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Não houve nada tão grandioso na música brasileira em 2023 quanto a ‘Tardezinha’

Não houve nada tão grandioso na música brasileira em 2023 quanto a ‘Tardezinha’

Thiaguinho estudou muito o pagode – e o resultado é um trabalho impecável

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Em 2015, Rafael Zulu propôs a Thiaguinho transformar uma roda de pagode de amigos em um evento aberto ao público. Há oito anos, nascia a “Tardezinha”. Autointitulada a maior roda de samba do mundo, a ousadia e a alegria de Thiago André fizeram com que o evento se tornasse o maior espetáculo produzido por um artista brasileiro em 2023.

O projeto não é bem uma novidade, mas em 2023 os números da “Tardezinha” apontaram para algo gigante. Ao todo, foram 750 mil pessoas e 30 shows no ano, passando por 25 cidades, de Belém a Porto Alegre. Os últimos dois eventos foram realizados na Neo Química Arena, no último fim de semana, levando cerca de 45 mil pessoas no sábado (16) e o mesmo número no domingo (17), em São Paulo.

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Entre os concorrentes da “Tardezinha”, podemos citar “Numanice“, de Ludmilla, que nasceu depois e com características parecidas como o apego ao pagode e conceito de evento no fim de tarde, ou “Garota VIP“, de Wesley Safadão, que veio depois e tem foco numa mistura de gêneros. Ambos grandes, mas em 2023, nenhum passou por tantos lugares e arrastou tanta gente pelo país como o projeto do ex-Exaltasamba.

O projeto deu tão certo que outros artistas, incentivados pelo próprio cantor, replicaram o modelo de “festas temáticas”, mesmo que com proporções menores, caso do “Churrasquinho do Menos É Mais” e do “Resenha do Mumu”.

Cantando por sete horas (!), Thiaguinho constrói um repertório que passa pelo álbum “Samba É No Fundo De Quintal“, do grupo nascido do Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, rememorando os anos 1980, até sucessos mais recentes, como “Falta Você“, da autoria do pagodeiro, lançada em 2021 e que ganhou dancinha no TikTok e no “Big Brother Brasil”.

No centro do gramado num palco 360º, o cantor agita uma plateia que nem mesmo o “Norvana”, a banda de todas as tribos, conseguiria reunir. Crenças, raças, gêneros e tudo mais está ali presente. E, durante o show, grandes nomes do pagode são convidados a dividirem o palco com Thiaguinho. Artistas como Belo, Ferrugem, Péricles, Salgadinho e outras estrelas já fizeram participações na “Tardezinha”.

O evento também investe muito na experiência imagética. São incontáveis pontos “instagramáveis”, algo quase que imprescindível nos dias de hoje.

A todo momento, Thiaguinho reforça no palco que aquele é um evento de pagode e sugere que o público grite junto com ele que é “pagodeiro”. Isso não é trivial. Ser pagodeiro, no Brasil, é ser popular. Mas, ao mesmo tempo, é visto como popularesco, como menos significativo culturalmente.

Infelizmente, a própria “Tardezinha” parece sofrer com isso. Por exemplo, é impactante um evento destas proporções não ser transmitido na TV, como sugeriu o jornalista Luiz Teixeira, apresentador da Globo.

Também causa certa estranheza um cantor que faz um “festival de um homem só” não estar presente em grandes festivais pelo país. O pagode, mesmo tendo invadido todos os cantos do Brasil, precisa de mais popularidade para ser pop.

Em 1922, enquanto a Semana de Arte Moderna em São Paulo ditava os rumos do que seria novidade da produção cultural brasileira nas próximas décadas, relegando o samba a um lugar quase inexpressivo, Os Batutas, capitaneados por Pixinguinha, enfrentavam o racismo na França para encantar os europeus com o samba.

Mais de cem anos se passaram e o que temos de mais impactante arrastando multidões por todo o Brasil atualmente é um pagodeiro cantando o melhor do gênero mais brasileiro de todos. E 2025 tem mais.

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
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