Karol G, J Balvin e Maluma queriam um hit, mas criaram uma dor de cabeça
'+57' tinha tudo para chegar o nº 1 dos charts, porém alcançou o auge do caos
Os fãs de reggaeton esperavam o hino do ano; no entanto, receberam algo que trouxe à tona problemáticas que assombram o gênero há anos e, especialmente, o país de origem de seus intérpretes.
Os maiores expoentes da cena urbana colombiana — Karol G, J Balvin, Maluma, Blessd, Feid, Ryan Castro e o novato DFZM — se uniram na música “+57”, que, além de fazer referência ao código de telefone do país, externaliza em seus versos questões das quais a Colômbia não se orgulha e que quer deixar para trás.
No dia 1º de novembro, Karol G, ao lado de Ovy On The Drums, seu produtor e responsável pelos beats do single, publicou uma prévia do lançamento.
Com tantos nomes de peso na faixa, a reunião parecia uma versão reggaetonera de “Let’s Go” ou “Poesia Acústica”, causando expectativa e alvoroço nas redes sociais. Mas tudo deu errado.
Aí veio o problema
A aguardada “+57” foi lançada nas plataformas digitais na última sexta-feira (8), mas, algumas horas depois, as polêmicas começaram a surgir. Primeiro, pela batida genérica, usada em várias canções de reggaeton, e pelo seu papel de tentar ser uma música comercial.
Mas o pior fica pela letra machista, que fala claramente sobre bebidas, drogas e traz conotação sexual a menores, fazendo, assim, uma apologia à sexualização de menores, o que pode passar despercebido na primeira vez que se escuta a música.
Alguns dos versos mais complicados são:
“Una mamacita desde los fourteen“, pode ser traduzido como “Um mulherão desde os quatorze”.
“Aquí lo que hay es exotic, pepa, guaro, Hpnotiq” em português é “Aqui o que tem é coisa exótica, bala, cachaça, licor Hpnotiq”.
Temas como festas e sexo são abordados desde sempre no reggaeton, mas as escolhas feitas pelos cantores, que são embaixadores de seu país e cultura para o mundo, reforçam estereótipos e jogam luz indevida a um problema gravíssimo enfrentado nas terras colombianas: o turismo sexual.
A região de Problado, em Medellín, cidade natal de J Balvin, Karol G e Maluma, é cercado por restaurantes, hotéis e as mais famosas baladas da Colômbia, recebendo milhares de turistas anualmente. Nos últimos anos, o local se tornou um epicentro do turismo sexual, segundo matéria da “BBC News”, publicada em abril.
O esperado pelo público era algo semelhante ao que aconteceu com “Los Del Espacio”, música com oito talentos da Argentina, que reinou nos charts em 2023, incluindo o Billboard Argentina Hot 100.
Críticas e pronunciamento
A canção foi dissecada e criticada nas redes sociais. O Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), organização oficial que cuida do público infantojuvenil, apontou que “+57” promove “conteúdos que incentivam a sexualidade desde a infância.”
Como uma das maiores vozes do reggaeton atual e defensora do discurso feminista, Karol G foi criticada por permitir que seus parceiros seguissem com os versos e também por ser a única mulher da faixa, que reúne os talentos da Colômbia.
“Essa resposta quem tem que dar é a Karol G, suponho que a música seja dela. O que eu concluo é que, definitivamente, não se quer dar visibilidade a nenhuma outra mulher da música urbana na Colômbia”, disse a cantora Fariana, também conhecida como Farina, uma dos destaques da música urbana no país.
Maluma, pai da pequena Paris, que tem menos de um ano, e J Balvin, pai de Rio, de 3 anos, também foram criticados por consentir e cantar os versos.
Na última segunda-feira (12), Karol G foi às redes sociais se posicionar e pedir desculpas. Segundo ela, a intenção era fazer uma música dançante que celebrasse “a união entre artistas”. A colombiana ainda assumiu a responsabilidade pela letra.
Veja o pronunciamento de Karol G sobre ‘+57’
Sempre grata a todos que me seguem e me apoiam, que conhecem meu projeto, as intenções do meu trabalho e as causas próximas ao meu coração, aquelas que me movem, me apaixonam e pelas quais trabalho todos os dias com amor e responsabilidade. Eu me importo com o meu público e sou uma pessoa que, diariamente, busca se envolver em projetos onde possa estender minha benção e impactar de forma positiva a vida de muitas pessoas
Como artistas, estamos expostos à opinião pública e às interpretações individuais de pessoas que nos apoiam e de outras que discordam do que fazemos. Sinto muita frustração pela desinformação que tem circulado, especialmente pelos posts falsos que supostamente fiz e apaguei no Twitter, uma conta que não uso há mais de seis meses
Neste caso, infelizmente, tiraram de contexto a letra de uma música com a qual eu queria celebrar a união entre artistas e fazer o meu público dançar… Nada do que foi dito na música tem a intenção que lhe atribuíram, nem foi dito com essa perspectiva, mas escuto, assumo a responsabilidade e percebo que ainda tenho muito a aprender. Estou profundamente afetada e me desculpo de coração. Quero agradecer mais uma vez aos meus fãs pelo amor e apoio incondicional, valorizo muito isso, e aos artistas que participaram comigo na música, guardo no coração a energia bonita com a qual trabalhamos naquele dia! Obrigada a todos!