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Dexter celebra liberdade com álbum ‘D’LUXO’: ‘rap transcende o tempo’

Dexter celebra liberdade com álbum ‘D’LUXO’: ‘rap transcende o tempo’

Confira o papo exclusivo à Billboard Brasil

Dexter 8º Anjo (produção_divulgação)

Com mais de 35 anos de trajetória no rap nacional, Dexter 8º Anjo é um dos nomes mais respeitados da música brasileira.

Marcos Fernandes de Omena, seu nome de batismo, é referência no rap e ficou conhecido nos anos 90 quando foi um dos fundadores do grupo 509-E, sucesso nas rádios de todo o Brasil com as músicas “Saudades Mil” e “Oitavo Anjo”, ambas de sua autoria. O apelido foi inspirado no filho de Martin Luther King Júnior, Dexter Scott King.

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Em entrevista exclusiva à Billboard Brasil, o artista falou sobre seu novo álbum “D’LUXO”, releitura de clássicos de sua carreira, além de refletir sobre sua caminhada, liberdade e o papel transformador do rap em sua vida.

Leia a entrevista de Dexter 8º Anjo à Billboard Brasil

Vamos começar falando do disco “D’LUXO”. Dexter, como foi revisitar esses clássicos? Onde você mais se emocionou nessas releituras?
Dexter:
A história do “D’LUXO”começa com os insights que tive sobre minhas músicas. O que busco nesse disco é liberdade. Liberdade de poder trabalhar com minhas criações sem precisar pedir autorização. E, ao mesmo tempo, revisito amigos, situações… Trabalhar com o Zegon foi superimportante, aprendi muito. E ele trouxe ainda o Laudz e o Joel, que fez a mix e a master do disco.

Você deu uma modernizada nas faixas?
Exato. Chegamos nesse ponto: fazer releituras à altura do trabalho. São músicas que ainda tocam hoje, mas que foram gravadas há muito tempo. A ideia é fazer com que essa juventude conheça esse trabalho, que já está na internet, mas talvez não tenha espaço no novo cenário.

Talvez você tenha sentido a sonoridade mais datada?
Exatamente. Mas não só a sonoridade — você fica na fila de trás. Revisitar essas faixas é trazê-las de volta pra frente, dar nova vida a elas. Construo tudo com muito carinho, responsabilidade e amor. Sei que os jovens vão ouvir.

E como é cantar músicas que você compôs há mais de 20 anos?
O rap tem uma magia grande. As músicas fazem sentido até hoje. O sistema carcerário ainda existe, a saudade também, que é o caso de “Saudades Mil”. “Oitavo Anjo” fala de um jovem preso que acredita na liberdade — esse jovem era eu, aos 24 anos. E tem muitos se sentindo assim ainda hoje. “Salve-se Quem Puder” também continua atual. O rap, quando feito com sensibilidade, transcende tempo.

Esse lançamento comemora seus 35 anos de carreira e 14 de liberdade?
Eu não planejo muito. Mas Deus e os deuses da música vão guiando as datas. Coincidiu com meus 14 anos de liberdade e 35 de carreira. E, nesse ano, faço 52 anos. A Boia Fria Produções está novamente comigo, em parceria com minha produtora 8º Anjo, planejando coisas lindas.

Como você enxerga o Dexter de 35 anos atrás?
Eu não fazia ideia. Que um dia ensaiaria no estúdio Nimbus, cantaria com Seu Jorge, Mano Brown, ou Guilherme Arantes. E agora estou no The Town, convidado pelo Péricles. Coisas que nem imaginava.

Na música “Gratidão”  você narra seu período privado de liberdade. Chama de exílio e não prisão.
A mente estava livre. Li o livro “O Exílio na Ilha Grande”, do André Torres, que conta como presos comuns e políticos se organizaram. Depois disso, não aceitei mais o rótulo de preso. A música, o rap, a literatura, me deram essa consciência.

Você vê o rap como ferramenta de transformação social? O que ele fez por você?
O rap me deu tudo. Organizou minha mente, minha vida, me fez entender minha ancestralidade. O rap é revolução através das palavras. Ele salvou minha vida.

