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Costureira dos passinhos: vendedora rouba a cena com dança no The Town

Costureira dos passinhos: vendedora rouba a cena com dança no The Town

Uma criaturinha da noite, ali, na frente da reportagem da Billboard, dando tudo.

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Depois da chuva e da lama (e de uma distância considerável de quase dois quilômetros para o palco Skyline), o cenário era mais alegre mas, ainda assim, frustrante na contagem de cabeças na segunda semana do palco New Dance Order, a meca eletrônica das criaturinhas da noite do The Town.

Mas, desde cedo,  a paisagem (um pouco espalhada, é verdade) dava bons indícios de um palco que ia ser carregado pelos fiéis. Enquanto L_cio, um dos maiores nomes da eletrônica brasileira, tirava da cartola uma flauta transversa ou chamava sua mãe, Laura, para tocar piano, o casal Gustavo Fortunato e Julia Ferreira se agarrava um no outro em cena lindamente acalantada pelos graves que vibravam tanto quanto o dengo do casal. “A gente veio pra ver nossos amigos Shigara e Xaxim [que abriram o palco junto a Afterclapp]”, contou Gustavo para, logo após, ser complementado pela parceira: “E, além disso, a gente faz esses rolês… A gente é clubber. Aham! Ele é DJ [Fortunato virou a noite tocando, em Campinas, tinha a voz rouquíssima], a gente se conheceu por conta disso, festas e amigos em comum”, traduziu Julia, em puro love.

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Julia e Fortunato: techno-date, roquidão e amor à cena. (Foto: Taiz Dering/Billboard Brasil)

Quando voltamos ao palco, já no horário do graves elegantíssimos que o estadunidense Kerri Chandler envolvia seus pianos em house, as criaturas continuavam lá. O casal, o Fábio César (empresário, de 58 anos, já trocando um pouco as pernas depois de seis horas só curtindo esse palco), o Bruno Martins (encapuzado com um véu de estampa com plantas, moleque rato de baile da Dz7, em Paraisópolis e, além de tudo, jardineiro há oito anos — e, claro, ex-DJ), o duo de amigas Thaísa e Andressa (uma gosta de samba e Alok; a outra vive na noite e manteve seu local predileto de meter dança em mistério), o Claudio Neslinger (de 63 anos, passou perrengue pra ver sua banda favorita da adolescência, a progressiva britânica Yes!, no Rock In Rio de 1985), a  Patrícia Teixeira (de 50 anos, ali porque era “movimento” dela, mais underground, com uma galera mais viajada — ela disse o “viajada” dando um sorriso maroto), entre outros que sustentaram a vibe de um dos palcos mais desfavorecidos pela expertise carioca do festival.

“Para só um pouquinho, por favor”

Mas o espírito de uma potente, confortável e livre estava em uma menina de cabelos cacheados, que bamboleava de um lado pro outro como se deslizando com os pés, valendo-se dos vãos deixados pela ausência de mais clubbers por ali. Marcela Costa, de 28 anos, estava fazendo um bico vendendo cerveja e serpenteava por entre os consumidores. Entre um chope e outro (“olha o chope, UHUL!”, gritava), danças, danças e danças. “Eu sou costureira”, começou, o que não soou como novidade, já que costura era justamente o que fazia por ali. “Eu esvazio uma mochila, paro pra dançar um pouco, volto pra vender”.

Com sorriso enorme no rosto, tínhamos ali, de fato, a encarnação do espírito de quem arruma alguma motivação para sustentar o front — e de quem sabe que, cada dança, aplauso e vibração conta quando o DJ olha pra pista em busca de um alento diante do cenário. Voltamos ao palco, já durante a apresentação — já menos alternativa — do Shermanology, duo de EDM da ilha de Curaçao. Marcela não estava mais por lá. Lamentamos por um tempo, queríamos fazer uma foto boa. Foi quando, a quase 500 metros de distância, vimos a serelepe. Era ela. A única dos comerciantes que andava em 130 batidas por minutos.

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A vendedora (e costureira de passinhos) Marcela que não parava de dançar pra foto: “eu não consigo”, dizia à fotógrafa. (Foto: Taiz Dering)

“Eu lembro de você! Você me entrevistou mais cedo. Como vocês me acharam aqui!? Vocês passaram por aqui!?”, perguntava incrédula com a corrida da equipe de reportagem. Continuamos o papo. “Nós somos livres”, disse, em frase que parecia conceituar a alma clubber, mas o complemento era sobre o labor. “Podemos vender onde quisermos, então eu me grudo aqui no grave”. Moradora do bairro Samambaia, em Praia Grande, litoral sul de São Paulo, não conseguia pousar pra fotógrafa Taiz Dering. “Para só um pouquinho, por favor”, pedia a fotógrafa à costureira. “Não consigo”, rebatia. Enfim, ela parou. Mas foi só pra foto mesmo.

 

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
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