Carnaval RJ: veja os destaques do segundo dia de desfiles na Sapucaí
Homenagens e crenças marcaram a folia carioca na última segunda-feira (3)


O segundo dia de Sapucaí teve homenagens, afirmações de fé e crença que brilharam na última segunda-feira (4). Confira os principais destaques da avenida.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita
Fazer um desfile em homenagem a Logun-Edé era um desejo antigo da comunidade do Borel. O motivo é que a sede da Unidos da Tijuca é localizada na Rua São Miguel, santo que, no sincretismo, corresponde ao Orixá.
Conhecido como orixá menino nas religiões de matriz africana, Logun-Edé é filho de Oxum e Oxóssi. Segundo o candomblé, é a união da força das tradições com a essência da juventude que faz com que a entidade seja respeitada pelos mais antigos.
O enredo da Unidos da Tijuca abordou diferentes interpretações de Logun-Edé, a vinda do orixá da cultura africana para o Brasil, e ainda trouxe mensagens sobre a natureza e o futuro da comunidade.
Oxum, Oxossi e a juventude do Borel
Os dois carros que sucederam o abre-alas representaram, respectivamente, Oxum e Oxóssi, os pais de Logun-Edé. Com a força do dourado e tons leves de azul, foram as alegorias que mais se destacaram no desfile.
Sem alas entre eles, os carros pareciam uma alegoria única de proporções enormes. Estátuas com estética africana chamaram atenção com pintura que simulava madeira com excelência.
Outro carro que se destacou na avenida foi a alegoria final do desfile. Com esculturas de jovens do Morro do Borel, várias caixas de som e uma estátua de um DJ, o encerramento conectou a história de Logun-Edé com os meninos de hoje, que trazem a garra da juventude que também é característica do orixá.
Homenagem à Lexa
Rainha de bateria da Unidos da Tijuca, a cantora Lexa não participou do desfile este ano, por conta do falecimento de sua filha, Sofia, com três dias de vida, em cinco de fevereiro. Em homenagem à artista, a agremiação não elegeu uma substituta para o posto.
Lexa postou em seus stories imagens em que aparece emocionada, assistindo ao desfile de sua casa. Nas legendas, escreveu: “Bom desfile minha amada @grestijuca! São anos com vocês! Tô aqui torcendo muito por vocês!”
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas
Luiz Fernando Ribeiro do Carmo (1943-2021) tornou-se um dos maiores nomes do carnaval brasileiro, trabalhando por cinquenta anos na área e conquistando 13 títulos com a Beija-Flor. Apelidado de Laíla, o artista é parte da história da escola de Nilópolis, fazendo parte de diversos momentos históricos da agremiação.
A trajetória de Laíla, que faleceu aos 78 anos por complicações da COVID-19 em 2021, foi contada pela Beija-Flor na Sapucaí. Estruturado em duas partes, o enredo foi dividido entre a religiosidade do homenageado e sua carreira no carnaval, que se confunde com a própria história da agremiação.
A despedida de Neguinho da Beija-Flor
Após cinquenta carnavais cantando na avenida com a escola que lhe deu seu nome artístico, Neguinho da Beija-Flor realizou aquele que foi anunciado como seu último desfile Sapucaí. Mas, segundo ele garantiu no microfone, “esse na verdade é o penúltimo, o último vai ser sábado com a Beija-Flor campeã”.
Aos 75 anos, o artista iniciou o desfile agradecendo ao público no microfone: “Não consigo falar muito, senão vou me emocionar. Então preciso dizer: MUITO OBRIGADO”, repetindo o agradecimento por diversas vezes. Após uma longa salva de palmas, o público começou a gritar pelo nome do cantor.
Um desfile luxuoso
A passagem da Beija-Flor da avenida foi exuberante, em um desfile que com certeza entrará na história da agremiação. Muitas luzes e elementos brilhantes, principalmente dourados, aparecerem nos adereços e alegorias do começo ao fim.
