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Por que desfile do Vai-Vai irritou a polícia e os bolsonaristas? Carnavalesco explica

Por que desfile do Vai-Vai irritou a polícia e os bolsonaristas? Carnavalesco explica

Ala em homenagem aos Racionais levantou reclamações

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São Paulo. Dia 10 de fevereiro. 23h30. O Vai-Vai inicia seu desfile no Anhembi com o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”. A apresentação é uma homenagem aos 40 anos da cultura hip hop no Brasil, tendo o rap como principal personagem dessa história.

Em uma das alas, o Carnavalesco Sidnei França homenageia o álbum “Sobrevivendo No Inferno” (1997), dos Racionais MCs. Aliás, o nome do enredo leva o nome de uma das canções do álbum do grupo formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. A referência se dá por meio de policiais militares, segurando um escudo com a palavra Choque, e vestidos como demônios, com chifres na cabeça e tudo.

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Foi o suficiente para uma série de reclamações por políticos bolsonaristas na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e organizações de classe da polícia paulista.

“O Vai-Vai conseguiu transformar em visualidade, em narrativa carnavalesca, expressão de cultura popular. Sem desrespeitar a voz de insurgência, o debate, a analise da cultura periférica e do sujeito periférico”, resume Sidnei, classificando o desfile da escola, que após subir ao Grupo Especial conseguiu se manter na elite do Carnaval paulistano, como muito bem sucedido.

A referência

Com seu objetivo alcançado, tendo feito referência ao álbum dos Racionais de forma justa, Sidnei vê nas críticas uma sequestro político do debate.

Nesse caso, o Carnavalesco se diz admirador do debate e das discussões. Porém, segundo ele, a discussão é meramente eleitoreira.

“É inegável que a polícia militar é motivo de debate por quem vive nas periferias. O álbum do Racionais é de 1997, e até hoje as letras fazem sentido. A crítica, o debate, é algo que faz parte do Carnaval, inclusive. Agora, o que está acontecendo com o Vai-Vai é a instrumentalização da pauta para fins eleitoreiros. É você usar uma parcela conservadora da população para isso”.

Uma das canções do álbum “Sobrevivendo no Inferno” se chama “Diário de Um Detento”. A letra, escrita por Mano Brown e pelo então detento Josemir Prado, conta sobre a vida no cárcere do Carandiru e sobre o Massacre no presídio, em 1992, que resultou na morte de 111 presos.

O início da canção (São Paulo / Dia 1º de Outubro / 8h da manhã / Aqui estou mais um dia…) é um do mais famosos da música brasileira e foi adaptado por Brown para o Carnaval. O rapper desfilou junto com seus companheiros de grupo com o carro de som do Vai-Vai e abriu o desfile se referindo ao local, data e hora da apresentação.

Grita

Dois dias após o desfile, o Sindicado dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota de repúdio criticando a escola de samba do Bixiga. O Sindpesp classificou a ala como um “escárnio a figura de agentes da lei”.

O Governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que daria nota zero para a agremiação e classificou a aula como um “deboche” a PM.

A ação contrária mais recente veio de deputados bolsonaristas da Assembleia Legislativa de São Paulo. Capitão Augusto (PL) e Dani Alonso (PL) enviaram um ofício ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) pedindo que a prefeitura e o Governo do Estado não repassem verbas públicas ao Vai-Vai.

Em resposta, o prefeito disse que vai analisar o pedido dos bolsonaristas. Ele também entrará em contato com a liga das escolas de samba sobre o tema.

O Vai-Vai divulgou nesta sexta-feira (16) uma nota afirmando que seu desfile buscou homenagear todas as expressões culturais do hip hop. Além disso, a escola afirma que o álbum “Sobrevivendo no Inferno” foi destaque em vestibular e virou livro.

“O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram”, diz trecho da nota.

Sidnei acredita que as pressões que o Vai-Vai está sofrendo não impactarão no próximo Carnaval.

“Eu quero acreditar que não [haverá retaliação]. Não há motivo para isso. O contexto está claro, nosso trabalho foi muito fiel à obra”.

O trabalho do Carnavalesco agradou o Vai-Vai, que renovou seu contrato para o desfile de 2025.

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