As mulheres na música muito além do WME, premiação em parceria com a Billboard
Iniciativa se estende à conferência, banco de talentos e consultoria
Feito por mulheres e para exaltar o trabalho feminino no universo da música, o WME mantém um compromisso com essa causa que não se limita apenas ao prêmio, realizado nesta quinta-feira, 14, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Desde a primeira edição, a responsável por conduzir as homenagens foi –e continua sendo– Preta Gil. A cantora descreve a parceria como um “privilégio” e nem mesmo a pandemia ou os problemas de saúde enfrentados por ela, diagnosticada com câncer no reto em janeiro deste ano, afastaram-na da premiação.
“Ao longo destes últimos anos, o WME foi ganhando muito corpo e alcançou o status de um instrumento de transformação na vida de quem passa por aquele palco –sejam as indicadas, as premiadas, ou mesmo todos que conseguem enxergar essa disruptura”, celebra a mestre cerimônia do prêmio, que acontece anualmente.
São 17 categorias, com 85 mulheres concorrendo. O objetivo é exaltar tanto as profissionais que estão no palco quanto aquelas que atuam nos bastidores.
Para Claudia Assef, organizadora do prêmio ao lado de Monique Dardenne, Preta tem um papel insubstituível no WME e “praticamente ajudou a construí-lo”. “Ela sempre nos traz muitas ideias importantes e assertivas, além de ter um olhar carinhoso com a nossa plataforma. A Preta estar com a gente neste ano, depois de tudo o que aconteceu, é algo que reflete o afeto que ela sente por nós. Entendemos que ela tem e sempre teve muita vontade de fazer parte desse projeto, e a presença dela, por si só, significa resiliência, empoderamento e força.”
Não para por aí
A iniciativa de reconhecer a atuação de mulheres na música não se limita ao prêmio. A organização do WME promove um evento de quatro dias, que antecede a premiação, onde o público pode ter acesso a palestras, masterclasses e workshops com profissionais do mercado. A capacitação de mulheres para trabalhar no universo da música e o consequente aumento da representatividade dessas profissionais é um ponto essencial para o projeto.
O Women in Music Event Conference acontece em paralelo ao prêmio, desde a primeira edição. O evento conta com uma série de bate-papos voltados para mulheres que atuam na música, desde as funções técnicas até os bastidores. “A gente entende que é uma forma de transformar o mercado”, defende ela. A intenção da conferência é proporcionar uma experiência imersiva para o público.
Na edição deste ano, o evento, que aconteceu na região central de São Paulo, contou com 4,5 mil participantes e teve shows abertos ao público. Apresentaram-se nomes como Drik Barbosa, Tássia Reis e Rachel Reis, além de ter sido palco do último show da carreira da banda Mulamba.
De dentro para fora
Para seguir na tentativa de mudar o sistema de dentro para fora, a equipe do WME fundou o Selo Igual, a fim de conduzir a formação igualitária de eventos musicais. “Nós oferecemos uma chancela que é concedida para iniciativas, empresas, gravadoras, distribuidoras e agências do mercado musical”, explica Claudia. O título é dado para quem mantém pelo menos 50% de sua equipe formada por mulheres.
O selo também atua em festivais de música, incentivando a equidade na programação. No último novembro, por exemplo, ele foi um dos responsáveis pelo line up 100% feminino do festival Rock the Mountain, que aconteceu em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro, no mês passado.
“É feita uma verificação minuciosa de documentações das empresas, do objetivo de cada festival. Quem cumpre os critérios recebe a certificação.” Além do Rock the Mountain, o Selo Igual foi dado ao Se Rasgum, em Belém, e ao Bananada, em Goiânia.
Somado a isso, a equipe do WME ainda dispõe de uma consultoria, a Manas a Mais. É um time especializado em prestar apoio para empresas e festivais de música que estão interessados na inclusão de mulheres. No Rock the Mountain, por exemplo, elas foram a responsáveis por garantir que cem mulheres estivessem trabalhando nos bastidores do festival.
Segundo a Claudia, há um pensamento comum de que é difícil encontrar profissionais mulheres para atuar em eventos de música, como produtoras, handlers, advogadas… e a lista continua. Essa ideia acaba deixando o mercado cada vez menos diverso. “Nossas iniciativas funcionam como uma forma de diminuir a facilidade que essa ideia tem de dominar as decisões dos contratantes.”
Uma das formas que o WME usa para combater esse lugar-comum é manter um banco de profissionais, que pode ser acessado via aplicativo ou pelo site oficial. Ele apresenta filtros personalizados, com os quais é possível buscar candidatas por região ou por profissão, reunindo todas as áreas de atuação disponíveis. O cadastro para participar do banco de dados pode ser feito por qualquer mulher do Brasil. “É a nossa forma de diminuir essa desculpa tão usada por empresas do mercado.”