O rap e o jazz são estilos que transcendem a música, viram estilo de vida. Você vê isso também?
Com certeza. O rap virou uma religião pra mim. Conheci com 16, 17 anos. E aí comecei a entender quem eu era. Sem o rap, eu não estaria aqui.

A autoestima também vem daí?
Sem dúvida. Ainda mais de onde eu venho, por quem eu sou. Sempre fui um sério candidato a morrer cedo. O rap me deu amor-próprio, me deu voz.

Muitos dizem que só existir como artista já é um ato de protesto quando se é da periferia. Você concorda?
Com certeza. Mas isso não é contabilizado. As oportunidades muitas vezes não são dadas, nem por nós mesmos, porque não fomos ensinados assim. O Brasil devia investir nas crianças, nos talentos das quebradas. Só assim o panorama muda.

E o sistema não quer isso…
Exato. Já nascemos marginalizados. Só pela cor, pelo lugar onde a gente nasce. É um projeto de encarceramento. E o dinheiro que deveria ir pros presídios, pra reabilitação, não chega. O rap me mostrou tudo isso. Antes, eu era vítima do racismo e não percebia. Ouvindo Racionais, me reconheci. A arte salva. A escola não me ensinou minha história.

Tem uma música que mais te emociona?
“Saudades Mil” é forte. Mas gosto de todas. Escolhi nove faixas só minhas. Não incluí as com parceiros, porque a ideia era um trabalho totalmente meu. Só quero trazer do passado o que ainda tem significado. O que não me convence mais, não carrego.

E como foi cantar fora do Brasil?
A maioria era de brasileiros. Fiz um show num clube na Espanha. As pessoas se emocionavam, vinham conversar, tirar foto. Em agosto a gente volta: última semana em Lisboa, primeira de setembro em Barcelona.

Tem algum sonho a curto ou médio prazo?
Muitos. Ano passado vi o The Town e pensei: “Um dia”. E esse dia chegou. Quero conhecer outros países, outras culturas, cantar com nomes que admiro. Mas o sonho maior é continuar lutando e ver resultado. A luta é diária, mesmo com momentos de alegria. O amor é o combustível de tudo isso.

Quais os próximos planos?
Vou comemorar meus 52 anos com amigos e fãs, dia 17 de agosto na Barra Funda. Sobre discos: são três esse ano. “D’Luxo” já saiu. Em junho, lançamos “Na Linha do Tempo”, com releituras de músicas fundamentais do rap nacional. No final do ano vem o álbum de inéditas. E também estamos trabalhando num livro e num documentário. A O2 Filmes vai co-produzir o doc, depois da minha participação em Pico da Neblina. O Fernando Meirelles topou na hora.

Pra fechar: o que você diria para o menino Dexter de 17 anos que estava começando na música?
Diria pra continuar firme, acreditando no coração dele. Na época, eu era cabeleireiro — adorava levar autoestima para as pessoas. Mas um dia percebi que a música transformaria muito mais. E fui. Nunca mais voltei. Diria pra ele continuar se emocionando como sempre. Vai pelo amor, mano. É isso.

Ouça o novo àlbum de Dexter, “D’LUXO”

Tracklist “D’LUXO”

  1. DE MENTIRA NÃO TINHA NADA
  2. TRIAGEM (VERSÃO DLUXO)
  3. OITAVO ANJO (VERSÃO DLUXO)
  4. SEM CHANCES (VERSÃO DLUXO)
  5. SAUDADES MIL (VERSÃO DLUXO)
  6. A TRANSFERÊNCIA (INTERLÚDIO)
  7. NOITE INFELIZ (VERSÃO DLUXO)
  8. ALTA VOLTAGEM (VERSÃO DLUXO) – prod. Laudz e DJ Loo
  9. A SAUDADE CONTINUA (VERSÃO DLUXO)
  10. APENAS UM SONHO (VERSÃO DLUXO)
  11. CÊ TÁ ENGRUPIDO (VERSÃO DLUXO)
  12. GRATIDÃO

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