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Chappel Roan ama country, mas o country está pronto para amá-la de volta?

Chappel Roan ama country, mas o country está pronto para amá-la de volta?

Cantora mostra amor pelo estilo

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A cantora Chappell Roan

Chappell Roan está pronta para sacudir a cena country com “The Giver”. Após semanas de provocações e uma campanha de marketing nada convencional, a artista confirmou o lançamento da faixa para o dia 13 de março. Mas, por trás do entusiasmo dos fãs e da estética vibrante da divulgação, paira uma grande questão: o country está pronto para abraçá-la ou a reação contrária será tão intensa quanto sua audácia?

Um flerte com o country e a representatividade Queer

No Instagram, Chappell compartilhou uma imagem vestindo um uniforme de construção e revelou seu carinho pelo country: “Tenho um lugar tão especial no meu coração para a música country. Cresci ouvindo-a todas as manhãs e tardes no meu ônibus escolar. Estava presente em fogueiras, supermercados e bares de karaokê”, escreveu.

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Ela continua. “Muitas pessoas perguntaram se isso significa que estou fazendo um álbum country??? Minha resposta é… hmm agora estou apenas fazendo músicas que me fazem sentir feliz e divertido e The Giver é minha versão do country xoxo que as divas country clássicas liderem seu gênero, estou aqui.”

Durante sua apresentação no Saturday Night Live, ela provocou diretamente os “garotos do interior”, declarando que “só uma mulher sabe como tratar uma mulher direito”. O recado é claro: será que os hillbillies realmente entendem a arte da sedução e do amor?

Roan não está apenas tentando entrar no country—ela quer desafiar suas convenções e balançar suas estruturas.

Uma estratégia de divulgação que mistura humor e controvérsia

A divulgação de “The Giver” seguiu uma linha criativa e debochada. Outdoors misteriosos surgiram em Nova York, Los Angeles e Nashville, em parceria com o Spotify. Um deles, na Interestadual 24, em Nashville, mostrava Roan vestida como uma advogada de danos pessoais, acompanhada da frase: “O pior pesadelo do seu ex”. Havia também um número de telefone — 620-HOT-TO-GO — uma referência ao seu hit anterior e a um menu telefônico interativo onde trechos da nova faixa podiam ser ouvidos.

No Instagram, a cantora reforçou a provocação: “P.S.: fique de olho, ela pode estar em um outdoor na sua cidade”. A campanha criou um universo de personagens que promovem a música de forma envolvente, apostando no inesperado para atrair atenção. 

O fim do refúgio: o country não é mais a última chance. É uma oportunidade!

Por trás do burburinho, Chappell Roan pode estar pisando em terreno instável. O country tradicional não costuma receber bem artistas que desafiam suas convenções e a história já mostrou que ousadia pode custar caro. Durante anos, o gênero foi visto como uma última tentativa para estrelas pop em decadência buscarem um rebranding e uma nova base de fãs — embora essa transição quase nunca tenha sido bem recebida.

A exceção fica para Aaron Lewis, vocalista do Staind, que conseguiu se estabelecer no country por meio de uma transição gradual e de seu alinhamento com os valores tradicionais do gênero. Mais recentemente, Post Malone mergulhou no country não como uma jogada de marketing, mas porque genuinamente ama o gênero. Ele foi aderindo ao “Nashville way” de fazer música, tocando com a banda de Dwight Yoakam e gradualmente solidificando sua presença na cena country. Seu álbum “F-1 Trillion” foi um sucesso, provando que uma transição para o country pode acontecer organicamente quando há respeito e autenticidade.

Chappell Roan, por outro lado, chega sem rodeios, sem pedir licença e sem nenhuma intenção de se encaixar no molde. Mas, como Lainey Wilson disse recentemente: “Country is cool again”. Uma frase que soa menos como um tributo ao gênero e mais como o tilintar de caixas registradoras, acompanhadas do entusiasmo de executivos prontos para capitalizar sobre qualquer bandeira ou causa, desde que venda bem.

O preço da ousadia pode ser alto. Em 2003, as Dixie Chicks foram “banidas” das rádios country após criticarem o então presidente George W. Bush em meio à guerra do Iraque. Sua carreira foi severamente impactada, mostrando que a indústria country não perdoa quem pisa fora da linha.

Entre provocação e rejeição: o caminho de Chappell Roan

Chappell Roan pode estar trilhando um caminho tão ousado quanto incerto. Além de inserir uma narrativa Queer explícita no country e adotar uma estética vibrante e performática, ela também se posicionou publicamente a favor da Palestina, tema especialmente sensível entre os tradicionalistas dos EUA.

A grande questão permanece: seu humor afiado e sua abordagem provocativa abrirão novas portas para ela e outros artistas que seguem na mesma direção? Ou apenas reforçarão as barreiras da indústria?

No fim das contas, se a resistência for maior que a renovação, quem realmente sai perdendo é a própria música.

O futuro de Chappell Roan no Country

Será que “The Giver” conseguirá furar a bolha country ou será engolido pelo backlash? A comparação com kd lang é inevitável. Nos anos 80 e 90, a icônica cantora canadense enfrentou resistência na cena country por seu estilo excêntrico e por ser abertamente lésbica.

Atualmente, artistas como Orville Peck e Brothers Osborne vêm abrindo caminho para a inclusão LGBTQIA+ no country, mas a indústria ainda responde a essa diversidade com um aperto de mão frio e um sorriso ensaiado. Há uma diferença entre desafiar tradições com tato e escancarar as portas de botas, vestindo um visual que parece feito para provocar reações. Chappell Roan, por sua vez, não demonstra interesse em sutilezas: já deixou claro que os “garotos do interior” não sabem tratar uma mulher.

Novo olhar para o Country

“A única verdadeira viagem de descobrimento consiste não em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.” A frase é do escritor francês Marcel Proust. Embora ele não estivesse falando diretamente do amor, sua frase se encaixa perfeitamente aqui: cada um enxerga e experimenta o amor de forma única e subjetiva. Talvez seja justamente essa diferença de percepção que torne tão incerta a recepção de Roan no country.

Se “The Giver” conseguir furar a bolha, pode sinalizar um avanço significativo para artistas Queer no country. Caso contrário, apenas consolidará ainda mais as barreiras, ampliando a divisão dentro do gênero. Talvez, se a abordagem fosse mais universal — sem diluir a identidade ou a força de Chappell Roan — ela não apenas encontraria seu espaço, mas também abriria novos caminhos em vez de erguer mais muros.

No entanto, essa movimentação vai além de uma simples disputa por pertencimento. Pode tanto redefinir as fronteiras do country quanto impulsionar o crescente buzz sobre a migração do pop para o gênero—um fenômeno que, pelos números, está longe de perder força.

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