Chic conta a história da música pop em show impecável no C6 Fest
Comandado por Nile Rodgers, Chic encerra festival com defile de hits dançantes
A caminho da Arena Heineken, o maior palco do C6 Fest, que encerrou suas atividades neste domingo (25), uma amiga me perguntou: “mas e aí, não conheço esse Chic. Como vai ser?”. Eu respondi: “Vai ser o melhor show da sua vida. Com certeza você conhece Chic”, profetizei.
No final de 1h30 de um um show que mais pareceu uma festa de formatura de altíssima qualidade, performada apenas pelo autor daquele desfile de hits, ela me agradeceu e falou: “você tinha razão, eu amava Chic e não sabia”.
Para quem, como a minha amiga, não situar a importância do Chic na história, aqui vai uma notinha rápida sobre a trajetória desse ícone da música de pista:
Fundada em Nova York em 1976 por Nile Rodgers (guitarra) e Bernard Edwards (baixo, falecido em 1996), a banda Chic se tornou um dos maiores ícones da era disco, misturando grooves irresistíveis, arranjos sofisticados e letras que celebravam o hedonismo da noite. Com hits como “Le Freak”, “Dance, Dance, Dance” e “Good Times”, a dupla não apenas dominou as paradas, mas também revolucionou a produção musical, usando o estúdio como um instrumento.
Sua sonoridade — marcada pelo baixo funk de Edwards e pelos riffs cortantes de Rodgers — influenciou gêneros como hip hop (o sample de “Good Times” foi a base de “Rapper’s Delight”, do Sugarhill Gang, tido como o primeiro rap da história) e a música eletrônica. Apesar do declínio da disco no final dos anos 1970, o Chic manteve seu status como símbolo de sofisticação e groove atemporal. Após a morte de Edwards, Nile Rodgers seguiu carregando o nome e a reputação, além de continuar com seu trabalho intenso produzindo e escrevendo hits para outras bandas e artitas solo gigantescos.
Foi com seu trabalho como produtor e compositor que Rodgers levou sua incendiária habilidade de injetar dançabilidade nos trabalhos de artistas como David Bowie (“Let’s Dance”), Madonna (“Like a Virgin” e “Material Girl”), Duran Duran (“Notorious”), Beyoncé (“Cuff It”), Diana Ross (“Upside Down”), Sister Sledge (“We Are Family”, “Lost in Music”) e Daft Punk (“Random Access Memories”, “Get Lukcy”), entre muitos outros.
Sua assinatura — grooves impecáveis, guitarra funk e uma sensibilidade pop infalível — tornou-se sinônimo de sucesso comercial sem perder a autenticidade artística. Vencedor de múltiplos Grammys e membro do Rock & Roll Hall of Fame, Rodgers não apenas sobreviveu às mudanças da indústria musical, mas as antecipou, provando que a música dançante pode ser, ao mesmo tempo, inteligente e revolucionária.
Dito isso, voltemos ao show no C6 Fest. Vale dizer que foi um grande acerto escalar Rodgers e sua impecável banda para encerrar os trabalhos do maior palco do festival, que antes recebeu o brasileiro Seu Jorge num show que foi de latinidades ao jazz.
Enquanto uma parte do público retornava de outro showzão, da banda Wilco, na Tenda Metlife, o Chic subiu ao palco para, sem preliminares, atacar logo de cara um dos maiores hits da carreira: “Le Freak”. Com duas baita backing vocals ao seu lado, Nile Rodgers soltou o inconfundível “Ahhhhh freak out”, ligando naquele momento o turbo máximo da plateia no modo dança, que só seria desativado quase duas horas depois, com o público chique do C6 Fest sendo submetido a um teste ergométrico de fôlego e repertório de passinhos.
Com um som calibrado de forma inteligente, alto o bastante para que a pressão dos graves atravessassem o Parque Ibirapuera, mas não ensurdecer a ponto de sentir o incômodo dos agudos, o que se viu ali foi uma aula de dinâmica. Aliás, está aí um termo que tem sido abandonado em muitos shows e gravações. Dinâmica é como se chama a variação do volume ou intensidade sonora de uma peça musical. É um elemento fundamental que ajuda a transmitir emoção, criar contrastes e manter o interesse do ouvinte. Seja num DJ set ou num show de estádio, a dinâmica é o que dá brilho e sabor a um grande show. E, no caso do Chic, tivemos uma aula dessa matéria.
Sobre repertório, eu ouso apostar que até os saruês dos Ibira conheciam boa parte das músicas apresentadas como uma metralhadora de hits por Rodgers e sua banda. Entre as autorais do Chic, o bombardeio pop inicial teve “Le Freak”, “Dance Dance Dance”, “Everybody Dance”, “I Want Your Love”. Entre as feitas para outros artistas, o Olímpo do pop: “Notorius” (Duran Duran), “Get Lucky” e “Lose Yourself do Dance” (Daft Punk), Beyoncé, Sister Sledge, Diana Ross, Bowie e Madonna, que, segundo Rodgers, mandou ele enfiar o conselho de lançar “Material Girl” antes de “Like a Virgin” bem naquele lugar. “Só pra me deixar mais humilhado, ela batizou o disco de ‘Like A Virgin'”, disse, com seu largo sorriso característico.
Tente ficar parado ouvindo Nile Rodgers & Chic e apenas falhe 🕺 pic.twitter.com/8BbHNsxWbE
— Acervo (@AcervoMusicalBR) May 27, 2025