O meme que dá título a esse texto pode até ser meio antigo, mas juro que é o melhor jeito de resumir o que aconteceu naqueles dias na Praia do Preá, em Cruz (CE), durante a gravação do “Corona Luau MTV”. Minha tarefa aqui é um pouco ingrata: justamente tentar descrever aqueles dias ensolarados no fim de outubro passado.
Acessível apenas pela faixa de areia, o pequeno vilarejo a quatro horas da capital virou uma espécie de refúgio da Babilônia. Lá, Falcão e L7NNON puderam estreitar ainda mais o vínculo artístico e de amizade que começaram recentemente. Tudo isso à beira mar, refrescados pelo vento incessante do litoral do kitesurf.
Quando perguntado sobre a presença do produtor Daniel Ganjaman como diretor musical do projeto, Falcão respondeu de bate-pronto: “Sabe a seleção brasileira campeã da Copa de 2002? Ele é o nosso Felipão“. Se Ganja era o técnico, o veterano ex-vocalista do Rappa e o jovem rapper carioca jogavam com as camisas 9 e 11 –de Ronaldo e Ronaldinho. Livres, leves e soltos num encontro de gerações.
A boa convivência em grupo naquele lugar remoto fez com que o “Corona Luau MTV” –empreendimento delicado que mobilizou mais de uma centena de profissionais de diferentes estados e teve dezenas de desafios logísticos e técnicos– parecesse uma viagem de férias para muitos. No dia anterior às gravações, Pedro Scooby atuava como um diretor geral de clima. O surfista carioca, que estava ali como apresentador, fazia lembrar aquela frase do reality que acabou virando título de um documentário sobre sua vida: “A vida é irada, vamos curtir”.
Depois de muito pedir e usar do seu carisma, Scooby finalmente convenceu o restaurante do lugar onde o evento seria realizado a emprestar a caixa de som para animar as coisas. Como quem “pede licença”, L7 primeiro botou para tocar uma faixa de Don L –rapper cearense. A energia da casa explodiu e a festa começou – lá pelas três da tarde.
Depois, L7NNON colocou os próprios hits na boombox e ficou cantando em cima da base junto com Scooby, para alegria dos curiosos e moradores locais que passavam por ali e apreciavam aquele show inesperado. Enquanto se divertiam, os artistas atendiam à imprensa e participavam das gravações dos extras da MTV. Perto dali, Sarah Oliveira e Bella Campos trocavam ideia e participavam de uma “passagem de bastão” entre apresentadoras do programa.
Enquanto o vento do Preá parecia sussurrar segredos inconfessáveis aos que estavam presentes, era fácil se perder na paisagem. Ao longe, dezenas de velas de kitesurf dançavam como se ouvissem a festa lá em baixo. O mar agitado da praia parecia pronto para engolir qualquer um que se desviasse do caminho. A areia, fina como pó, se agarrava à pele e parecia não soltar mais. Os artistas, sentados em cadeiras de praia, riam de histórias que se misturavam ao som do oceano.
O dia terminou com a passagem de som e o ensaio geral do “Corona Luau MTV”, já sob um céu estrelado. Enquanto os técnicos enrolavam os cabos e protegiam os instrumentos dos ventos com a ajuda de lonas, Falcão e L7 ficaram por ali. O cantor, que tocou violão durante todo o ensaio, havia prometido ensinar uns acordes para o rapper. Ele permaneceu no palco até tarde para manter sua palavra, com a humildade de um instrutor diante de seu aluno iniciante.
A gravação
No dia seguinte, data da gravação, aconteceram dois shows completamente distintos. O primeiro, apresentado por Bella, foi ensaiado e repetido minuciosamente para ser gravado diante das câmeras. Tudo correu como deveria, e a química entre os artistas que havia nos bastidores transpareceu naquele encontro televisivo. Como em todo programa de televisão, algumas músicas foram gravadas em dois takes. Claro, havia pausas para os intervalos comerciais e aplausos da plateia, que vibrava cada vez mais alto. Quando Ganjaman apertou o botão rec pela última vez, disse com um sorriso no rosto: “Está entregue”.
Quando o sol finalmente começou a cair, o céu se encheu de laranja e rosa, refletindo um cenário que parecia mais uma pintura. O momento era quase sagrado: tudo parou, mesmo que por um breve instante, para admirar o espetáculo natural. Era como se o sol também tivesse sido convidado para o luau, desempenhando seu papel de destaque mesmo que só por alguns minutos.
Foi nesse clima crepuscular que começou um segundo show, espontâneo, apenas para os poucos sortudos que estavam por ali trabalhando ou simplesmente aproveitando a praia naquele 23 de outubro de 2024. No repertório desse “Corona Luau MTV” –ao cair do sol e com as câmeras desligadas– incluíram-se canções do Rappa que não entraram no setlist oficial, versões de outras bandas nacionais, além das músicas gravadas horas antes.
Sem a pressão das gravações, os artistas estavam mais soltos, e a música parecia sair com mais naturalidade. A improvisação tomou conta do palco. Em certo momento, L7NNON arriscou um freestyle, com versos que misturavam a jornada pessoal e o espírito da praia, arrancando gritos e aplausos de quem estava por perto.
Falcão comandava tudo com o violão, criando uma espécie de diálogo musical que parecia orquestrado pelo acaso. Vinícius, seu irmão, assumiu o microfone por instantes e mostrou que a afinação é assunto sério para aquela família carioca. Nessa hora, Pedro –filho do cantor do Rappa– já dançava e brincava pelo palco com o “tio” L7.
Com a brisa marinha que refrescava o ar do Preá, Scooby, Bella, Sarah e os artistas mantinham o espírito refrescante do show inicial. Uma das músicas que mais animaram o público nesse bis foi de L7. “Gratidão”, cujo refrão, apropriadamente, dizia: “Se precisasse, eu faria tudo de novo”.
A festa só terminou quando os assessores finalmente convenceram Falcão, L7NNON e companhia de que era hora de guardar o violão e voltar aos camarins, improvisados em uma bela casa de praia a cerca de 200 metros dali. Eles precisavam parar e atender a nós, jornalistas –observadores privilegiados que, ironicamente, acabamos com as vibes indescritíveis para depois ousar descrevê-las.