Entre as alegorias, o primeiro e o último carro foram os mais emocionantes. No abre-alas, Exu abriu o caminho para o nascimento do pequeno Laíla, representado por uma criança, que se encantava pelo mundo da fé e era abençoada por Xangô, Jesus Cristo, Nossa Senhora Aparecida e outras entidades. No chão do carro, velas brilhavam, primeiro com o vermelho do fogo e, em seguida, com o azul e branco da escola. Em uma projeção, a imagem do homenageado apareceu em uma das velas que adornavam o cenário.
Em referência ao clássico desfile de 1989, o último carro da escola levou o Cristo Redentor embrulhado em saco de lixo novamente para a avenida. A faixa entre os braços da imagem enrolou e ficou ilegível, o que deve levar a escola a perder pontos.
G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro
Salgueiro de Corpo Fechado
Em busca do décimo título no Grupo Especial, a Acadêmicos do Salgueiro apresentou um desfile com os rituais de proteção como tema. A história mostrou as manifestações desse tipo de rito em diferentes culturas, passando por práticas indígenas, africanas, afro-brasileiras e cariocas. O ponto de partida do enredo foi a chegada dos escravizados malês na Bahia, e seguiu pelo cangaço, pelas tribos indígenas do Norte e do Nordeste, chegando ao Rio de Janeiro.
A energia da Furiosa
A bateria da Salgueiro fez jus ao título de Furiosa no desfile desta segunda-feira. Trajados com roupas de cangaceiros, os ritmistas se destacaram em apresentação potente durante sua passagem pela avenida. Comandados pelos mestres Guilherme e Gustavo, os músicos se apresentaram com sinos em suas fantasias, trazendo um tempero para sua sonoridade.
A emoção de Xande de Pilares
Um dos autores do samba-enredo escolhido para o desfile de 2025, o cantor Xande de Pilares fez parte do desfile da Salgueiro, mostrando-se muito emocionado ainda na concentração. O artista, que desfilou com um traje vermelho com detalhes dourados, tem história de longa data com a agremiação, tendo começado a trabalhar no barracão aos 14 anos de idade e, em janeiro de 2025, tendo sido consagrado como sócio benemérito da escola.
G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel
Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece
Encerrando a noite, a Unidos de Vila Isabel trouxe um desfile bem diferente para a avenida. A proposta da agremiação foi transformar a Sapucaí em um grande trem fantasma, em enredo descontraído que foi a grande surpresa da segunda-feira.
Drones, fantasias impactantes, e a presença de personagens clássicos do folclore brasileiro e da cultura pop marcaram as alas em um enredo que de assustador não tinha nada, pelo contrário: foi marcado por priorizar o entretenimento.
O Trem de Vila-Isabel
Com uma enorme caveira à frente da alegoria, o trem-fantasma arrancou aplausos de toda a Sapucaí com sua presença imponente. Dividido em duas partes, nas primeira o carro tinha o formato de um trem à vapor, todo branco e, no topo do crânio, trazia seu icônico maquinista: o cantor Martilho da Vila, presidente de honra da agremiação, que desfilou sentado, acenando para o público.
Na parte traseira, o carro alegórico simulou o trem-fantasma dos parques de diversões, com muitos fantasmas e caveiras brancas com olhos azuis. Em um trilho, integrantes da escola desfilavam sob carrinhos e eram atormentados por assombrações. Em determinado momento, a enorme alegoria começou a soltar fumaça e fazer o som característico dos trens, um verdadeiro espetáculo muito aplaudido pela plateia.
Um belíssimo show de horrores
Lobisomens, caiporas, cucas, arraias, mapinguaris, Beetlejuices e outras criaturas desfilaram na avenida com fantasias belíssimas. A bateria foi tomada por vampiros, e teve Sabrina Sato como rainha vampira. Carros alegóricos também levaram personagens icônicos para o desfile, como o saci, o boitatá e as criaturas do filme Monstros S.A.