Como a volta do Forfun diz muito sobre o momento da política brasileira
Grupo anunciou retorno com shows em São Paulo e Rio de Janeiro


Dilma Rousseff, a primeira presidente mulher do Brasil, sofreu um impeachment em dezembro de 2015. À época, o Brasil vinha de anos de uma série de protestos difusos, com uma crítica generalizada contra a classe política.
Em junho daquele ano, o Forfun, uma das bandas de rock que marcou a geração de jovens nos anos 2000, anunciou seu fim após 14 anos. A “aposentadoria” do grupo não tinha um motivo claro, mas a política era um dos fatores.
Nas composições, os temas sociais eram tocados com pouca frequência. O Forfun sempre foi uma banda alegre, que retratava um cotidiano de quatro homens cariocas de vivências parecidas, sem esquecer questões mais estruturais.
Em entrevista publicada no fim da banda, o baixista e vocalista Rodrigo Costa explicou que o grupo tinha um “viés de esquerda”, enquanto ele se aproximou de uma visão mais à direita.
“A gente até tinha concordâncias e discordâncias em relação a diversos assuntos, mas esse de política foi um dos pilares, não foi o fator que levou ao fim, mas foi um dos pilares do tripé que talvez tenha levado ao fim da banda”, disse em entrevista ao jornal Diário do Rio.
No álbum “Teoria Dinâmica Gastativa“, uma das canções tem o nome “¡Viva la Revolución!“. Nenhuma sutileza.
Forfun e a família Bolsonaro
Entre a roda dos amigos do Forfun estavam Eduardo e Carlos Bolsonaro. Eles moravam próximos e, fãs de praia e do surfe, acabaram criando uma amizade.
Tão amigos que muitos fãs acreditam que a música “Melhor Bodyboarder Da Minha Rua“, do álbum “Das Pistas de Skate às Pistas de Dança”, seria homenagem a um dos irmãos. No entanto, o grupo e colegas de música negam que seja verdade.
Mas voltando na relação Forfun e política, a saída da Dilma fez com que Michel Temer assumisse a presidência até 2018, quando o pai de Carlos e Eduardo, Jair Bolsonaro, venceu as eleições e comandou o país por quatro anos.
Desde o fim do Forfun, lá em 2015, Danilo Cutrim, Vitor Isensee, Nicolas Fassano formaram uma nova banda, Braza. Já Rodrigo, que vocalizou apoio a Bolsonaro em 2018 nas redes sociais, lançou projetos solos durante estes anos.
A volta
Em 30 outubro de 2022, após uma eleição acirrada em um país polarizado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Jair Bolsonaro (PSL). Com isso, o petista assumia seu terceiro mandato como presidente do Brasil.
Após a vitória, Lula tentou assumir um discurso de reconstrução e união, uma espécie de resolução das diferenças entre os diferentes.
Esse retorno do PT à Presidência da República causou um ciclo de mudanças na política nacional. 10 anos depois das jornadas de junho, o Brasil retomava um tom político de maior diálogo.
Coincidência, ou não, oito anos depois, o Forfun também “venceu suas diferenças” e, ano que vem, voltará aos palcos para uma turnê especial. Até o momento, duas cidades foram anunciadas: Rio de Janeiro e São Paulo.