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Da Ilha de Itamaracá à África: Lia de Itamaracá

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Da Ilha de Itamaracá à África: Lia de Itamaracá

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Lia de Itamaracá
Lia de Itamaracá

Aos 80 anos, a pernambucana Maria Madalena Correia do Nascimento, ou Lia de Itamaracá, como é mais conhecida, tem no currículo quatro álbuns, um deles lançado em Paris, e participação em três filmes –entre eles o bem-sucedido “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho. Também carrega títulos como Patrimônio Vivo de Pernambuco, Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura e doutora honoris causa pela Universidade Federal de Pernambuco.

Apenas neste ano, em que completou oito décadas de vida em janeiro, foi homenageada com o enredo de duas escolas de samba, a carioca Império da Tijuca e a paulistana Nenê de Vila Matilde, e se apresentou no palco Global Village do Rock in Rio. Na ocasião, foi reverenciada por um público participativo, que transformou o gramado da Cidade do Rock em uma grande ciranda, enquanto ela cantava. Ao final do show, disse que adoraria tocar novamente no festival. E reforçou o desejo nesta entrevista: “Foi uma maravilha, excepcional. Se eles me chamarem, estou dentro. É Rock in Rio de novo”.

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Agora, é a homenageada da oitava edição do Women’s Music Event Awards by Billboard, em dezembro de 2024. “Para mim, valorizar as mulheres, especialmente as mulheres negras, é muito importante”, diz. “Quanto mais homenagem, quanto mais felicidade, melhor. E se alguém quiser fazer alguma coisa por mim, que faça enquanto estou viva, porque eu posso ver, posso ouvir.”

À reportagem da Billboard Brasil, ela diz que é muito feliz sendo artista, profissão que escolheu aos 12 anos, e que não pensa em se aposentar. Mas, quando fala sobre seu sonho, a resposta passa longe de planos profissionais: “Quero conhecer a África. É lá que estão as minhas origens”. A viagem ainda não tem data marcada, mas Lia garante que “quando a hora chegar, estarei pronta”.

QUINTAL DE CASA
Lia concedeu esta entrevista por vídeo, direto do quintal de sua casa, na Ilha de Itamaracá, onde nasceu –seus pais, um agricultor e uma empregada doméstica, tiveram 18 filhos–, cresceu e conheceu as rodas de ciranda. “Comecei a me interessar pela música aos 12 anos. Aos 19, assumi como uma responsabilidade e me encontrei na profissão. Sabia que era o meu caminho”, lembra.

Maria Madalena se tornou Lia na década de 1960, quando a cantora Teca Calazans incorporou versos seus e acrescentou à letra o trecho: “Esta ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá”. Na mesma época, graças a iniciativas como o Movimento de Cultura Popular e o Movimento Armorial, que ajudaram a apresentar a cultura popular, especialmente nordestina, à indústria e à imprensa, Lia ficou conhecida fora dos limites de Pernambuco. De lá para cá, fez turnês pela Europa e teve suas músicas sampleadas por DJs dentro e fora do Brasil. Por aqui, participou de projetos do rapper Rincon Sapiência e do grupo Nação Zumbi.

Através da câmera, durante a entrevista, era possível ver parte do quintal e da parte de fora da casa, pintada de um azul vivo e alegre, da cor do céu aberto, sem nuvens. A entrevista foi interrompida duas vezes por pessoas chamando por Lia do portão: “São meus fãs mirins e adultos. Eles ficam passando, batem na porta, querendo conversar. Tem dias em que eles chegam cedo e me tiram da cama”, fala. Não raro, ela abre o portão e recebe as pessoas em casa.

Além das visitas inesperadas, um dia comum da cantora passa longe dos holofotes. “Acordo às 8h, faço meu cafezinho, cuido da casa, preparo o almoço. Vou à praia caminhar para esticar as pernas”, descreve. Ela e o marido, o músico Toinho Januário, cuidam sozinhos da casa, que fica a 200 metros do mar. Vez ou outra, quando não querem cozinhar, vão a um restaurante.

“Chegar aos 80 anos é nota 10, nota mil. Estou tranquila. Vou esperar os 81, com fé em Deus”, diz. E garante que se aposentar não está nos planos: “Eu queria ser artista e eu sou artista. Agora, só quero ser feliz além do que já sou”.

Rainha da bossa nova

Homenageada do WME Awards de 2024, Nara Leão formou grupo que fez nascer um dos gêneros mais emblemáticos do país

Apartamento do casal capixaba Jairo Leão e Altina Lofego, em frente ao posto 4 da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Nesse endereço, em 1957, nasceu a bossa nova. Era lá que a jovem Nara, filha caçula do advogado e da professora, então com 15 anos, recebia amigos como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli. Juntos, plantaram a semente do gênero musical que é um dos maiores símbolos da cultura brasileira mundo afora. E a importância dela na música faz com que ela seja agora homenageada pelo WME Awards by Billboard.

Nara começou a ser reconhecida por seu talento musical aos 14, quando teve aulas na academia de Carlos Lyra e Roberto Menescal. Apenas quatro anos depois, tornou-se professora na mesma escola. Logo foi consagrada “musa da bossa nova”, título que recebeu do cronista Sérgio Porto, em 1963, e que ficou marcado a partir do espetáculo “Opinião”, de 1964 –nele, Nara, João do Vale e Zé Keti fizeram uma apresentação carregada de críticas à ditadura militar, imposta meses antes, naquele ano. Entre as interpretações mais conhecidas destacam-se “O Barquinho”, “A Banda” e “Com Açúcar, com Afeto”.

Nara aderiu à Tropicália e gravou o disco-manifesto do movimento “Panis et Circensis”, de 1968, rompendo com a bossa nova para se dedicar ao samba de morro. Venceu importantes festivais de música e atuou em filmes, especialmente dirigidos por Cacá Diegues, com quem foi casada e teve dois filhos, Isabel e Francisco. Sua discografia tem 28 títulos, de 1964 a 1989, ano em que morreu em decorrência de problemas cardíacos.

Nara Leão
Nara Leão (Editora Planeta/Divulgação)

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