Viúvo, Andreas Kisser quer falar de luto: ‘A morte é nossa maior professora’
Guitarrista do Sepultura organiza festival dedicado a Patrícia Kisser
Após perder sua mulher, Patrícia Kisser, em julho de 2022, Andreas Kisser encontrou um novo propósito em sua vida: celebrar a sua companheira de longa data através do Patfest, festival de música em sua homenagem, e desmistificar a visão das pessoas sobre a morte e os processos que podem antecedê-la.
“A partir do momento que um fato desses acontece, como foi com a minha família, eu me senti extremamente despreparado para lidar com essas coisas”, contou o guitarrista do Sepultura em entrevista a Billboard Brasil.
Patrícia morreu em decorrência de um câncer de cólon aos 52 anos. “Inventário, funeral. Um monte de coisa que a gente evita falar no dia a dia, e que se a gente discutisse com mais tranquilidade, dava se preparar um pouco melhor.”
“Em seus últimos dias, comecei a questionar a razão pela qual as pessoas não falavam sobre eutanásia. Eu sei que no Brasil é ilegal, mas no caso da Patrícia, era um caso clássico, por ser uma doença incurável (…) Sobre eutanásia, e cuidados paliativos, se tivéssemos uma discussão um pouco mais ampla na sociedade sobre esses assuntos, poderíamos estar mais preparados não só como cidadãos, mas os próprios médicos os hospitais, que poderiam trazer à tona as possibilidades”, desabafou.
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A reflexão fez com que Andreas se conectasse, por meio de amigos do grupo Os Pitais, que são artistas que se apresentam em hospitais pelo país, em busca de grupos, informações e indivíduos que pudessem o auxiliar a falar sobre a morte e os processos que podem antecedê-la.
O estudo resultou no Movimento Mãetricia –apelidado dado carinhosamente por João Gordo, do Ratos de Porão– que propõe essa conversa de forma sincera, ajudando as pessoas a lidarem com o luto, e pensarem sobre o fim inevitável da vida.
Além do Movimento, o guitarrista trouxe a música para esse processo de luto ao criar o Patfest, evento que reúne diversos cantores e membros da equipe técnica que eram amigos do casal.
Kisser relembra que Patrícia pediu um evento em comemoração após a primeira fase de sua quimioterapia ter ido bem, no entanto, não conseguiu ver o resultado da festa.
No próximo dia 25, o evento apresenta a sua segunda edição em São Paulo, com apresentação de Serginho Groisman, e participações de nomes como Nando Reis, Samuel Rosa, Dinho Ouro Preto, entre outros.
O valor arrecadado com os ingressos vai para a Associação Favela Compassiva, instituição que apoia pessoas em comunidades que estejam no fim de suas vidas, e ajudando suas famílias. Ingressos aqui.
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“Eu percebi que a morte é um elefante branco na sala do Brasil. As pessoas vão guardando isso, e às vezes escondem isso até da terapia”, Andreas afirma, contando que muitas pessoas o escrevem para falar de suas situações, inspiradas pela iniciativa que ele criou.
Ele também afirma que, tirar o preconceito sobre esse assunto pode incentivar as pessoas a viverem de modo mais presente. “Tínhamos que falar sobre isso desde a educação das crianças, porque pode acontecer a qualquer momento. Não é só idoso que morre (…) A morte é nossa maior professora.”
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