro acabou me dando uma visibilidade que eu não esperava. Vai sair uma edição comemorativa de dez anos. É quase como uma terapia, foi uma ótima oportunidade de revisitar minha vida.

E como rolam as colaborações de trabalho na sua vida?

Com o Justin (Raisen) foi meio por acidente, foi através do irmão dele. Ele começou a me mandar coisas e eu estava muito cética. Mas nas trocas de arquivo entre a gente ele acabou me impressionando com o trabalho dele. Isso durou uns seis meses até que a gente finalmente começasse a trabalhar no disco.

Como é o seu método de compor atualmente?

Normalmente o Justin me manda uns beats, daí eu penso numa letra e na parte da guitarra. Normalmente eu improviso enquanto estou gravando os vocais. É realmente uma colaboração.

 

POPLOAD FESTIVAL 2025
Realização
: TIME FOR FUN
Data: 31 de maio, sábado
Local: Parque Ibirapuera, São Paulo
Horário: 11h
Capacidade: 15.000 pessoas

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