Em Salvador, D2 omite verso de ‘Qual É’ apontado como ‘indevido’ pelos Racionais
Rapper foi 'cobrado' pelo grupo paulistano por citação


O rapper Marcelo D2 aproveitou o convite do BaianaSystem no Festival de Verão de Salvador 2025 para cantar o hit “Qual É” com a omissão do verso introdutório. Um dos maiores sucessos da sua carreira solo, a canção foi notada como apropriação indevida pelo grupo Racionais MCs.
“Qual É” foi apontada pelo grupo por citar “Voz Ativa”, uma das principais músicas dos Racionais antes do álbum clássico “Sobrevivendo No Inferno”, que surgiria em 1995. D2 canta “Eu tenho algo a dizer / explicar pra você / mas não garanto porém / que caçado eu serei dessa vez”, se aproveitando dos versos “”Eu tenho algo a dizer / explicar pra você / mas eu garanto porém / que engraçado eu serei dessa vez”.
Na apresentação, o rapper carioca começou direto por “Explicar pra você”, omitindo a frase “Eu tenho algo a dizer”.
Lançada em 1993, “Voz Ativa” convoca o jovem negro periférico a assumir o discurso de “nós por nós” em versos como “Mesmo sabendo que é foda /Prefere não se envolver
Finge não ser você / E eu pergunto por que?/ Você prefere que o outro vá se foder”enquanto “Qual É” tem versos mais conformados como “‘Tá ruim pra você? Também tá ruim pra mim / Tá ruim pra todo mundo / O jogo é assim”.
Em 2020, Ice Blue se manifestou sobre o imbróglio. “Eu troquei uma ideia com ele antes.. eu falei, ‘você usou a música, não usou?’ manda um salve.. agora você pega a música, deturpa a música, e não troca nem uma ideia?” diz o rapper. “O cara pegou a rima inteira e colocou ‘qual é neguinho’, o nome da música é “A juventude negra agora tem a voz ativa”, ele pegou a mesma música e pois lá “Qual é neguinho?” deturpou a música, fudeu a música” explicou Ice Blue durante live no Instagram.
“Qual É” foi um dos maiores sucessos de 2003 —ano de lançamento do clássico “A Procura da Batida Perfeita” no qual o carioca evidenciou sua fórmula de samba com hip hop.
No entanto, nunca houve uma pendência judicial entre a Cosa Nostra —responsável pela carreira dos Racionais— e a Sony Music —editora da obra de D2 à época. O que houve foi uma cobrança por baixo dos panos dos paulistanos com o carioca. “Não processei, se não ia rolar parada com advogado, polícia, juiz, ai eu não concordo.. vamos cobrar ele do jeito que tem que ser, na rua, porem eu gastei dinheiro com advogado e outras coisas, mas não processei, eu cobrei… se tivesse processado ele teria se fudido, poderia ter bloqueado todos os discos, arrumado um B.O grande na gravadora.. seria vantajoso, lucrativo, mas preferi cobrar na lei das ruas”.
Em entrevista à Trip, em 2013, D2 mostrou-se incomodado com a obrigação de “ter que pedir benção” aos bastiões do rap. “‘É culpa do governo, é culpa do sistema’. A coisa é maior do que isso. ‘O rap tem que salvar o mundo’. Desculpa, mas não vai ser o rap que vai ajudar nisso, não. Mas eu acho ótima essa nova fase do rap daqui, sabe qual é, que não precisa mais seguir aquela bíblia, o procedê. De repente, nem é culpa dos Racionais. Mas tinha que ter o carimbo, pedir benção”.