fbpx
Você está lendo
Capacitismo e descaso: as dificuldades encaradas pelas PCDs no The Town

Capacitismo e descaso: as dificuldades encaradas pelas PCDs no The Town

Público avaliou experiência na primeira edição do evento em São Paulo

Avatar de Isabela Pacilio
The Town 2023

O The Town foi o assunto nas redes sociais nas duas últimas semanas. A primeira edição do festival aconteceu no Autódromo de Interlagos em São Paulo. Além da música, o evento propôs diversos serviços para melhorar a experiência de fãs com deficiência e deixar os shows mais acessíveis para que todas as pessoas se divirtam. O que deu certo e o que deu errado com a acessibilidade no evento? A Billboard Brasil conversou com o público no The Town, que se dividiu entre elogios e críticas ao festival.

A localização da Central PCD foi um ponto negativo do evento. O atendimento foi colocado ao lado do palco New Dance Order, que ficava do lado oposto aos palcos principais, o Skyline e o The One. A distância era significativa e só havia esse posto de informação, suporte e fornecimento de cadeiras de roda ou kit livre para pessoas com deficiência.

VEJA TAMBÉM
FDB 23 jpg

“Isso foi uma coisa ruim, ter só um ponto. Quem estava ali dentro era bem informado e eles me auxiliaram no que precisei”, elogiou a publicitária Kate Furlanetto, de 40 anos. “Mas as pessoas espalhadas pelo festival ou outros pontos de referência [para ter informações], ou bombeiros e staff, foi fraco. Era sempre uma galera que não estava sabendo de nada ou dava uma informação errada.”

“Tenho mobilidade reduzida, não é tão extrema como para outras pessoas, mas caminhadas muito longas, dependendo [do terreno], sendo íngreme, sobe, desce, na chuva, poder escorregar, cair, e agrava muito a situação.”

Kate Furlanetto registrou experiência no The Town nas redes sociais
Kate Furlanetto registrou experiência no The Town nas redes sociais (Instagram)

Kate elogiou bastante as estruturas destinadas ao público PCD. “O pessoal de apoio e de serviço [de comidas e bebidas] vinham em cima da plataforma, ficou fácil para todos nós. No The One, apesar da distância, porque era mais longe, pelo menos você via o palco inteiro. Isso foi bom. No Skyline era mais perto, mas muito lateral. No Factory, vi que ele estava na frente de um declive, então tinha zero chance de alguém ficar na sua frente, nem precisaram fazer plataforma.”

Outro ponto positivo foi o transfer com veículos e vans acessíveis, que fazia o translado do shopping SP Market até o autódromo. A volta, porém, prejudicou os fãs que dependiam do transporte público para ir para casa. A estação Jurubatuba, que fica ao lado do local, estava aberta somente para desembarques no sábado (2). No domingo (3), a ViaMobilidade comunicou que a estação funcionaria 24 horas, assim como a estação Autódromo.

Kate Furlanetto registrou experiência no The Town nas redes sociais
Kate Furlanetto registrou experiência no The Town nas redes sociais (Instagram)

Nem tudo foram flores

A influenciadora Mariana Torquato, de 31 anos, precisou ligar para a polícia durante o festival para poder ter acesso à plataforma PCD em um dos palcos. Ela foi barrada por não ter a pulseira necessária para entrar na área – mas, para pegar a pulseira, ela precisaria ir até a Central PCD, do outro lado do autódromo.

“Eu entrei como convidada de uma marca e por outro portão. Falei que não fazia sentido ir até lá, no meio do show, para provar algo que estava visível. A mulher falou que ali não era para mim, que era somente para cadeirantes e pessoas com baixa visão. Eu falei que era meu direito e que era para todas as pessoas com deficiência”, explicou.

Mariana foi abordada por um produtor do festival, que teria argumentado que a área PCD seria “um favor do evento”. Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), locais de espetáculos e similares devem oferecer assentos e espaços adaptados, com boa visibilidade, e permitir a acomodação de, no mínimo, um acompanhante, além de incentivar treinamentos das equipes para o atendimento deste público.

https://www.instagram.com/p/Cw1C2xINtv8/

Ela criticou também a falta de fiscalização e limpeza dos banheiros com acessibilidade (já que pessoas sem deficiência estavam usando) e a distribuição da pulseira ser feita apenas próxima ao portão de entrada para pessoas com deficiência.

“É uma segregação. Eles não acreditam que possamos ir ao festival como convidados de marca e entrando por outros portões. Os PCDs têm que entrar no cercadinho deles, no portãozinho deles, e lá tem a pulseirinha deles e sem pulseira não entra na área. Não adianta você mostrar a deficiência, não adianta ter duas próteses na perna. Foi absurdo e só me deixaram entrar porque o meu tom era de alguém que já estava falando para a polícia o nome do produtor e o palco.”

No Instagram e no Twitter, mais pessoas deram seus relatos. O atleta Vinicios Sardi publicou um vídeo falando sobre a experiência no festival. Ele também foi impedido de entrar na área de PCDs, mesmo com duas próteses nas pernas.

“Estou muito triste com o festival que prometia inclusão. Segundo eles, a minha deficiência não é prioridade e sendo assim eu tenho que ficar em pé. Evento nada acessível, nada foi pensado para as pessoas com deficiência”, escreveu o skatista.

Procurada pela Billboard Brasil, Thiago Amaral, coordenador de pluralidade da Rock World, comentou as questões enfrentadas na primeira edição do The Town. Em relação à localização da Central PCD, ele explicou que a distância era necessária.

“A localização foi pensada estrategicamente para que todas as pessoas tivessem acesso assim que entrasse no evento. No mesmo espaço tínhamos a sala sensorial para auxílio a pessoas com autismo, que é necessário que seja em um ponto mais isolado e silencioso. Podemos ter novos pontos de apoio, mas a central está localizada corretamente”, afirmou.

O The Town avaliou a experiência como mais positiva, apesar das críticas terem tomado uma proporção maior. “Identificamos mais elogios que críticas, mas como se trata da primeira edição de um novo festival, iremos reavaliar a operação para melhorar ainda mais para a próxima edição”, disse Thiago. “A acessibilidade faz parte do nosso compromisso com a pluralidade, mesmo em um terreno complicado, buscamos oferecer adaptações para facilitar a experiência de pessoas com deficiência, que para a próxima edição será entregue ainda melhor.”

https://www.instagram.com/p/CwvkpHVOmIh/

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.