Em “Querelas do Brasil”, Elis Regina canta que “o Brasil não conhece o Brasil”. Pois foi essa sensação que tive quando eu e meus
sócios, Rodrigo Amar e Alan Trope, conhecemos o Sua Música, em agosto de 2013: o de um país que, muitas vezes, não entende o potencial musical e comercial do Nordeste. A criação do site, em 2010, surgiu dessa necessidade de conhecimento. Ele foi desenvolvido por Éder Rocha, fã de forró, para artistas do gênero ansiosos por compartilhar seus repertórios e gravações num único lugar.
Os próprios artistas, aliás, sempre foram responsáveis pelo upload dos álbuns e das canções, além de cuidarem da divulgação. Meus sócios e eu viemos de startups de tecnologia. Mas, quando vimos o Sua Música, paramos tudo. Penso que se eu estivesse trabalhando na Som Livre ou na Universal, eu não teria comprado o Sua Música. Teria acreditado na máxima “o Nordeste não vende CD”, ou que a distribuição gratuita das músicas pelos próprios artistas era pirataria. E, por conta do preconceito, jamais trabalharia com uma plataforma como essa.
O estalo do potencial comercial do Sua Música se deu ainda naquele 2013: eu estava em meio a 30 mil pessoas em um show dos Aviões do Forró, em Ipojuca, Pernambuco. Era uma terça-feira. E eles tinham mais 30 shows a fazer somente naquele mês. Isso mostrou que havia um ecossistema gigante de música independente —e, ainda por cima, fazendo uso da plataforma.
O Nordeste sempre foi inovador, e o Sua Música já nasceu respeitando as táticas desse mercado.
Quando o Napster veio dizimando a indústria, o forró se reinventou. Uma fortaleza que faz jus ao sistema montado lá atrás pelo Emanuel Gurgel, que criou o Mastruz Com Leite, comprou as rádios, as casas de show e, pra- ticamente, inaugurou uma nova fase no forró (depois viria a A3, com os Aviões do Forró, quando já se entendia que o CD podia ser dado, e não mais vendido). Hoje, a gente faz parte dessa história, sendo uma plataforma gigantesca na qual esses artistas sobem suas músicas.
Com o tempo, desenvolvemos o Sua Música Digital, que coloca as faixas dos artistas nas outras plataformas, além de fazer o marketing daa música e cuidar da monetização, pagando os royalties de volta aos artistas. Por fim, a editora ajuda os compositores a cadastrarem suas músicas e serem pagos por elas.
A história do Sua Música tem duas fases: de 2010 a 2018, a pla- taforma viu nomes como Wesley Safadão, Mano Walter, Aviões do Forró, Simone e Simaria, Jonas Esticado e Léo Santana, entre muitos outros, que cresceram usando o site; depois, virou uma distribuidora, que revelou nomes como Zé Vaqueiro, João Gomes, Nattan, Tarcísio do Acordeon, Japãozin, Vitor Fernandes.
Conseguimos identificar talentos de forma muito rápida.
Um exemplo recentíssimo é Evoney Fernandes, influenciador de Palmas, que lançou um disco na terça-feira de manhã e, à tarde, nós já sabíamos que os números estavam decolando —assinamos o contrato para distribuí-lo já na quinta-feira. Respondemos todos os artistas que entram em con- tato conosco porque, às vezes, não há dinheiro para a gravação de um disco ou mesmo falta algo até para acessar a plataforma. O próprio Japãozin, hoje um fenômeno, chegou a nós por meio de um olheiro .
O Brasil existe além do Itaim Bibi e do Leblon. Criar conteúdo diariamente, botar a música no vídeo, fazer as pessoas ouvirem. Esse deve ser um canal para divulgar a própria música. Canso de ver artista novo e, quando olho o Instagram dele, o cara não tem um conteúdo divulgando a música dele. Esse é o tipo de artista que ainda pensa que o empresário ou a gravadora vai resolver a vida dele.
Precisamos aprender com o Nordeste.
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