Entrevista: Anitta fala sobre jornada espiritual e dupla identidade
Cantora é homenageada no Latin Women in Music 2025


Poucas artistas personificam o significado da evolução como Anitta. A superestrela brasileira, assumidamente ela mesma e destemida, expandiu as fronteiras da música latina global com sucessos em três idiomas diferentes – um feito sem precedentes entre as estrelas pop modernas.
Como vencedora do primeiro Prêmio Vanguard no evento Latin Women in Music 2025 da Billboard – celebrando uma artista que corajosamente trilha seus próprios caminhos — Anitta continua a provar por que está em uma categoria à parte.
Por meio de suas músicas trilíngues de funk carioca, reggaeton, afrobeat e pop efervescente, a cantora elimina a barreira entre culturas enquanto celebra suas raízes brasileiras no cenário mundial, como evidenciado em seu álbum de 2024, “Funk Generation”.
Com diversas músicas alcançando a cobiçada Billboard Hot 100 – como “Envolver” na 70ª posição, “Bellakao” com Peso Pluma na 53ª posição ou, mais recentemente, “São Paulo” com The Weeknd na 43ª posição – Anitta continua a trilhar novos caminhos na música e na cultura pop global.
“Já convivi com muitos artistas. Vou te contar – aposto na Anitta todos os dias”, disse Rebeca León, sua empresária e amiga de longa data, à Billboard. “Ela consegue cantar por seis horas seguidas, e suas apresentações de Carnaval são as experiências mais incríveis.”
Mas a trajetória de Anitta não foi definida apenas pela música. Após anos vivendo na correria, a artista, nascida Larissa de Macedo Machado, agora está abraçando sua vulnerabilidade e se voltando para seu lado mais espiritual. “Anitta é uma persona que ela criou”, explica León, referindo-se aos desafios pessoais que a artista enfrentou. “Larissa é o lado mais suave de Anitta.”
Essa introspecção está no cerne de “Larissa: O Outro Lado de Anitta”, seu documentário de 2025 na Netflix que explora a mulher por trás do ícone, sua jornada de cura e sua decisão destemida de abraçar seu verdadeiro eu, após passar por problemas pessoais.
Nesta entrevista, realizada no início de abril (uma semana após seu aniversário), Anitta reflete sobre sua dupla identidade, sua missão de levar o funk carioca ao cenário global e sua jornada contínua de abraçar cada parte de si mesma — sensual, espiritual e tudo o mais.

Billboard: Anitta, antes de mais nada, feliz aniversário atrasado! Como você comemorou este ano?
Anitta: Adoro comemorar meu aniversário. Somos tão abençoados por estarmos vivos, temos que comemorar. Este ano, comecei com um ritual. Aqui no Brasil, meu pai, meu irmão e eu seguimos as tradições iorubás. Mas também adoro incorporar o budismo e o hinduísmo à minha vida. A primeira festa foi um ritual xamânico com um xamã que me guia na vida. Convidei Krishna Das para fazer um kirtan – uma prática [de canto] com mantras – e ele se apresentou na minha casa. Krishna Das é um ótimo cantor. Adoro as músicas dele. Foi realmente especial.
No segundo dia, dei uma festa com uma banda que adoro. Depois, no outro dia, fiz outro show em casa com uma banda de reggae que adoro. Depois, viajei. Todos os anos, meus astrólogos me dizem onde devo passar meu aniversário durante o meu retorno solar, então sempre o celebro em um lugar com base na orientação deles. Este ano, fui para Fernando de Noronha, um grande [arquipélago] no Brasil.
Parabéns por ser escolhida para receber o Prêmio Vanguard no evento Latin Women in Music da Billboard — como é ser reconhecida dessa forma?
Estou muito feliz. No ano passado, também recebi um prêmio no Brasil por lutar por mudanças. Filmes, música, livros – e entretenimento em geral – podem [servir como catalisador para] mudanças em nossa cultura e vidas. Um filme popular ou um tipo de música pode mudar completamente o comportamento das pessoas. Sempre tento aplicar essa ideia ao meu trabalho. Seja por meio dos meus videoclipes, dos meus discursos, dos meus dançarinos, das minhas roupas ou até mesmo em entrevistas – sempre tento chamar a atenção para coisas que realmente acredito que as pessoas precisam [perceber]. Eu sigo o fluxo, mas também tento mudar um pouco o fluxo. No início [da minha carreira], tudo girava em torno [de promover] o empoderamento feminino, porque eu via muitos homens cantando sobre mulheres de uma forma [que implicava] que eles podiam fazer tudo, enquanto as mulheres não.
O documentário “Larissa: O Outro Lado da Anitta” mostra tantos momentos incríveis, desde o Carnaval do Rio até o amor de infância, passando pelo mergulho mais profundo na sua espiritualidade. Agora que você está mostrando ao mundo quem é Larissa, como é navegar por essas duas identidades – a pessoal e a artística?
