Foo Fighters e o pesado recomeço
The Town marca o retorno do grupo ao Brasil depois da morte do baterista
“Estou ficando bom em começar de novo/ Toda vez que tenho uma recaída/ Estou aprendendo a andar novamente…”, urra Dave Grohl em “The Walk’, uma das canções que fizeram parte do repertório da apresentação dos Foo Fighters no encerramento da quarta noite de The Town. Destaque de “Wasting Light”, disco que o sexteto lançou em 2011, ela foi escrita para Kurt Cobain, líder do Nirvana, banda que teve Grohl como baterista, e que se suicidou em 1994. Hoje, soa como uma homenagem a Taylor Hawkins, ex-baterista dos Foo Fighters, que se foi em 2022 por overdose de heroína. E por um bom tempo pensou-se que a partida de Hawkins fosse o prenúncio do fim do grupo.
Grohl, contudo, é bicho de palco. Por melhor que seja a discografia de sua banda é ali, no fuça a fuça com a plateia (no caso da noite de hoje, bastante ensandecida), que ele se sente em casa. Hoje, fica difícil pensar que ele largaria a rotina de shows e turnês por conta de uma tragédia – por pior que ela tenha sido. Na noite de sábado, parecia abatido e sua voz deu a impressão de às vezes querer falhar. Mas ela foi melhorando com o passar de cada música – e chegou ao nível máximo da potência em “This is a Call”, canção do disco de estreia do grupo.
Musicalmente, o Foo Fighters é um catadão de diversas bandas de rock e do punk rock das últimas décadas. Tem muito do Husker Du, trio de Minneapolis cujo líder, o cantor e guitarrista Bob Mould é um dos ídolos de Grohl; uma dose generosa de Pixies, bastante influente na carreira do Nirvana; muito do peso de Led Zeppelin, Black Sabbath e do Motorhead, junto com uma sonoridade rock pop do Cheap Trick. A mistura é acrescida por uma boa dose de entretenimento, que inclui citações musicais. “No Son of Mine”, por exemplo, trouxe brincadeiras com “Paranoid”, do Black Sabbath, e “Enter Sandman”, do Metallica. As apresentações dos integrantes teve “Sabotage”, dos Beastie Boys, puxada pelo baixista Nate Mendel, e “Where’s it`s at”, de Beck, tocada pelo tecladista Rami Jaffee. Grohl, por seu turno, saudou os Ramones com “Blitzkrieg Bop˜.
O baterista Josh Freeze foi o centro das atenções. Um dos monstros dos estúdios e com um currículo que vai do new wave do DEVO ao hard rock do Guns N’Roses, ele tem um estilo diferente de seu antecessor, Taylor Hawkins. Possui peso e personalidade, embora seja menos showman que seu antecessor. Que foi saudado por Grohl com “Aurora”, uma das canções preferidas do ex-baterista. E assim o Foo Fighters vai aprendendo a andar novamente.