Clássico do samba, ‘Oyá’ trocou crítica ao governo Collor na versão final
Canção é referência nas rodas de pagode pelo Brasil


A segunda estrofe da canção “Oyá“, um dos grandes sucessos do samba brasileiro, diz:
“Não haveria motivos pra gente desanimar
Se houvesse remédio pra gente remediar
Já vai longe a procura da cura que vai chegar
Lá no céu de Brasília estrelas irão cair
E a poeira de tanta sujeira há de subir, Oyá”
No entanto, o que ficou eternizado como uma crítica social a classe política brasileira e suas “sujeiras”, seria algo mais pontual. Na verdade, seria uma crítica ao governo de Fernando Collor de Melo, então presidente da República.
Essa é a história que Wilson Prateado, compositor da canção junto com Carica, e Marquinhos Sensação, intérprete da versão original, contam.
“Na verdade, era para ser ‘Lá na ‘Casa da Dinda’ e acho que terminava com ‘o teto está para cair’…, acabamos trocando para essa referência à Brasília”, comenta Marquinhos.
Sem conseguir precisar a data exalta da composição — mais de 30 anos, é bastante tempo para quem tem mais de 600 composições gravadas —, Prateado relembra como “nasceu” o clássico.
“Estava andando pelo Rio e veio a melodia na cabeça. Na época, lembro que os orelhões que faziam ligações para outro Estado eram azuis. Fui num desses e liguei para o Carica. Lembro que tinha isso mesmo da Casa da Dinda, era algo muito forte da política na época, mas não sei bem o porquê trocamos. No final, fez sentido, não é? A música segue bastante atual”.
A afirmação de Prateado faz sentido. “Oyá”, mesmo sendo uma música de crítica social, é presença constante em rodas de sambas pelo Brasil.
Num dos eventos da “Tardezinha”, projeto do cantor Thiaguinho que conta com a direção musical do baixista e produtor, a canção marcou um momento de emoção dos dois.
“Acho que consegui tirar uma foto do Brasil com essa música. O Brasil vive um problema sistêmico de corrupção. Independente de quem esteja no poder, as estrelas de Brasília sempre caem do céu”, finaliza.