Fazendo sua estreia no Carnaval de Salvador, Ju dos Santos, cantora, compositora e potiguar, é uma mulher trans negra que tem se destacado como forte incentivadora da inclusão de artistas T na música. Em entrevista exclusiva à Billboard Brasil, ela celebrou esse momento histórico em sua trajetória:
“Minha primeira vez no Carnaval de Salvador e minha primeira vez no Expresso 2222. Eu tô muito honrada, muito realizada, porque ser uma mulher trans e receber um convite desses para cantar com uma banda maravilhosa, composta só por mulheres, é uma abertura de caminhos. É uma estreia de muito sucesso, e eu fico feliz!”.
Na terceira noite do Expresso, Ju fez questão de homenagear os 40 anos do axé music com um repertório especial, incluindo clássicos do Ilê Aiyê como “Pérola Negra” e “Negrume da Noite”.

“Escolhi um repertório em homenagem aos 40 anos do samba reggae e aos blocos afros, que representam toda a minha descendência, minha raiz, meu ori, minha cabeça. Canto duas músicas que são verdadeiros clássicos do Carnaval baiano, recebendo as bênçãos da minha mãe Iemanjá.”
Quem também abrilhantou o palco do Expresso 2222 foi Raquel Virgínia. Após sua última participação no Carnaval de Salvador com a banda As Baías e a Cozinha Mineira, a cantora retorna em ascensão na carreira solo. Seu mais recente lançamento, “Consumo”, em parceria com o cantor baiano O Poeta, tem conquistado rádios da Bahia.
“Eu fiquei muitos anos fazendo MPB, que inevitavelmente atinge grupos culturais diferentes. Mas no caso do Poeta, a música está em primeiro lugar nas rádios de Salvador, e isso é muito significativo. As pessoas estão pedindo a música nas rádios! A música da Bahia, para mim, é absurdamente fundamental. Eu acho que a música baiana é a base da música brasileira.”
Além de celebrar seu momento na carreira, Raquel Virgínia reforçou a importância da representatividade trans no Expresso 2222 e no Carnaval de Salvador.

“A Ju dos Santos e eu sermos as participações de hoje é algo muito importante, porque existe uma tentativa global de impedir que pessoas trans sigam suas vidas com dignidade. Nesse sentido, a arte tem a função de seguir o caminho oposto. Então nós estamos aqui, seguindo. A escolha do Expresso 2222 em ter uma banda de mulheres no palco é um posicionamento super importante. Hoje, me sinto honrada em fazer parte desse momento do entretenimento brasileiro.”
Além dos shows internos do Camarote, a noite também foi marcada pela passagem dos trios de Luiz Caldas, considerado o pai do axé music, e pelo desfile do Cortejo Afro, que prestou uma homenagem especial ao Expresso 2222.
Entre os convidados no Camarote estavam Luana Xavier, Thaís Carla, Clara Buarque, Sasha Meneghel, João Figueiredo, Francisco Gil, Sol de Maria, entre outros.