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Como o ‘espírito’ de Bob Dylan se apossou de Timothée Chalamet

Como o ‘espírito’ de Bob Dylan se apossou de Timothée Chalamet

'Um Completo Desconhecido' traz uma performance irretocável do ator americano

Estreia hoje, nos principais cinemas do país, “Um Completo Desconhecido”. Dirigido por James Mangold, o mesmo cineasta de “Johnny & June” (2005), brilhante registro da paixão entre o cantor Johnny Cash (1932-2003) e sua mulher, June Carter (1929-2003), a produção é centrada num período específico da carreira de Bob Dylan –vai do início dos anos 1960, quando ele dava seus primeiros passos na carreira artística até 1965, quando trocou o violão pela guitarra elétrica.

O papel principal é vivido por um Timothée Chalamet estalando de talento. Uma das das qualidades de sua interpretação está no fato dele desenvolver sua própria visão de Dylan ao invés de cair na tentação de emular a voz anasalada e os maneirismos do cantor e compositor americano. “Eu sempre deixo meus atores livres para criarem os seus próprios personagens. Afinal, eles estão no patamar onde estão porque têm qualidade”, diz o cineasta James Mangold, em entrevista para a Billboard Brasil. Chalamet, por seu turno, passou os anos da pandemia estudando guitarra e treinando suas habilidades vocais justamente para dar o melhor de si no papel.

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Bob Dylan, para quem não conhece, é um dos principais nomes da história da composição americana e única personalidade pop a ganhar o prêmio Nobel de Literatura. Compôs mais de 600 canções numa discografia composta de cerca de 55 discos. Numa de suas mudanças mais importantes –e polêmicas– ele abandonou a persona de trovador folk para adotar a guitarra. A atitude causou revoltas entre fãs e amigos (um deles, o cantor e compositor Pete Seeger, é retratado com semelhança notável por Edward Norton). Nascido Robert Allen Zimmerman em Duluth, cidade do estado de Minneapolis, Dylan nunca revelou detalhes de sua vida pessoal. Pelo contrário, tinha como costume criar detalhes de sua biografia para confundir fãs e amigos (um deles, retratado no filme, ele conta que aprendeu a tocar violão depois de acompanhar um circo pelos Estados Unidos afora).

Dylan também demonstra pouca empatia pelas pessoas. Em “Um Completo Desconhecido” chega a ser assustador a maneira que ele descarta as pessoas, muitas delas que o ajudaram no início da carreira. “Sim, elas vão ficando assimétricas à medida em que Bob foi crescendo como artista. Porque ele ficou incomodado com tantos pedidos e com a fama”, reconhece Mangold. “Um dos motivos de eu ter criado personagens secundários tão fortes foi porque queria mostrar o impacto deles nas pessoas”, finaliza o cineasta.

“A Complete Unknown” é um trecho de “Like a Rolling Stone”, canção que mudou a história do rock. Primeiro por conta de sua duração –são mais de seis minutos, quando as rádios exigiam singles de no máximo três minutos. Dylan brigou com a sua gravadora porque ela queria que a composição fosse editada. A letra, que fala de uma pessoa da alta sociedade que virou uma espécie de pedinte, também é um dos enigmas da biografia de Dylan. Há várias teorias sobre quem seria essa musa –no entanto, como bem pontua o crítico de música Greil Marcus, o “once upon a time” do primeiro verso (“era uma vez”, em português) dá a pista de que seria uma das muitas histórias falsas que o cantor e compositor criou ao longo da carreira. Além de Chalamet e Norton, há de se destacar Monica Barbaro, atriz que –perdoem o trocadilho– está bárbara pele de Joan Baez.

Assista aqui a entrevista com James Mangold:

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