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Carnaval RJ: destaques do 1º dia de desfiles do Grupo Especial

Carnaval RJ: destaques do 1º dia de desfiles do Grupo Especial

Noite foi marcada pela força dos enredos afro, efeitos tecnológicos e anúncio do

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Evelyn Bastos rainha de bateria da Mangueira (Daniel Pinheiro/BrazilNews)

Começou a disputa pelo título de escola campeã do carnaval carioca. Na noite deste domingo (02/03), as quatro primeiras escolas de samba do Grupo Especial levaram seus desfiles à Sapucaí. Com todas as agremiações respeitando o tempo regulamentar, foi uma noite emocionante.

Confira os detalhes dos desfiles!!

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G.R.E.S Unidos de Padre Miguel

Após 52 anos de espera, a Unidos de Padre Miguel voltou ao Grupo Especial. Em 2025, a agremiação trouxe para a avenida o enredo Egbé Iyá Nassô, que contou a história do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, a Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador. O desfile homenageou igualmente Iyá Nassô, africana e escrava alforriada que foi uma das fundadoras do templo.

Egbé Iyá Nassô

Antes de iniciar o desfile, a diretora Lara Mara, de 20 anos, fez discurso cheio de energia, agradecendo o empenho da comunidade, e com fala combativa contra a intolerância religiosa: “Não temos vergonha de trazer um enredo de cultura africana. Vamos incendiar a Sapucaí com muito axé e muita garra, porque nós somos favela, nós somos Vila Vintém”.

Em seguida, perguntou por diversas vezes: “Vila Vintém é terra de que?” E o público, em êxtase, respondia “De macumbeiro!”. A frase, é um dos versos do samba-enredo do desfile.

Como não poderia ser diferente, a religiosidade foi a marca do desfile. Xangô esteve em destaque ao longo da apresentação, com brilho especial no carro abre-alas, que homenageou a importância das mães de santo e trouxe o orixá em coreografia inspirada, carregando machados nas mãos adornados por uma luz vermelha.

Parintins 

Pela primeira vez, a Unidos de Padre Miguel desfilou com uma escultura inteira do Boi Vermelho, símbolo da escola. Em outros desfiles, a agremiação utilizou apenas esculturas da cabeça do animal.

Para a confecção da escultura, a agremiação convidou profissionais de Parintins, onde acontece uma das maiores festas populares do país. Como efeitos, a estátua lançava jatos de CO2 e realizava movimentos articulados.

Anielle Franco

A Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi convidada especial do desfile da Unidos de Padre Miguel. O convite foi realizado pelos diretores de Carnaval, Cícero Costa e Lara Mara, e pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Também na noite de domingo, a ministra desfilou na Estação Primeira de Mangueira.

G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense

Em 2025 a Imperatriz Leopoldinense entrou na avenida em busca de seu décimo título no Grupo Especial. Atual vice-campeã da categoria, a verde e branco realizou desfile marcado principalmente pelas formas e cores impressionantes de seus carros alegóricos, além da energia de sua bateria. Pela primeira vez desde 1979, a agremiação apresentou um desfile com temática afro, pedido da comunidade ao carnavalesco Leandro Vieira.

“Ómi Tútú ao Olúfon – água fresca para o Senhor de Ifón”

O enredo se baseou em um Itã – conto mitológico de origem Iorubá –, e narrou a trajetória de Oxalá, o pai de todos os orixás, que sai de seu reino para fazer uma visita a Xangô. No caminho, a entidade é vítima de uma travessura de Exú, o orixá mensageiro, e fica presa por sete anos, até que o Senhor da Justiça vai em busca de respostas e resolve a situação.

A força dos elementos

Dois elementos marcaram o desfile da Imperatriz Leopoldinense. A água, presente em diversos momentos do desfile, deu o tom ao abre-alas, alegoria que se destacou na apresentação. Com uma cabeça de elefante realista à sua frente, o carro simulou o banho de Oxalá, em estrutura que levou cinco mil litros de água para a Sapucaí em uma performance brilhante.

O fogo também foi representado em um impactante carro com a temática de Exu. Com imagens de galos – que são oferecidos ao orixá como oferendas -, a alegoria trouxe esculturas de cabeças gigantes e penetrantes olhos brancos, com sorrisos sugerindo a gargalhada da entidade. Ao centro, fogo cenográfico e real marcaram os efeitos.

Outro carro que também se destacou no desfile trouxe Oxalá preso, com impactantes esculturas de dragões, que guardavam a cela, e diversos crânios com luzes vermelhas em seus olhos. Da boca dos monstros foram feitos disparos de fumaça.

Cinquenta tons de branco

Embora o desfile da Imperatriz Leopoldinense tenha explorado bem o colorido do desfile, o branco de Oxalá foi o grande destaque da apresentação. A cor do orixá, que acaba sendo encardida por Exu, teve diversas variações de tonalidade vibrantes e funcionou com perfeição como elemento do enredo.

