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Um guia para leigos dos palcos e dos DJs atrações do Tomorrowland Brasil

Um guia para leigos dos palcos e dos DJs atrações do Tomorrowland Brasil

De DJ Marky a Alok, festival de música eletrônica tem várias músicas eletrônicas

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guia para leigos tomorrowland

A edição brasileira do festival belga Tomorrowland é uma curadoria sem fim dos maiores nomes (em ascensão e consolidados) da eletrônica mundial. Para o fã desse gênero, já é difícil acompanhar e saber quem é quem. Para o fã de música alheio ao estilo, o desafio é ainda maior já que a genética desse megazord chamado “música eletrônica” se prolifera de forma quase que orgânica, muitas vezes de difícil catalogação para quem vê “eletrônica” como um só amontoado de nomes e estilos.

Para você ter uma ideia, a atração brasileira Baskhar (irmão de Alok e famoso pelo hit “Fuego”) fez um set para o No Front: Sessions tocando muita coisa diferente do que os sucessos que o enquadram na categoria mais popular da eletrônica. Você pode saber mais sobre o No Front: Sessions ao final deste texto.

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Dito isso, eis aqui a nossa tentativa de situar quem deseja ou viver a experiência de profusão de nomes neste festival-rave —ou situar quem apenas quer uma… situadinha amiga.

Os headliners do festival e o palco Mainstage

Podemos começar com os headliners, por exemplo. Por serem as atrações mais populares do festival, também flertam muito mais com a música comercial que circula também nos limites do pop mundial. O belga Yves V se apresenta na sexta (11) e seu principal sucesso é “Not So Bad”, um cover-remix para o hit “Thank You”, de Dido —que também foi sucesso com o rapper Eminem em “Stan”. Por essas linhas, você pode também compreender como funciona o palco Mainstage, onde o belga tocará às 18h40. Tanto o artista quanto o palco podem ser enquadrados em uma caixa chamada EDM (ou eletronic dance music) —é como se fosse a MPB da eletrônica; tem de tudo, inclusive muita coisa diferente, mas sempre flertando com o padrão de música pop.

É o palco do remix, onde você reconhecerá muitas das referências que ali serão apresentadas sob variadas releituras.

Normalmente, o público do palco Mainstage tende a celebrar música da mesma forma que o fã de música do Rock in Rio quando depara-se com o Palco Mundo: ele está ali para viver as sensações mais esperadas dos artistas mais populares e famosos do mundo. Por isso, ainda que não seja uma regra, a maioria dos hits desse palco será muito parecida com o formato das canções mais cantadas pelo mundo pop. Por vezes, como nesse set do headliner Timmy Trumpet, a estética visual se aproxima mais de ícones do atual pop e rock do que necessariamente do que se tem ideia do eletrônico.

Mas, veja só, como isso não é uma regra, apenas uma das possibilidades: ma mesma sexta, quem toca às 22h é a brasileira ANNA —uma das brasileiras mais requisitadas e respeitadas do mundo. ANNA cresceu em uma discoteca que assumiu como residente já na adolescência —ou seja, é uma ratíssima de pista. Para além disso, desdobrou sua carreira para a música ambient e passou a criar atmosfera mais densas em sua música, afastando-se bastante de qualquer possibilidade de seus singles mais recentes soarem como artistas como o mencionado Yves V ou como o holandês Armin Van Buuren —que toca logo após ANNA— ou também como nomes de melodias solares como Cat Dealers (que toca na tarde de sábado) ou do pop excitado de Stevie Aoki, atração do domingo (13).

Nomes como Alok, Axwell, Dimitri Vegas, Hardwell também são atrações desse palco e aguardados ansiosamente para perfomances que tendem a conquistar quem busca familiaridade com o som eletrônico a partir de referências conhecidas previamente.

Os queridinhos no palco Core

O palco Core separa os monstros dos monstrinhos. Se no Mainstage lá estão, quase sempre, devoradores de grande fatia da música eletrônica popular, no palco Core estão os candidatos que tentam fazer isso há menos tempo —e, por isso, assim fazem de uma forma diferente dos antecessores. Por vezes, estão mais instigados a fugir do mais comercial, sendo “comercialmente certeiros”.

Dois dos grandes nomes desse palco, por exemplo, são brasileiros de duas referências imensamente diferentes. Vintage Culture, por exemplo, nasceu em uma pequeníssima cidade do Mato Grosso do Sul querendo soar como os artistas de pop-synth como Information Society e New Order —tornou-se um dos maiores nomes do tech-house, subgênero mais ácido e também mais próximo do underground do que dos praticados pelos convidados do Mainstage. Ele é quem encerra o palco no domingo.

O outro é Mochakk, DJ de Sorocaba, interior de São Paulo, que usou o tech-house para fazer prevalecer sua inclinação ao funk e às milhares de referências que pesquisa para além da música eletrônica. Seu set passeia por vocais de funk, trilhas de jazz, acapellas de gêneros distantes e, por isso, tornou-se um dos nomes mais requisitados de uma galera que gosta de um inferninho e também de festivais. Ele toca imediatamente antes de Vintage no mesmo palco.

