‘Para de Fofoca’: o ‘edit vascaíno do Vegetti’ que viralizou com uma ‘Urubuzinha’
Um argentino, uma dançarina flamenguista e um remix carioca para um hit de SP
Era agosto de 2023: um desconhecido atacante aportava em um confuso Club de Regatas Vasco da Gama. Era Pablo Vegetti, um centroavante argentino, de 34 anos, comprado do Belgrano por R$ 5,4 milhões. Àquela altura, o clube já havia dado motivos suficientes para o torcedor acreditar que o ano estava perdido. Os torcedores também: em troca e em resposta às atuações no Brasileirão, morteiros foram parar no gramado após derrota para o Goiás e São Januário, estádio do “Gigante da Colina”, ficou impossibilitado de receber jogos com público por quatro jogos e o Tribunal de Justiça do Rio determinou a interdição da casa cruzmaltina — o motivo, ao final, não foram os morteiros, mas uma justificativa considerada racista do juiz Marcelo Rubioli.
A derrota para o Corinthians, por 3×1, pela 17° rodada, anunciava que o atacante argentino só tinha uma coisa a fazer se quisesse ser lembrado positivamente em um ano como aquele: gol. O atacante estrearia no jogo seguinte, contra o Grêmio, em São Januário. A dez minutos do final, adivinha, gol de Vegetti. Era o primeiro gol dele pelo Vasco e, para ter uma noção da fase cruzmaltina, o primeiro gol do time em seu próprio estádio na competição nacional. Raçudo e goleador (ele marcaria mais nove gols depois do tento de estreia), o argentino caiu nas graças da torcida.
Dentre as diversas manifestações de amor ao querido, pipocou, no Twitter e no TikTok, então, o seguinte edit — “edit” é a forma carinhosa como a geração Z chama algumas montagens em vídeo que, geralmente, prestam algum tipo de tributo — em homenagem a Vegetti:
GOOOOOOOOOOOOOOOL DO VEGETTIII
PARAAAA DE FOFOCAAAAAAA pic.twitter.com/lZOgmVGPgP
— Cariocão Deprê (@RJFutDepre) February 24, 2024
A “Urubuzinha”, o 130 BPM e o 160 BPM
Estrelado pelo atacante e por uma carioca de arroba “md.julie”, o vídeo popularizou-se e, como tudo orgânico na internet, a explicação não está nas camadas mais superficiais. Até porque, se estivesse, talvez não fizesse tanto sucesso. Por exemplo: a menina que baila no vídeo ao som de “Para de Fofoca” é flamenguista roxa (que, inclusive, ganhou o apelido de “Urubuzinha”):
A menina do edit do Vegetti não é vascaína.
A nossa vida foi uma mentira kkkkkkkkkkkkkkkkkk. pic.twitter.com/3nEWUnxplu
— Fut Brasileirão. 🇧🇷 (@futbrasileirao_) February 28, 2024
Depois, a canção do MC Vuk Vuk já havia sido lançada, com relativo sucesso, bem antes da chegada de Vegetti ao Vasco. E mais: a versão original da canção explora a estética da vertente “automotivo” que, apesar de muito popular em São Paulo, não cola muito no Rio de Janeiro.
No final de 2023, no entanto, duas versões de “Para de Fofoca” surgiram. E mais: a família vascaína já esboçava um certo otimismo com a possibilidade de o trabalho do técnico argentino Ramon Diaz consolidar-se como salvador de um ano perdido. E mais um pouco: o Vegetti continuava brocando. E ainda mais: uma versão de “Para de Fofoca”, feita pelo DJ paulistano Guilherme Duarte, emergiu com o título “Hit do Tik Tok – Para de Fofoca”, nascia para entrar para a história. É uma versão acelerada (e carioca) dessa produção, em 160 BPM, que traria ainda mais para frente os batuques criados por Guilherme.
O que era assim, em 130 BPM
ficou assim, em 160 BPM:
Inimigos sim, rivais também
Bom, então temos um vídeo em homenagem a um atacante argentino que é uma colagem de outros vídeos (um deles, inclusive, protagonizado por uma rubro-negra) e que, de quebra, ainda é um remix carioca aceleradíssimo para um funk de São Paulo.
Com o sucesso, os rivais do Vasco também pegaram uma casquinha da fórmula.
O Fluminense:
https://t.co/HMqkZ0UdQ0 pic.twitter.com/b684g9hSoh
— Thaisa ᶠᶠᶜ ✝️ (@Thaisaffc_) February 28, 2024
O Botafogo:
realidade: o do tiquinho esmurra esse edit mixuruca do coitado do vegettipic.twitter.com/5VJWPbziJF https://t.co/PxYHXOQ3WX
— ؘ (@minjifoguda) February 29, 2024
Mas a questão é que a fórmula original (cheia de acasos e surpresas) já estava na mente da galera. Como disse, por exemplo, o usuário @allah_andy, resumindo a situação por completo:
Por que o “Para de Fofoca original” é insubstituível?
1º que é o Original.
O Som é uma merda
O Funk é a putaria líquida
Não foi intenção dela fazer isso
E tem o Plot do Vegetti do Vasco DO NADAA!Sério, tudo que vem após isso é uma bosta, não adianta tentar copiar! 😂😂😂😂 pic.twitter.com/4ydN3kJnKu
— Andy (@allah_andy) February 28, 2024
O vascaíno (e também DJ e pesquisador) William de Abreu, por exemplo, rechaçou as novas versões uma vez que, bem, o molho já estava servido com a Urubuzinha mesmo:
O que pessoal não entende que além do molho que a urubuzinha possui a mais das outras é que, toda a montagem de edição do gol do vegetti ritmada com os tons graves do beat, faz a diferença e deixa mais fluído o vídeo.
Por isso é diferente e mais foda. https://t.co/cA61iY2nkz
— 𝕽𝖆𝖘 𝖅𝖎𝖒𝖇𝖆𝖍 🇷🇪 (@Tranzimbah) February 29, 2024
A verdade é que os vascaínos consagraram a rubro-negra e tiktoker @md.julie em um caso de união “flasco” que só pode ser explicado pela capacidade de um verdadeiro hit.