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Pioneira do rap feminino, Sharylaine conheceu Sabotage em copiadora

Pioneira do rap feminino, Sharylaine conheceu Sabotage em copiadora

Cantora e ativista conversou com a Billboard Brasil sobre a carreira

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O hip hop no Brasil fez 40 anos. Nos últimos, o gênero cresceu exponencialmente, impulsionado por artistas como Emicida, Criolo, Karol Conká, Drik Barbosa e Marcelo D2. A geração atual é liderada por Tasha & Tracie, figurinha carimbada nos grandes festivais. MC Luanna, Ebony, Duquesa e mais artistas se destacam no gênero.

A história do rap feminino começou lá atrás e muita gente não conhece as pioneiras do movimento. Sharylaine é uma delas. Nascida na Zona Leste de São Paulo, a cantora conquistou espaço em um ambiente dominado por homens no final da década de 1980. A rapper foi uma das fundadoras da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop e hoje segue usando a voz na luta do protagonismo feminino.

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A família da compositora sempre foi musical. O pai era puxador de escola de samba, alguns primos tocavam pandeiro e sanfona. “Mamãe cantava pique Elza Soares”, ela conta em entrevista para a Billboard Brasil.

“Meu pai não deixava ir para o baile. Minha irmã inventava que ia na casa das amigas e me levava junto. Ficava com a turma dela, nesse período da soul music. Tenho essa lembrança de ficar no meio da roda, com eles dançando com aqueles blacks gigantes.”

Sharylaine cresceu e começou a trabalhar com o tio “discotecário” José Augusto nos bailes. Ela e as amigas abriam os eventos, quando chegava pouca gente, até o público chegar em peso e as funções serem assumidas pelos funcionários.

“A gente ficava na revista, na bilheteria, no caixa do bar”, relembra a produtora. “Eu pedia para o meu tio se eu podia tocar naquele comecinho. Aquelas músicas que ninguém dança, porque as músicas boas mesmo o DJ ia tocar na hora que a casa estivesse cheia. E não podia repetir música, tinha todo um ritual.”

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City Lee e Sharylaine, as Rap Girls (Foto: Arquivo pessoal)

O começo de tudo

O amor pelos discos só cresceu. Sharylaine conheceu os integrantes da Nação Zulu e se interessou mais pelas fitas de rap. Um dia, convidou a prima, City Lee, para aprender uma das músicas e dividir os trechos.

“Eu pedi para o meu tio deixar a gente cantar em uma das casas que ele tocava. Ele deixou e foi um estouro. Não parei mais”. As duas formaram um duo Rap Girls e lançaram a primeira música em 1986 (ouça abaixo).

A rapper frequentava o centro para pagar as contas, comprar roupas e se atualizar das novidades dos bailes e da música. Foi na Galeria do Reggae, na rua 24 de Maio, no centro de São Paulo, onde encontrou os primeiros LPs para criar as bases das rimas.

“Procurava instrumental, porque produzir era muito caro. Tinha que dar a sorte de não ter uma base repetida no baile, a gente corria esse risco”, diz a compositora.

“Quando eu comprava, eu perguntava: ‘Quantos discos desse tem?’. Então às vezes eu comprava dobrado e tapava o rótulo, acrescenta. O objetivo? Claro, deixar a base no looping no ao vivo, mas também para ninguém mais encontrar aquele disco.

A cantora ressalta que o centro de São Paulo sempre foi um lugar de encontros, onde a cultura black pulsava. Era lá também onde as festas e eventos eram divulgadas e tinham os ingressos vendidos.

“Esses locais são importantes para essa reconexão. Não só com a cultura, mas entre as pessoas. Eu conheci o Sabotage lá. Era uma época que não tínhamos muitas informações e eu fui até o centro para registrar minhas letras no cartório de notas. Precisava fazer cópias e só tinha uma copiadora na Galeria do Rock. Tinha uma fila e ele estava lá, me reconheceu. Eu ainda não o conhecia pessoalmente e conversamos um pouco”.

A luta segue

Além disso, Sharylaine diz que a primeira geração do rap brasileiro foi impecável no quesito união. “A gente tinha troca, se ajudava. Um indicava o outro. Acho que isso mudou quando a indústria dos CDs chegou. Começou uma separação de quem tinha música estourada, quem tinha LP gravado.”

Com quase 40 anos de carreira, a rapper comemora a conquista do rap em grandes festivais, nas rádios e programas de TV, além do estouro no gênero nas redes sociais –principalmente de nomes femininos.

“Me sinto muito feliz e realizada através delas, porque não foi à toa que a gente apanhou lá atrás. Para isso acontecer, a gente brigou. A vitória delas é a minha vitória”, diz.

“A questão é que não é só ficar nelas, isso tem que ser ampliado. O machismo imperava e ele continua do mesmo jeito. Mas isso não vai me esmorecer, vai me dar mais força para continuar a luta.”

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