Vintage Culture se consolida como o maior DJ brasileiro da atualidade
DJ lançou seu primeiro álbum, 'Promised Land'
Pela primeira vez desfrutando férias de 30 dias desde que começou a tocar, há 12 anos, Vintage Culture poderia estar
em qualquer lugar do mundo, mas escolheu ficar em sua casa, em São Paulo, de papo para o ar. Na verdade, esse descanso merecido na vida do DJ, produtor musical e empresário Lukas Rafael Hespanhol Ruiz tem pausas para o trabalho. Ele tem conseguido, sim, maratonar séries, mas, entre uma rodada de episódios e outra, viaja para tocar e fazer eventos de aquecimento para o lançamento de seu primeiro álbum, “Promised Land”, que acaba de ser lançado.
“Foi aquela coisa, eu inventei as minhas férias. Aí, contratantes começaram a vir com propostas altas, e eu estou meio que bancando meu álbum sozinho, fazendo videoclipes e tal. Estou fazendo um clipe com o mesmo cara que faz os do Gorillaz, e isso custa caro para caramba. Toquei umas três ou quatro vezes neste mês”, explica o músico, nascido em Mundo Novo (MS) –e que agora é um cidadão do mundo.
O break nas viagens precedendo o lançamento do álbum se explica: “Ah, eu acho que a idade chegou, né? A tour vai ser muito intensa. Eu preciso ficar um mês, pelo menos, quieto. Tenho um cachorrinho novo agora e queria passar um tempo com ele. Decidi ficar no conforto da minha cama assistindo… Nossa, você vai rir de mim, mas estou assistindo a ‘Grey’s Anatomy’”, conta o DJ, que ganhou fama por sets longos e por entrar na mesma vibe de seus ardorosos fãs, curtindo, bebendo e cantando as músicas como um autêntico inimigo do fim.
Aos 30 anos, Vintage chegou a um nível de prestígio internacional inédito para um DJ brasileiro. Claro que existem nomes extremamente cultuados lá fora, como o DJ Marky, nossa estrela maior do drum’n’bass. E também DJs de muito sucesso, como Alok, ídolo em países como a China, sem falar na mulher-maravilha do techno, a DJ ANNA, há anos radicada na Europa e produtora de remixes para artistas como o Depeche Mode.
Mas, quando se fala em Vintage Culture, o sucesso não é só de público, que o procura nos line ups dos maiores festivais do mundo e transforma suas produções musicais em grandes hits. Vintage se tornou também um DJ adorado por outros DJs, tanto pelos ultraconsagrados no mainstream, como Tiësto, David Guetta e Martin Garrix, quanto por aqueles que pautaram suas carreiras na house music mais underground, como Pete Tong e Solomun.
Para entender como se cria um DJ de sucesso como Vintage Culture é bom deixar claro que nada cai do céu. Ele começou a produzir músicas aos 15 anos, com um computador simples, dado pelo pai. Como não tinha internet em casa, ele ia a lan houses baixar programas de produção musical. Aprendeu sozinho.
As primeiras faixas foram lançadas em 2013 e logo chamaram a atenção pelos timbres oitentistas, influência de suas bandas do coração: New Order, Depeche Mode, Tears for Fears, Pet Shop Boys, Duran Duran, além de brasileiros como Cazuza e Tim Maia.
Naquele ano, ele explodiu com um remix de “Another Brick in The Wall”, do Pink Floyd, lançado para download gratuito pelo selo Só Track Boa, label que ele criou com um grupo de amigos de Curitiba. O projeto era um misto de site, podcast e gravadora e hoje se tornou uma marca gigante no universo da música eletrônica, com festas pelo Brasil todo, marca de roupas e um festival que não para de crescer. A próxima, e maior edição, será nos dias 14 e 15 de junho, na Neo Química Arena, o estádio do Corinthians, em Itaquera.
Com uma habilidade fora do normal de produzir músicas que orbitam entre o mainstream e o underground, Vintage estourou e, com pouco mais de dois anos de carreira, ele já estava viajando pelo mundo de jatinho para tocar em dezenas de países, do Egito à Espanha. Em 2015 lançou a série de vídeos “On The Road”, uma espécie de diário de bordo com os bastidores e as zoeiras de suas turnês. Ele credita a esses vídeos o início de seu relacionamento sério com os fãs.
“Eles me aproximaram da galera, porque era tudo muito verdadeiro. A gente fazia até umas bobagens que hoje em dia não caberia, sabe? E, querendo ou não, a galera gostava de ver. Ainda gosta, só que o mundo mudou”, pondera. O fandom chegou a níveis de idolatria que incluem tatuagens de seu rosto marcando a pele dos mais devo- tos.
“A primeira vez que vi fiquei assusta- díssimo. Olha a responsabilidade. Eu tenho que andar na linha, porque, se um dia eu decepcionar as pessoas, elas têm a minha cara tatuada. É coisa de Ayrton Senna, esse nível, sabe?”, afirma, com olhar pensativo.
A postura descontraída na cabine, tocando sempre rodeado de amigos, tomando seu drinque, às vezes tirando a camisa e jogando para o público, faz com que as pessoas se sintam próximas do ídolo. “Não gosto de ser colocado num pedestal. Tenho fãs homens e mulheres e sinto um carinho muito grande deles comigo. Me levam pre- sentes, viajam quilômetros pra me ver. Eles se sentem como se fossem meus amigos, e isso é muito legal”, resume.
“Acho que, quando uma pessoa tenta esconder o que ela é, uma hora dá muito ruim, a máscara cai. Também tem esse fator, né? De ser da galera. Eu gosto de tocar muito. Quando estou tocando, eu me sinto parte da festa, quero me sentir conectado”, diz.
Nesse contexto, tocando em grandes arenas e estádios com seus fãs e amigos, o DJ chega a cumprir maratonas de 9, 12, até 14 horas tocando. “Meu padrão de set é de três horas, a não ser que seja um festival com horário muito rígido, mas gosto de tocar muito tempo e sempre trago músicas novas. Não consigo me imaginar tocando sempre a mesma coisa”, define.