Angélique Kidjo: antecipou Beyoncé, ama funk carioca e fez Burna Boy gaguejar
Nascida no Benin, virou cantora aos seis e, hoje, é ídola dos astros do afrobeat
“O que eu fiz deixou minha carreira mais difícil. Eu sei disso. Mas eu sou feliz”, diz Angélique Kidjo, quatro vezes ganhadora do Grammy e, praticamente, uma mãe do afrobeat moderno de Burna Boy e Beyoncé. “Por que você está ligando para a opinião de quem você não conhece. Deixe-os falar” diz, relembrando os conselhos de sua mãe, ainda no Benin, país em que nasceu. A cantora lançou seu primeiro álbum em 1990, já misturando os orixás e a energia de seu povo ao electro e ao house. Mas a crítica europeia, à época, não entendeu e achou “pouco África”. “Você quer saber mesmo? Eu não tô nem aí”, diz enquanto se ajeita na cadeira como uma realeza.
Corta para 2023 e Angélique está metendo passinho no palco do The Town, antecedendo Masego e Ne-Yo no palco The One, nesta quinta-feira (07). Não só: ela estava, aos 63 anos, rebolando enquanto empolgava a plateia com “Once In A Lifetime“, do Talking Head. “Eu ainda sou uma clubber!”, gargalha. Em 2019, o nigeriano Burna Boy, maior estrela do afrobeat mundial, ligou pra ela. “‘Se-se-se-se-nhora Kidjo?’ Ele não sabia o que e nem como falar. Veio me procurar porque a minha música tinha influenciado-no em sua arte. Talvez, sim, eu estivesse à frente do tempo mesmo”, reflete.
A cantora é papo reto. “Minha mãe me questionava quando eu falava mal de alguém. ‘Ok, por quê está aí maldizendo essa pessoa? Você a conhece?'”, imita. Essa educação fez da carreira da artista um dedo do meio para um mercado pop quase sempre eurocêntrico.
“Eu nunca tive noção do impacto da minha música na África. Eles não me chamam de Angélique. Eles me chamam pelo nome da minha música. Eu me tornei a minha música. O Burna não só ouviu minha música, mas leu minhas entrevistas. E isso é ser um artista livre. Carlinhos Brown é livre, Daniela Mercury é livre”, finaliza.