Morre Jards Macalé, ícone da MPB
O cantor e compositor Jard Macalé morreu aos 82 anos. O falecimento foi comunicado por meio de suas redes sociais. Ele estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste do Rio, onde tratava um enfisema pulmonar. Nesta segunda-feira (17), o artista sofreu uma parada cardíaca.
A mensagem em seu Instagram diz:
“Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando “Meu Nome é Gal”, com toda a energia e bom humor que sempre teve. Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade.”
Jards Macalé – vida e obra
Jards Macalé, nome artístico de Jards Anet da Silva, nasceu no Rio de Janeiro em 3 de março de 1943 e tornou-se uma das figuras mais singulares, inquietas e inovadoras da música popular brasileira. Sua trajetória reúne experimentações radicais e parcerias com alguns dos nomes mais marcantes da cultura brasileira.
Formação e primeiros passos
Criado na Tijuca, perto do Morro da Formiga, cresceu em um ambiente onde diferentes linguagens musicais conviviam naturalmente. O pai tocava acordeom, a mãe tocava piano e cantava, e o jovem Jards foi exposto simultaneamente a valsas, música popular, ritmos afro-brasileiros e paisagens sonoras da rua. Na adolescência mudou-se para Ipanema, onde recebeu o apelido que carregaria por toda a vida artística: “Macalé”.
Ele estudou com alguns dos mais importantes professores e maestros do país: orquestração com Guerra-Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, violão com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno, além de análise musical com Esther Scliar. Essa formação plural o conduziu por caminhos que dialogavam tanto com o samba quanto com o jazz, a bossa nova, a canção política e a vanguarda.
Anos 1960 e 1970: ruptura e experimentação
Macalé iniciou a carreira profissional acompanhando o Grupo Opinião e dirigindo musicalmente shows de Maria Bethânia. Em 1969 protagonizou um dos momentos mais comentados no IV Festival Internacional da Canção ao apresentar “Gotham City”, parceria com José Carlos Capinam, cuja performance provocadora gerou reações intensas do público.
Nos anos seguintes firmou sua identidade de artista avesso a modismos. Em 1972 lançou seu primeiro LP solo, um disco que misturava rock, samba, bossa nova, elementos experimentais e arranjos ousados, consolidando seu lugar no campo da invenção. Depois vieram trabalhos como Aprender a Nadar (1974) e Contrastes (1976), obras que expandiram ainda mais sua estética híbrida.

Parcerias e repertório
Macalé cultivou colaborações profundas com poetas e compositores como Waly Salomão, Torquato Neto e Capinam. Dessas parcerias nasceram canções emblemáticas como “Vapor Barato”, “Mal Secreto” e “Rua Real Grandeza”. Suas composições foram gravadas por intérpretes como Gal Costa, Maria Bethânia e Clara Nunes, entre muitos outros. O artista também contribuiu para trilhas de filmes de nomes como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha, ampliando sua presença na cultura brasileira.
Reconhecimento e produção recente
Embora muitas vezes visto como um criador “de margem” dentro da indústria, Macalé manteve relevância ao longo de todas as décadas. Em 2019 lançou o álbum Besta Fera, que reuniu artistas contemporâneos e recebeu indicação ao Grammy Latino. Em 2023 apresentou Coração Bifurcado, apontado pela crítica como um dos grandes discos do ano.
Legado
Com uma obra marcada pela recusa a rótulos e pela fusão de universos musicais, Jards Macalé permanece como um dos artistas mais inventivos do país. Seu legado influencia tanto veteranos quanto novos criadores que buscam expandir os horizontes da canção brasileira.








