Um dos personagens mais populares do humorista Jô Soares (1938-2022) era o de um cientista que misturava os genes de vários animais, criando outro ser. Rato com aranha, cachorro com jacaré, leão com hipopótamo e por aí vai.
Se transportarmos essa teoria para o universo pop, podemos acreditar que Bruno Mars é a criação mais perfeita daquele especialista do Jô. Querem apostar? A marra, por exemplo, foi assimilada de Elvis Presley (1935-1977), a quem cansou de imitar na infância; a sensualidade, do cantor Little Richard (1932-2020), pioneiro do rock’n’roll, e de Prince (1958-2016), um autêntico gênio da música negra; os passos de dança, claro, vieram de James Brown (1933-2006), o criador do funk, e a voz é calcada na de Michael Jackson (1958-2009), um dos maiores performers do século 20.
Bruno, contudo, possui ainda outra habilidade, por meio da qual demonstra ser um cruzamento de genes perfeito: a de criador de canções. Embora tenha sido eternizado como performer, foi sua habilidade em compor em diferentes estilos que o credenciaram ao estrelato.
Os pais do cantor e compositor, batizado de Peter Hernandez, pertenciam ao universo musical. O pai trabalhou como percussionista de música latina, e a mãe era cantora e dançarina de hula. A primeira grande investida artística de Bruno –descontando as imitações de Elvis e Michael que fez na infância e adolescência– foi como compositor da Motown, maior gravadora de música negra em todos os tempos.
Foi na companhia que ele conheceu Philip Lawrence e Art Levine, com quem criou um time de autores e produtores chamado The Smeezingtons. Dali, produziram singles da cantora Brandy e criaram hits para Cee-Lo-Green e para o rapper Flo Rida. De 2009 a 2015, eles bateram a marca de 16 discos de ouro e de platina. O sucesso rendeu um contrato de Bruno Mars com a gravadora Elektra como artista solo. O trio se dissolveu em 2017, embora Lawrence ainda trabalhe ao lado de Mars.
Um bom compositor nem sempre é um grande performer. No universo pop, há casos de artistas que não repetem em disco e shows o sucesso de suas composições. Mas vamos nos ater aos bem-sucedidos. Bruno, sem dúvida, é um exemplo de vitória do showbiz, ao lado de Charli XCX (que escreveu para Selena Gomez e Iggy Azalea), Lady Gaga (coautora de “Quicksand”, interpretada por Britney Spears) ou o brasileiro Tierry, que foi gravado por Ivete Sangalo e Marília Mendonça até tomar coragem para pisar no palco.
Atualmente, Bruno Mars prefere focar sua carreira a criar temas para outros artistas. Mas suas colaborações para o universo pop são marcantes
SABIA QUE ESSA CANÇÃO É DE BRUNO MARS?
Menudo – “Lost”
Canção de 2008, escrita por Bruno Mars e Cory Rooney. Muito calcada no que o cantor faz hoje, uma mistura de pop com batidas de hip hop.
Adam Lambert – “Never Close Your Eyes”
Um eletropop criado pelos Smeezingtons, ao lado dos compositores e produtores Lukasz Gottwald e Henry Walker. Pegou sexto lugar na parada dance dos EUA.
Cee-Lo-Green – “Fuck You”
Lançada também como “Forget You”, é um dos principais hits dos Smeezingtons. Segundo lugar na parada americana de 2010 e um dos singles mais vendidos do ano.
Adele – “All I Ask”
Bruno tinha aposentado sua faceta de compositor de aluguel, mas se rendeu ao pedido da cantora inglesa. A música, uma parceria dos dois, além de Philip Lawrence e Christopher Brody Brown, ocasionalmente é tocada ao vivo.
Mark Ronson – “Uptown Funk”
É mais do DJ e produtor inglês do que de Bruno Mars e Philip Lawrence, eterno parceiro do cantor. Mas é difícil imaginar outro artista para interpretar esse hit dançante, que nos remete aos melhores momentos de James Brown.