Valquíria, mãe de MC Kevin: ‘Tenho um compromisso com o legado do meu filho’
Empresária também agencia novos artistas
Sentada no sofá da sua sala de reuniões, Valquíria Nascimento olha fixamente para o seu celular, analisando a música de Pietro, um MC mirim que pedia uma chance para a empresária e mãe de MC Kevin (1998-2021). Há mais de um ano, Valquíria, de 44 anos, passou a cuidar do legado do filho, que morreu em 2021, e tenta auxiliar jovens sonhadores – como seu filho foi um dia – a conquistar protagonismo na música.
“Pouco antes de o Kevin morrer, comecei a estudar [o mercado da música], questões de direitos autorais. Decidi me dedicar não só ao legado do Kevin como artista, mas também à carreira de outros artistas” , disse, em conversa com a Billboard Brasil na sede da sua empresa, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
No dia 14 de julho, foi lançado o álbum “O Menino Ainda Encanta a Quebrada”, o terceiro trabalho póstumo de MC Kevin, que ficou entre os 10 álbuns novos mais ouvidos naquela semana no Spotify.
Com o trabalho, Valquíria conseguiu realizar o sonho do filho de ter um reconhecimento global (nesse caso, por meio dos números) e mostrou como conseguiu se tornar uma empresária relevante no cenário da música.
Isso porque foi ela quem fez toda a curadoria artística e o planejamento para divulgar o trabalho num momento onde a música urbana está em destaque.
“No primeiro álbum [póstumo, “Passado e Presente”], o Kevin tinha planejado tudo, apenas seguimos com o desejo dele. Nesse álbum mais recente, eu cuidei de todos os detalhes, mas creio que consegui fazer algo bom. Aliás, com certeza teve a mão dele também, que me ajuda todo o tempo”.
A mãe ‘tá estourada!
Valquíria era camareira quando um dos seus filhos, ainda na infância, começou a chamar a atenção pela hiperatividade. Tudo que Kevin fazia era algo extraordinário para a mãe, que tentava entender a disposição do filho.
No entanto, enquanto trabalhava, ela ficou sabendo que seu filho fazia corres nas biqueiras (ou bocas de fumo, a depender da região) próximas da sua casa, na região da Vila Ede, na Zona Norte de São Paulo.
“O Kevin sempre foi um menino de ficar na rua. Eu não concordava, brigava. Até que um dia ele falou: vou virar MC. Eu só disse que ele não prejudicasse ou fizesse mal a alguém. E ele foi ser cantor”.
Kevin trocou o tráfico de drogas pela música, se tornou um dos maiores artistas do país e conseguiu mudar a vida da sua família. Nessa mudança, dona Val passou a ficar em casa, cuidando dos filhos e auxiliando a carreira de Kevin como uma espécie de produtora informal.
E foi assim até pouco antes da morte de Kevin. À época, o cantor rompeu seu contrato com a produtora GR6 e sua mãe passou a atuar de forma mais na gestão de carreira.
“O Gugu [um dos sócios] foi quem descobriu o Kevin e ele cresceu muito junto com a empresa. Nos últimos anos, ele queria seguir outros caminhos. Eu já ajudava a carreira dele, mas acabei me aproximando mais dos detalhes”.
Agora, “dona Val” assumiu essa missão por completo. Num mercado onde mulheres são raridade até em cima dos palcos, ela vem investindo num trabalho como empresária de música para além do funk.
O nome da sua produtora, Esquece, faz referência ao bordão eternizado por Kevin. O local, no bairro do Morumbi, conta com seis estúdios e está passando por grandes reformas visando a descoberta de grandes talentos.
Passado, presente e futuro
Atualmente, Val agencia a carreira da cantora sertaneja Rayanne Freitas, do cantor de trap e funk Martin e da própria filha, Evilim Bueno.
Para além da música, a empresária tem planos de divulgar uma série de vídeos contando a história das mães de MCs, como as dos cantores MC Pedrinho e MC Don Juan, e dar dicas para aquelas com filhos em início de carreira.
Sobre Kevin, ela afirma que tem o projeto para uma festa em homenagem ao filho, que contará com a apresentação de diversos MCs (ainda sem previsão de data e local), além de mais músicas inéditas.
“Além da festa, ele tinha o sonho de fazer um DVD e vamos tentar realizar. O Kevin deixou alguns trabalhos e projetos que vamos continuar, é um grande legado”.