Isso era algo que eu realmente queria fazer. Temos acompanhado a vida de outras pessoas nas redes sociais e acreditamos [no que vemos]. Achamos que [essas vidas são] perfeitas. Dizemos a nós mesmos: “Ah, eu queria ser assim. Não nasci com sorte”, ou “Preciso de um carro novo, de uma casa nova. Preciso de mais”. Mas, na realidade, não é disso que precisamos, porque estamos nos comparando a vidas que não são reais. As mídias sociais mostram apenas partes da vida das pessoas. Não mostram como elas conquistaram o que têm, como se sentem mentalmente ou suas pressões e dificuldades.
Eu queria usar este filme para mostrar às pessoas que não é assim. Todo mundo passa por dificuldades, e você pode se identificar com a minha vida, mesmo que ache que ela é perfeita. No fundo, somos todos iguais. Eu queria mostrar que, para alcançar sucesso, dinheiro ou qualquer coisa que você esteja buscando, você precisa trabalhar muito duro. A internet hoje dá a impressão de que tudo é fácil, que você não precisa trabalhar ou estudar — você simplesmente consegue. Mas eu queria mostrar que, não, o sucesso tem um custo alto. Precisamos de inspiração, mas também não tem problema ter esperança.
No ano passado, você causou impacto com seu álbum “Funk Generation”. Qual a importância de levar o funk carioca para o cenário mundial?
Essa foi a experiência do baile funk. Foi importante porque eu realmente acredito que esse ritmo tem o poder de ser a próxima onda. Eu também adoro afrobeat, e o funk carioca tem raízes que remontam a isso, da África, do Bambata. É por isso que parece similar. Achei muito importante levar essa cultura para o mundo. Nos apresentamos em tantos países, e quando todos apareceram, foi superespecial. Me senti tão forte e empoderada no palco, representando esse ritmo e sua energia.
Acho que a sensualidade também é uma parte essencial de quem eu sou — algo de que nunca vou me arrepender ou desistir. Às vezes, quando falo sobre espiritualidade, como mantras que amo ou que espero desenvolver um dia, as pessoas pensam que vou parar de fazer [as outras partes]. Perguntam se vou parar de ser sensual ou parar de dançar como faço no funk. Mas não há necessidade de separação; fazer uma coisa não significa que você não possa fazer a outra. É o oposto, na verdade. Precisamos abraçar todas as partes de nós mesmas — a sensualidade, a espiritualidade e o poder que sinto quando estou cantando funk e dançando. Isso me faz sentir tão poderosa, tão especial. Fiquei muito feliz com aquela turnê.
Suas apresentações de Carnaval, com horas de duração, têm sido elogiadas por sua alta energia e talento artístico. Como você se prepara física e mentalmente?
Mentalmente, é o mais difícil. Pode acabar com a sua mente se você não estiver pronto, porque há muito barulho, muita gente, muita energia. Você tem que fazer um acordo consigo mesmo e entender [o que é preciso] para lidar com isso, porque pode ser complicado com todos os altos e baixos.
Fisicamente, [a preparação] é importante. Eu estava viajando e trabalhando muito, mas quando decidi ficar no Brasil por um tempo, fiquei mais saudável porque pude estabelecer uma rotina. O corpo gosta de rotina. É importante dar estrutura ao seu corpo durante os dias entre os shows. No Carnaval, me apresentei todos os sábados e domingos por dois meses, passando de quatro a cinco horas no palco a cada vez. [Para sustentar isso,] você precisa manter uma rotina forte durante a semana.
Ao embarcar nesta nova fase da sua jornada, o que você espera que os fãs levem de te ver como Larissa?
Estou tentando não ter pressa. Eu costumava sempre tentar entregar. Sabe, aquela ansiedade que vem de grandes empresas e pessoas que esperam resultados, números e retornos. Mas agora percebi que quanto mais agimos em modo de sobrevivência, menos obtemos. É difícil criar algo verdadeiramente novo e impactante quando você tem pessoas ao seu redor perguntando: “Qual é o próximo passo? Então, o que vamos fazer? Qual é o plano?”. Agora estou apenas tentando silenciar [essas vozes] e tentando ser confiante e seguir meu coração.
Uma coisa que sempre fiz na minha carreira foi confiar [na minha intuição]. Mesmo que todos os outros estivessem indo para a direita, eu iria para a esquerda. Eu não me importava em esperar anos para que essa decisão desse resultado. Eu continuava insistindo na esquerda porque essa era a direção com a qual eu me sentia bem. Em algum momento, comecei a perder essa confiança porque muitas pessoas ao meu redor estavam pressionando por resultados imediatos. Mas agora, estou tentando manter essa mentalidade. Não me importo se todos os outros estão indo para um lado. Se eu sentir que este é o caminho certo, vou continuar assim, não importa o que aconteça.
[Esta lista foi traduzida da Billboard dos EUA. Leia a reportagem original aqui.]