Em ‘Tortured Poets’, Taylor Swift eleva status de contadora de histórias nata
Artista intriga com contos, mas peca em passagens 'bobas' e produção repetitiva
Taylor Swift é o maior nome da música na atualidade. Contra fatos – como recordes nos charts da Billboard, vendas de discos de vinil que reviveram a indústria, ou o marco da maior turnê da história – convenhamos, não há argumentos. No entanto, com mais sucesso, naturalmente chegam mais críticas e expectativas sobre seus novos trabalhos. Com seu décimo primeiro álbum, “The Tortured Poets Departament”, o primeiro inédito desde o início da celebrada “The Eras Tour”, no começo do último ano, é claro que isso não seria diferente.
A ansiedade por um novo projeto de Taylor foi ainda maior com o conceito apresentado por ela: um departamento de poetas torturados. Seria ela uma poeta torturada? Seriam seus companheiros românticos? Muitas perguntas, e quase nenhuma resposta (pelo menos não diretamente), assim como seus fãs gostam. Os “swifties”, como são apelidados, parecem ser viciados em criar teorias e desvendar mistérios que percorrem seus trabalhos. Em seu novo disco, no entanto, as histórias possuem pistas inéditas capazes de prender a atenção de seus ouvintes mais céticos
Refletindo sobre as fases de um término, como negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, as músicas parecem atender as especulações de que a cantora falaria mais detalhes a respeito de seus relacionamentos mais recentes. O de seis anos com o ator inglês Joe Alwyn, que acabou no início de 2023, e o polêmico affair express com o cantor Matty Healy, vocalista da banda The 1975, que aconteceu após o término com Joe.
Certo, Taylor Swift cantando sobre relacionamentos com pessoas públicas, o que tem de inovador nisso? Ela já fez isso antes em boa parte de seus discos. Ninguém ficou ileso: Harry Styles, John Mayer, Joe Jonas, Jake Gyllenhaal. Tendo em vista que isso é sua marca registrada, muitas pessoas poderiam perguntar. A resposta vem no amadurecimento nas temáticas tratadas nas músicas.
Ao longo das músicas da versão standard do projeto (que, durante a madrugada, acabou ganhando outras 15 músicas), a cantora fala sobre assuntos inéditos em seu repertório, e próprios da história de uma mulher de 35 anos que vive e se relaciona. Taylor lamenta um pedido de casamento que aguardou por quase uma década em “So Long, London”, faz alusões a possíveis traições da sua parte e do companheiro em “Fresh Out The Slammer”, e em “Loml”, admite que berços e uma gravidez eram sim, parte de seus planos.
Analogias com mortes, cemitérios, prisões, manicômios, e até comentários sobre abuso de substâncias como álcool e remédios também são assuntos que se destacam nas histórias do projeto, que conta com as participações dos cantores Post Malone em “Fortnight”, e Florence + The Machine, em “Florida!!!”.
Em meio a composições de dar água na boca, Taylor tem um deslize e outro em versos bobos que viralizam forma desnecessária para a qualidade do projeto. É o caso de, por exemplo, “Nós declaramos que Charlie Puth deveria ser um artista maior”, como canta na faixa-título do disco. Frases como essas são habituais da artista, carregando um humor típico de sua personalidade, no entanto, acabam afastando ouvintes indevidamente ainda não convencidos de suas habilidades como compositora.
Outro ponto de atenção é a produção do projeto, que fica mais uma vez por conta de Jack Antonoff, responsável por seus últimos cinco álbuns, além de ser um dos profissionais mais requisitados por nomes como Lana Del Rey e Lorde. Mais uma vez, um álbum de Taylor não traz nada de inovador.
Na verdade, perto do universo que as composições do disco carregam, Taylor parece conseguir um feito inédito nos tempos atuais e imediatas: suas letras importam mais do que o som que as embalam. A dupla se apega ao conforto, usando fórmulas do indie pop (que parecem beber muito do disco “Melodrama”, também de Lorde), country, e do pop dos anos 1980 que já são conhecidas e para lá de apreciadas pelo público e pela crítica. Até então.
“The Tortured Poets Departament” pode até não ser o álbum mais ambicioso de Taylor Swift em termos de sonoridade, e usa do humor em momentos indevidos que chegam a ser um tanto quanto… bregas. No entanto, é como se nada disso importasse para a cantora. As histórias sempre foram, e sempre serão o maior foco de sua característica como artista.
E, em seu novo disco, sua habilidade de introduzir detalhes, discutir aspectos inéditos de sua vulnerabilidade através da escrita, mostram a maturidade de Taylor como escritora – pelo menos na maior parte das músicas do projeto – e aprimoram um feito inédito nos tempos atuais: o de fascinar o público através de histórias com mais de 30 segundos como nos aplicativos.
Pode anotar: as teorias sobre o que Taylor cantou aqui e acolá vão dominar as redes por semanas a fio. Ela é capaz de criar um império a partir de um modelo de atenção que, por muito tempo, parece ter sido esquecido e enferrujado. Pelo menos, é o que os poetas dizem.