Uma as atrações desse palco é uma junção (inédita no Tomorrowland Brasil) das produtoras Badsista e Ellen Allien. A primeira é já uma monstra para quem acompanha a música eletrônica popular brasileira: já tocou em todo tipo de lugar, do mais sujo ao mais glamuroso e, desse jeito, faz sua música. Ellen Allien é alemã e por ser um dos maiores nomes de Berlim, percebeu na parceria com a brasileira a chance de se conectar com uma artista que caminha em direções muito afim tecnicamente. Elas tocam às 21h30 no sábado.

CESRV é imediatamente um nome que, como esses, apontam possibilidades muito diferentes a partir do nome “música eletrônica”. Responsável por lançamentos que já são considerados icônicos do hip hop recente, o produtor é um dos donos do abrasileiramento do grime londrino, que aqui transformou-se em “brime”. Sua produção seca é também certeira, abre espaço para rimadores versáteis como Febem e, de quebra, criou um estilo próprio. Ele abre o palco às 13h do sábado.

Um outro destaque é o maior nome do palco na sexta, Bonobo. Se você perceber, ao lado do seu nome, no line up, estará “(DJ set)”. Isso confirma que o produtor inglês irá tocar como DJ e não como vinha recentemente fazendo ao se apresentar como um líder de um banda que, elétrica, apresentava-se com bateria, guitarra, baixo e metais. Explorador de novas possibilidades, ele incursionou em perfomances com banda para experimentar formatos que o expandissem. Por isso, interessante poder voltar a vê-lo como DJ e, por isso, com novas sensações para dar guardadas manga.

Os exploradores no palco Tulip

No palco Tulip o fenômeno de descida de degrau na popularidade já não é mais tão relevante. Sim, alguns artistas são bem menores do que os que estão nos palcos anteriores, mas a barra não é só de popularidade. Um dos pontos mais exaltados na música eletrônica é também a história e a capacidade de captar referências. É neste palco que alguns nomes possuem as idades e histórias mais discrepantes e, ao mesmo tempo, habitam o mesmo neurônio da tentativa de explorar tendências.

O maior nome deste palco, mais uma vez, é o brasileiro DJ Marky. Um dos maiores DJs do mundo, Marky é um fenômeno de técnica e responsável por botar a música periférica brasileira em destaque quando se tornou nome proeminente do drum and bass —um gênero londrino que explora sotaques jamaicanos do dub e do reggae— e em que Marky acrescentou o Brasil dentro. Um dos seus maiores sucessos contém sample de um hit de Jorge Ben e Toquinho, mas o produtor tornou-se mais do que um hitmaker da fórmula e, sim, um ícone da música eletrônica preta brasileira e mundial. Para se ter ideia dessa dimensão, antes de tocar, às 18h30 no sábado, para uma imensidão no festival, ele toca em uma pequena casa de Santo André, o Red Light Duplex, com capacidade de 200 pessoas, referência de curadoria eletrônica de São Paulo a preços populares, muito distantes dos praticados para ser ver raves como as que produz o DJ paulistano.

Já que falamos em rave, essa é uma das pegadas do palco. Aqui, quase sempre, o BPM está acelerado e vai brincando para 160, 170, 180 batidas por minuto. Para uma base de comparação, as músicas mais ouvidas do Brasil neste momento giram em torno de 70 batidas por minuto (como “Só Fé”, do goiano Grelo, produtor eletrônico de piseiro e serestas) ou 113 BPM (como o funk “A Danana Me Ligando”, de DJ Oreia). Ou seja, é bateção de cabeça, passinhos muito rápidos e, principalmente, uma vibe também mais próxima do clima de rave —por muitas vezes, psicodélica (soturna ou solar).

É o caso de Nico Moreno. O francês se amarra em uma estética robótica de rave e pontua a bateção de estaca com vocais de rap —o que torna tudo muito envolvente. Por horas, como em “Pressure”, de seu mais recente EP em colaboração com Sara Landry, a coisa parece ir do trance ao trap de forma muito interessante. Ele toca às 20h no domingo.

Mas como já vimos nesse texto, o Tomorrowland Brasil não padroniza —ainda bem— essas características. Na sexta às 17h30, por exemplo, no mesmo palco, toca Mess Salomé, holandês de BPMs bem mais lentos, com mais inclinação para a disco music. Esse é o palco que subgêneros mais ácidos, psicodélico ou às vezes mais duros tomam conta como o progressive house, o drum and bass e o hard techno.

No Front: Sessions

Uma prévia do Tomorrowland Brasil está rolando em nosso programa especial No Front: Sessions. Duas atrações do festival já passaram por lá: Baskhar e Jessika Brankka —com direito a B2b.

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