Oscar na avenida

Ao final da apresentação da Imperatriz Leopoldinense,  o sistema de som da Sapucaí anunciou a vitória de “Ainda Estou Aqui” (Walter Salles) na categoria Melhor Filme Internacional na premiação do Oscar. A plateia vibrou ao ouvir das caixas de som: “O Oscar é nosso!”.

Viradouro

A Viradouro fez uma das apresentações mais marcantes da noite. Com alegorias exuberantes, muitos efeitos práticos e optando por um enredo que mistura religiosidade e história, a agremiação entregou um desfile com potencial de mantê-la no posto de campeã do Carnaval

Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos

O enredo do desfile da Viradouro fala sobre liberdade e resistência, abordando a história de uma figura importante para a história do Brasil. Além de símbolo da luta contra a escravidão, Malunguinho tornou-se uma entidade dentro da Jurema Sagrada, considerada uma das primeiras religiões brasileiras a unir características da religiosidade africana e indígena.

A jornada de Malunguinho é contada em três estágios, sendo João Batista, o líder do Quilombo Catucá, depois o caboclo curandeiro que aprende sobre as ervas medicinais com os indígenas e por fim o Exu Trunqueiro, entidade protetora que abre caminhos.

Um show no abre-alas

O primeiro carro da agremiação foi um espetáculo que sintetizou com maestria a trajetória de Malunguinho. Na alegoria, o quilombola é caçado, ferido, curado pela força das ervas e é coroado como o Exu Truqueiro. Tudo isso ocorre em uma encenação belíssima, com coreografias teatrais e muitos efeitos, incluindo chamas reais e drones que fizeram chapéus voarem. Unindo resistência e religiosidade, foi um momento mágico.

Cores, sons e movimentos

A escolha de cores vibrantes para as fantasias e adereços tornou o desfile da Viradouro um espetáculo primoroso. Usando de forma muito criativa a iluminação da Sapucaí – que deram um charme às fantasias com neon -, tons de verde, laranja, preto e dourado pintaram os detalhes com muitas imagens e motivos ligados à natureza e à cultura afro-indígena.

Os efeitos práticos e as coreografias dos integrantes também trouxeram brilho para o desfile. O balanço de folhas, o rosto das árvores de um carro alegórico e o uso de água marcaram as alegorias. Mas, entre os recursos, o uso de holograma em uma chave do Exu Truqueiro  foi o maior destaque.

Problemas

Apesar da qualidade do desfile, a Viradouro não cruzou a Sapucaí sem passar por problemas. Partes de algumas fantasias se desfizeram ao longo do desfile, integrantes da escola passaram mal e a musa Lore Improta sofreu um tombo na frente de uma das cabines de jurados .

Estação Primeira de Mangueira

Encerrando a noite, a Mangueira levou à Sapucaí um enredo que reforçou as raízes negras do Rio de Janeiro. Com a potência de sua bateria, a Verde e Rosa entregou surpresas que deixaram o público em êxtase, encerrando a noite com primor.

À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões

O desfile da Mangueira de 2025 trouxe a história da chegada dos povos bantus ao Rio de Janeiro e sua importância na cultura da cidade. O tema, não é inédito: em 2017 a União da Ilha levou o agrupamento africano para a Sapucaí com o enredo “Nzara Ndembu: Glória Ao Senhor Tempo”.

Na apresentação, a Verde e Rosa retratou a vivência da população bantu em diversos pontos da capital fluminense. A presença da culinária, das palavras, da música, da dança e da religiosidade dos povos foi representada através das fantasias, das coreografias, da decoração dos carros alegóricos e do samba-enredo – cantado por toda a Sapucaí.

O show dos crias

O abre-alas da escola trouxe uma surpresa emocionante para a Sapucaí. Começando com meninos bantu dançando em uma performance em que riscavam o chão com faíscas saindo dos pés, muros com grafittis subiram representando a favela e outro grande espetáculo começou.

Com a bateria encontrando a batida do funk, os meninos se transformaram em “crias”, com um verdadeiro show de passinho, levando o sambódromo ao delírio. No mesmo momento, drones adornados com pipas ganharam o céu, abrilhantando o espetáculo.

Um desfile tecnológico

A figura do “Cria” —  o jovem morador da comunidade e representante da negritude – também ganhou força no final do desfile, em carro representativo da cultura do funk e na alegoria final, com uma escultura enorme de um menino com punho cerrado. Junto à estátua, um letreiro eletrônico dizia: “O Rio é originário, o Rio é do Gueto, o Rio é Banto”.

A Mangueira utilizou recursos tecnológicos ao longo de todo o desfile. Além dos drones e da mensagem no último carro, um telão também fez parte de uma das alegorias, assim como um letreiro em neon que dizia: “Fé Nos Cria”.

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