Como Sharon criou a lenda Ozzy Osbourne
A esposa e empresária do Madman é peça chave da história do heavy metal


A história e a sobrevivência do heavy metal passa diretamente pelo trabalho árduo de Sharon Osbourne. Talvez uma boa parte do público conheça Sharon apenas como a empresária e esposa de Ozzy Osbourne, que morreu na última terça-feira (22), aos 76 anos.
Mas nada poderia ser mais injusto do que o mundo do rock pesado não perceber como Sharon utilizou seu talento para os negócios, o amor por usa família e a paciência para lidar com a persona excêntrica de Ozzy para pavimentar o caminho do gênero e consolidar até mesmo alguns dos pilares da cultura pop.
O inicio do amor das trevas
Ozzy Osbourne e Sharon Arden se conheceram em 1970. Ele, um vocalista de 22 anos em ascensão no Black Sabbath; ela, uma jovem de 18 anos, filha do empresário da banda, Don Arden. O romance, porém, demoraria anos para florescer — e quando aconteceu, veio marcado por desafios, lealdade e uma parceria que transcendeu a música.
O amor que cura
Em 1979, com a carreira de Ozzy à beira do colapso após sua demissão do Black Sabbath por causa dos vícios em alcool e drogas, Sharon estendeu a mão e assumiu a gestão de sua carreira solo. Naquele período, Ozzy estava isolado por três meses em um hotel. A intervenção de Sharon não só salvou sua trajetória profissional, mas deu início a uma batalha pela recuperação.
O relacionamento nasceu sob polêmica: Ozzy ainda era casado com Thelma Riley. Em 1982, eles se casaram no Havaí, logo após o cantor se divorciar da primeira esposa. O novo casal rapidamente teve três filhos em três anos: Aimee, em 1983; Kelly, em 1984; e Jack, em 1985
O que começou em meio ao caos transformou-se em uma das uniões mais duradouras e icônicas do rock. Juntos, enfrentaram crises, escândalos e até doenças, provando que, mais do que um grande amor, eram aliados inseparáveis.
Um pouco de loucura não faz mal a ninguém
Sharon Osbourne não tentou amenizar a imagem polêmica de Ozzy Osbourne – pelo contrário, soube canalizar suas ‘birutices’ em uma figura icônica do rock. Sua estratégia foi amplificar o que já era único no artista: sua energia caótica, sua presença de palco eletrizante e um carisma que oscilava entre o sombrio e o teatral.
Um exemplo marcante ocorreu em 1982, quando Ozzy mordeu a cabeça de um morcego durante um show nos EUA. Ele acreditava que era um boneco jogado pelo público. O episódio foi incorporado ao seu mito e reforçou sua reputação como o “Príncipe das Trevas”. Sharon não recuou diante da polêmica; usou-a para consolidar sua imagem como um performer imprevisível e transgressor.
Com visão estratégica, ela transformou cada escândalo em combustível para a carreira do marido, garantindo que sua música e sua persona permanecessem inseparáveis.
O lado tóxico de Ozzy Osbourne
Nem tudo era excentricidade inocente potencializada por Sharon. “Nossas brigas eram lendárias. Nós batíamos um no outro para caralh*. Isso parou há uns 20 anos, mas até que durou bastante”, explicou Sharon, em entrevista ao DailyMail em 2021.
Em 1989, por exemplo, Ozzy sob efeito de drogas foi preso após tentar matar Sharon estrangulada.
“Eu acordei nessa pequena cela com merda humana nas paredes e pensei: ‘Que p*rra eu fiz agora?’. Um policial disse para mim: ‘Você é acusado de tentar matar Sharon Osbourne’. Não sei dizer como me senti. Fiquei paralisado”, disse Ozzy.
Em 2020, o casal contou novamente o caso no documentário “As Nove Vidas de Ozzy Osbourne”. Sharon diz que o episódio aconteceu depois de colocar os três filhos para dormir e se sentar para ler um livro. Em 2016, o casal teve uma separação após a descoberta de uma suposta traição, mas reataram três meses depois.
