Filhos de Sabotage seguem os passos do pai… Mas não na música
Trabalho social do rapper, morto em 2003, influenciou família
O legado de Sabotage, um dos maiores nomes do rap nacional, vai muito além da música. Assassinado aos 29 anos em janeiro de 2003 em São Paulo, ele influenciou os filhos não só a explorarem a habilidade artística, mas principalmente a terem amor pelo trabalho social.
Quem seguiu os passos do rapper de “Um Bom Lugar”, foi Tamires Rocha, de 29 anos. Ela já até lançou os próprios projetos musicais, mas tem se dedicado à faculdade de direito. Quando criança, após a partida do pai, ela virou voluntária em ações sociais nas comunidades de São Paulo, seguindo o exemplo dele.
“Sempre gostei de ajudar as pessoas na favela, e eu também fui muito ajudada. Teve uma época na nossa vida, depois que nosso pai morreu, que passamos necessidade. Só então você consegue entender a união de dentro da favela”, diz Tamires.
Sabotage vivia no Canão, favela localizada no Brooklin, zona sul da capital paulista. “Meu pai já resgatou muitas pessoas e ninguém tem nem noção. Ele tinha um projeto social em um barraco de madeira na Canão, onde dava oficinas e aula de capoeira. E dizia: ‘Quando as coisas melhorarem para mim, vão melhorar para vocês também'”, conta.
Ao lado do irmão, Wanderson Mateus dos Santos, Tamires abriu o Instituto Somos Todos Um há 14 anos. O projeto começou com arrecadações em datas festivas, como o Natal e a Páscoa, e se transformou no Centro Cultural Sabotage –localizado na Praça Frei José Maria Lorenzetti, na Saúde, em São Paulo.
No local, são oferecidas aulas de capoeira, futebol, boxe, DJ, produção musical, teatro, entre outros, além de auxílio para questões de saúde mental, com a presença de psicólogos. O desejo de Sabotage de melhorar a vida das comunidades paulistas segue forte através da família.
Ensinando as novas gerações
Recentemente, os irmãos se reuniram para o lançamento do álbum “Sabotage 50 Anos”. O projeto conta com nove faixas e tem participações de grandes nomes da música, como Filipe Ret, Djonga, Luedji Luna, Don L, Bivolt, Yago Opróprio, Sant, Vandal e Russo Passapusso, entre outros.
O disco foi produzido por Zegon e Tejo Damasceno. Eles garantem que Sabotage adoraria ter gravado com tais parceiros.
“Quisemos trazer diversidade dentro do subgênero do rap para atingir o máximo de gente possível. Muitos vão ouvir as músicas por serem fãs dos artistas e, assim, vão ouvir a obra do Sabotage. É a ideia para trazer mais público e manter o legado dele”, diz Zegon.
“Estamos muito felizes com o resultado. Não vi nenhuma reclamação de nenhuma participação e isso é normal de acontecer. Normal não agradar todo mundo, mas esse disco é impressionante”, elogia Tejo.
Os dois produtores musicais trabalharam com Sabotage antes mesmo do primeiro álbum do rapper, “Supervisionando a Sociedade”, lançado em 1997.
“Acho que por esse convívio intenso que tivemos, conhecemos muito o gosto musical dele. Conseguimos imaginar onde ele estaria hoje em dia”, explica o fundador do Tropkillaz. “Independentemente de estilo, é óbvio que ele estaria flertando com o trap e o funk. Ele toparia tudo, desde que fosse bom para o gosto dele.”