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Por que você deveria ver um show de Paul McCartney (pela 1ª ou pela 7ª vez)

Por que você deveria ver um show de Paul McCartney (pela 1ª ou pela 7ª vez)

Ex-beatle se apresenta com sua 'Got Back Tour' em São Paulo e no Rio

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Caro leitor da Billboard Brasil,

Se você não viveu a beatlemania, eu poderia passar este texto elencando feitos de Paul McCartney para te convencer da experiência que é vê-lo tocar e cantar ao vivo. Se você é uma pessoa jovem desavisada, eu poderia resumir dizendo que o rapaz de Liverpool alçado ao posto de Sir do Império Britânico é a Taylor Swift que atravessou gerações, o homem que andou para que a loirinha pudesse voar. Mas permita-me aqui fazer deste um texto extremamente pessoal. Na noite passada (9), eu decidi encarar a multidão que lotava o Allianz Parque para ver um show do Paul. Meu sétimo show do Paul. E mesmo sabendo mais ou menos o que iria acontecer no palco da “Got Back Tour”, vivi uma das noites mais intensas e memoráveis desses meus quase 40 anos de vida.

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Era 2010 quando Paul McCartney anunciou sua primeira vinda ao Brasil após o show recordista no Maracanã em 1990. Lembro bem da correria para comprar os ingressos para vê-lo no Morumbi. Todos temíamos que o músico passasse outros 17 anos sem pisar em terras brasileiras (ele havia se apresentado em São Paulo e Curitiba em 1993). Acabei indo na segunda data aberta, que se tornou a primeira. Vi ali o espetáculo mais grandioso e poderoso que a música poderia proporcionar. Em 2011, foi a vez do Rio: no primeiro show do Engenhão, fretei uma van, enchi de amigos e levei minha mãe, que se acabou de dançar ouvindo as músicas “do tempo” dela, que ela me ensinou a amar. No dia seguinte, estava lá de novo, claro. Quando teríamos um beatle de novo no quintal de casa?

Em 2012, eu havia comprado passagens para passar o feriadão de Páscoa no Recife quando começou um burburinho de que Sir Macca se apresentaria lá. Eu era repórter no jornal “O Globo”, liguei para Deus e o mundo, até que um deputado me confirmou a informação: Paul tocaria no Estádio do Arruda bem nas datas em que eu estaria na cidade. E lá fui eu de novo. Por que não?! Tudo bem que entre uma turnê do Paul e outra a diferença é pouca, é verdade. Àquela altura já havia decorado até as piadinhas e as falas ensaiadas em um português adorável. Mas falamos de um senhor de idade que carrega boa parte da história da música sobre os próprios ombros, e ele não tem por que se dar a invencionices. Ele inventou a música como conhecemos, afinal.

Dois anos depois, vi o Paul tocar para o menor público no Brasil até então: fui uma das 14 mil felizardas a estar no então HSBC Arena, no Rio, para vê-lo ainda mais de pertinho, de um jeito quase intimista —barrado apenas pela surpresa que ele fez recentemente no Clube do Choro, em Brasília, para cerca de 200 felizardos. Em 2018, estava eu novamente no Allianz. Logo depois veio a pandemia e o mundo mudou para sempre. Eu mudei para sempre. Quando o homem confirmou que traria sua “Got Back Tour” eu pensei: “ah, que legal, mas acho que dessa vez não vou”. ‘ bom de multidão, né? Seis shows do Paul McCartney já era um currículo e tanto na minha carreira de espectadora musical.

Mas ontem, sábado, 9 de dezembro (um dia depois do aniversário de 43 anos da morte de John Lennon, reparou que não teve show?), acordei pensando que, se não visse Paul ao vivo (sim, mais uma vez) eu me arrependeria. E lá fui eu atrás de ingresso. Consegui. Vi aquele script que meio que sei de cor (a sequência “Blackbird”/”Here Today” com fotos de John por todo o palco, ou “Let Me Roll It”, dos Wings, emendada com “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix), com algumas surpresas belíssimas.

Como o “dueto” de Paul com John em “I Got A Feeling” (obrigada, Peter Jackson), a inclusão da singela “In Spite of All The Danger” (primeira gravação dos Beatles) no setlist, ou o trio de metais, o Hot City Horns (Paul Burton, trombone, Kenji Fenton, saxofone, e Mike Davis, trompete) enfiado no meio da arquibancada, enquanto o restante da excelente banda (formada por Paul “Wix” Wickens no teclados, Brian Ray, no baixo/guitarra, Rusty Anderson, na guitarra, e o carismático Abe Laboriel Jr, na bateria) esmerilhava no palco.

Mas a maior diferença entre esse show para todos os outros, e que justificava a minha presença pela sétima vez ali, era extremamente pessoal. A maior diferença era eu, quem eu fui, quem eu sou. Foi o primeiro show de um ex-beatle no Brasil depois que meu pai morreu, no ano passado. Meu pai, que amava tocar “Let it Be” e “The Long and Winding Road” no violão e insistia para que eu cantasse com ele. Junto com a Dona Marize, a senhora minha mãe, foi seu Greco que me incutiu o amor pela música desde a mais tenra idade.

Foi ouvindo as músicas dos Beatles e as histórias dos meus pais sobre a juventude no auge da beatlemania que eu me apaixonei por música. Por mais que ele detestasse minha decisão de estudar Jornalismo em vez de Direito (ah, o sonho do concurso público dos baby boomers), foi por causa dele, da minha mãe, e de John, Paul, George e Ringo que eu estava ali. E que eu estou aqui, escrevendo este relato.

Na noite de sábado, no Allianz Parque, eu fui daquelas pessoas que muitos criticam, de celular para o alto, registrando cada momento. Mas foi por um bom motivo: para dividir com a minha mãe (obrigada, tecnologia) que, emocionada, disse que jamais poderia imaginar que os filhos dividiriam com ela a paixão dos Beatles. Incrédula e emocionada, mesmo que eu já tenha passado por isso outras seis vezes.

Estar frente a frente a um dos quatro Beatles (também tive o prazer e o privilégio de ver Ringo Starr ao vivo), mais do que um espetáculo que explica a história da música como a conhecemos, é estar diante da minha própria história. É resgatar um amor imenso, um amor que não morre, um amor que vai estar para sempre dentro de mim.

Até a próxima, Paul.

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Paul McCartney cumprimenta os fãs brasileiros ao chegar no Allianz Parque (Manuela Scarpa/Brazil News)

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