Elas furaram a bolha do patriarcado e têm brilhado no São João
Referências no palco e nos bastidores comentam sobre o mercado
Um dos maiores eventos do Brasil, o São João é mais do que uma festividade: a festa junina é uma grande plataforma de lançamento, seja de artistas ou música. Embora sua importância ainda reflete um pouco a sociedade brasileira, com um espaço reduzido para mulheres.
Uma das capitais do São João, a cidade paraibana de Campina Grande, um dos principais polos industriais brasileiros, já foi alvo de estudo sobre a participação de mulheres. Em 2018 e 2019, um estudo da Universidade Federal da Paraíba destacou que não havia nenhuma mulher em cargos de poder em um dos principais festivais reveladores de talento da cidade. “Em uma das edições a homenageada era uma mulher [Zabé da Loca, nome maior do pife]. No entanto, a participação delas na indústria local é mínima”, conclui o estudo.
A Billboard Brasil conversou com Marcela D’Arrochela, Gabriela Parente, Mari Fernandez e Solange Almeida para entender como cada uma vê a atual participação das mulheres nos bastidores ou nos palcos de uma indústria que pode atrair mais de 20 milhões de pessoas em 2024.
“Eu ainda sinto que temos pouco espaço, é algo estrutural. Tem várias camadas que não existe penetração de mulher. Por exemplo, empresários de banda, você não vê nenhuma mulher porque vem de uma cultura patriarcal e machista. Há categorias que a presença de mulheres é quase zero. As coisas, vem mudando, mas de uma maneira muito lenta”, diz Marcela D’Arrochela, sócia e diretora comercial do Sua Música. A executiva que trabalha com o mercado nordestino há 15 anos.
Além do peso de ser exemplo e representar uma massa, aquelas que conseguem espaço precisam estar sempre se destacando. “Ser uma referência também tem suas responsabilidades. Sempre busco trazer inovação e criatividade para os meus shows”, pontua Solange Almeida, cantora consagrada no forró que por anos fez dupla ao lado de Xand Avião, com o Aviões do Forró, e hoje brilha em carreira solo.
“Estamos conquistando cada vez mais espaço no cenário, a realidade é diferente de 30 anos atrás”, completa Sol.
Apesar das dificuldades, tem quem olhe a evolução do movimento com otimismo, como Mari Fernandez. A jovem, de 23 anos, é uma das novas vozes do piseiro e vem fazendo uma maratona de shows pelo nordeste. “A cada ano que passa, nós mulheres recebemos um pouco mais do reconhecimento que merecemos. Então, estar presente é muito importante. Fico muito feliz quando vejo mulheres trabalhando nos bastidores desses grandes eventos. Isso é muito importante para o mercado da música. Porque, sim, é difícil, mas vale a pena viver esse sonho”.
Gabriela Parente, de 34 anos, é diretora de marketing do São João de Campina Grande. Para ela, o fato de a indústria ser relativamente nova contribuiu para a falta de mulheres na linha de frente.
“Nosso mercado de eventos é predominantemente masculino, ele ainda é muito jovem e vem muito da noite. A mulher não estava tão presente nesse ambiente como uma pessoa de tomada de decisão. Também é um desafio, porque tem que virar a noite, tem filho, às vezes o marido não aceita”, explica a profissional com 12 anos de atuação no mercado e, tem no currículo eventos para nomes como Beyoncé, Elton John e Scorpion.
Em uníssono, elas concordam que a mudança de cenário só virá com exemplos constantes e empoderamento de novas profissionais.
“Trago para o meu time a necessidade da mulher e a representatividade. Estamos aos poucos plantando uma sementinha”, conclui Gabriela.