Ozzfest e a sobrevivência do heavy metal
Em 1996, Sharon e Ozzy Osbourne criaram um dos festivais mais icônicos do rock: o Ozzfest. Idealizado e gerido principalmente por Sharon, com apoio eventual de seu filho Jack Osbourne, o evento rapidamente se tornou um marco no cenário musical.
Mais do que um sucesso comercial, o festival teve um papel fundamental na preservação do heavy metal em um momento crítico. Enquanto o gênero enfrentava declínio na segunda metade dos anos 1990, o Ozzfest não apenas manteve a cena de pé, como impulsionou o mercado e revelou novos grupos.
“The Osbounes” ou a grande família louca
Após uma grande negociação, a MTV lançou o reality show “The Osbournes”, em 2002. A carreira musical de Ozzy já não estava no auge e Sharon reinventou imagem do “Príncipe das Trevas” de forma ousada no programa. Exibido entre 2002 e 2005, “The Osbournes” mostrou o cotidiano caótico e hilário da família. Além disso, revelou um Ozzy mais humano – desde suas dificuldades com eletrodomésticos até as confusões com os animais de estimação. Sim, apesar do morcego decepado, ele amava animais.
Na segunda temporada de “The Osbournes” , Sharon permitiu que câmeras registrassem sua batalha contra o câncer de cólon. A atitude teve o objetivo de conscientizar sobre a doença e seu impacto nas famílias.
Ela debateu junto da opinião pública a sua decisão de se submeter a uma mastectomia dupla após descobrir que era portadora do gene do câncer de mama. Ela enfatizou a importância de testes genéticos e medidas proativas de saúde para o bem-estar mental.
O programa que começou como uma tentativa de revitalizar a carreira do Madman tornou-se um fenômeno da cultura pop.”The Osbournes” ajudou a popularizar o formato de reality shows e provou que o verdadeiro entretenimento estava na autenticidade do dia a dia.
O hit de Sharon
Lançada em 2019 como single e posteriormente incluída no álbum “Ordinary Man“ (2020), a música “Under the Graveyard” reflete o período turbulento na vida de Ozzy Osbourne. A letra e o videoclipe exploram temas como autodestruição e solidão. A canção também destaca o papel fundamental de Sharon Osbourne na recuperação.
De volta ao início

Ozzy Osbourne foi diagnosticado com Parkinson (distúrbio neurodegenerativo) em 2019. Além disso, ele teve lesões na coluna causadas por acidentes que exigiram uma sequência de cirurgias.
Em decorrência disso, os membros do Black Sabbath, Ozzy e Sharon decidiram organizar a despedida dos palcos no festival “Back to the Beginning”, em em 5 de julho de 2025, no Villa Park em Aston, Birmingham, Inglaterra, bem perto de onde a banda foi formada em 1968.
No entanto, a despedida épica precisou da força mobilizadora de Sharon para ser realizada. De acordo com jornal britânico The Mirror, as seguradoras viam um risco de acidente, já que Ozzy sofria com mobilidade reduzida e Parkinson. De fato, Ozzy usava bengala nos últimos meses e fez um trabalho intenso com personal trainer que ficou hospedado em sua casa para ajudá-lo.
Sharon decidiu que Ozzy passaria o show sentado em um trono.
“Foi um combinado brilhante. Isso diz muito sobre a determinação e o foco de Sharon para fazer tudo acontecer. Ela fez um milagre”disse um representante do evento para o jornal.
O legado da “princesa das trevas”
Sharon passa por um período difícil após a morte de Ozzy e alguns problemas de saúde que aconteceram em decorrência dadificuldades para manter um peso depois de fazer uso do medicamento Ozempic.
Ozzy deixou um patrimônio líquido de US$ 220 milhões, cerca R$ 1,2 bilhão, na cotação atual, de acordo com a Finance Monthly. No testamento, ele dividiu seus bens e sua fortuna de forma igual entre Sharon e os seis filhos.
No entanto, independentemente da herança que ela ajudou a consolidar, Sharon é a mente e o coração por trás do Ozzfest e de shows lendários da história do rock como o “Back to the Beginning”, que reuniu Metallica, Steven Tyler, Pantera e dezenas de ícones do rock. Por conta de toda a sua trajetória, é possível esperar e torcer para que ela siga o seu trabalho como uma das maiores curadoras e agitadoras da história do rock.
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