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Com o sucesso de ‘Caju’, viagem de Liniker só está começando

Com o sucesso de ‘Caju’, viagem de Liniker só está começando

Cantora é a entrevistada do mês da 10º edição da Billboard Brasil

Avatar de Bruna Calazans
A cantora Liniker

Há menos de uma década, Liniker chegou de mansinho à indústria da música acompanhada da banda Os Caramelows. Juntos ganharam as redes sociais com a faixa “Zero”, viral que antecedeu o lançamento do álbum “Remonta”, em 2016 –o primeiro dos dois que gravaram juntos, como consequência do sucesso online. Em fevereiro de 2020, antes de o mundo virar de ponta cabeça com a pandemia de covid-19, a cantora de Araraquara (SP) decidiu seguir outros caminhos e se aventurar, desta vez, sozinha. Em entrevista para a 10º edição da Billboard Brasil, que chega às bancas nesta sexta-feira, ela fala sobre este e tantos outros momentos de sua carreira.

Foi nesse período de solitude (e isolamento social) que Liniker bolou o que seria a grande virada de sua carreira: o álbum solo “Indigo Borboleta Anil”, de 2021. Com ele, viajou por toda parte cantando as músicas que compôs enquanto este mundo se transformava, ganhou o primeiro Grammy Latino dado a uma pessoa trans e foi imortalizada na Academia Brasileira de Cultura, ocupando a cadeira que fora de Elza Soares (1930-2022).

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Com os caminhos abertos, Liniker volta a viajar, desta vez com “Caju”, álbum batizado com um de seus muitos alter egos. Recém-lançado, o disco conceitual propõe uma viagem de um dia, saindo do Japão rumo a lugares ensolarados onde ela sonha em chegar, lotado de sentimentos que ela deseja sentir. A viagem, segundo ela, também é influenciada pelos astros: Liniker está em seu retorno de Saturno, descrito pela astrologia como o momento crucial que antecede a chegada dos 30 anos.

Com a benção dos astros, ela esgotou o primeiro show da turnê do disco, com uma fila virtual de mais de 30 mil pessoas. A cantora precisou abrir uma segunda data, que também se esgotou. Ela abriu uma terceira (e última, segundo a própria), que também se esgotou. As três apresentações acontecem no Espaço Unimed, em São Paulo, nos dias 8, 13 e 19 de novembro.

Veja a entrevista com Liniker na íntegra:

Como você define “Caju”?
‘Caju’ é o álbum pelo qual estou esperando há muito tempo, é um presente que dei para mim mesma. É um disco extremamente solar, o sol não vai embora, é um verão eterno. Tem muitas reviravoltas, muitos desejos de coisas que quero que virem um capítulo da minha história. Eu acho que um álbum é uma fotografia de um momento muito importante da vida de um artista e, sendo compositora, também consigo ver essas mudanças nos meus discos. Demorou, mas estou muito feliz.

Como foi ter sido imortalizada na Academia Brasileira de Cultura?
Foi a coisa mais doida da minha vida. E o Grammy já tinha sido um teste para o meu coração. É muito, muito significativo, ainda mais no Brasil, que é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. Ser imortalizada em um país que mata pessoas como eu é muito grande. Chega a ser surreal, intangível, quase inacessível pela dimensão. Para mim foi uma honra, principalmente ser empossada na cadeira que foi de Elza Soares, uma pessoa que admiro e vou seguir admirando enquanto eu estiver viva. É uma ficha que ainda não caiu 100%, mas sou grata pelo reconhecimento e pretendo somar com a cultura deste país, que é tão difícil, mas que, ao mesmo tempo, dá tanta alegria para a gente. O Brasil é um país que nos dá um banho de água quente e, ao mesmo tempo, um banho de água fria. Isso o tempo inteiro. Então, eu fico feliz e atenta ao que significa essa responsabilidade.

Liniker foi homenageada na Academia Brasileira de Cultura
Liniker recebe uma homenagem na Academia Brasileira de Cultura (Vinicius Marques/Divulgação)

Quando lançou “Indigo”, você estava explorando uma terra nova, como artista solo. E agora chegou a um lugar mais confortável, depois de um Grammy e uma turnê grandiosa. Como se vê em comparação com 2021?
Acho que, pela primeira vez, artistica e pessoalmente falando, eu estou muito confortável. Não estou com medo, não estou com pressa. Não estou esperando nada além daquilo pelo qual eu trabalhei, nada além da projeção que eu acho que este trabalho merece. É muito bom e confortável poder dizer isso. Às vezes, a gente está com tanto medo de lançar um trabalho, da crítica… E existe essa pressão do segundo álbum. Essa coisa de ‘ai, agora tem que ser um sucesso, porque com o primeiro eu ganhei um Grammy Latino’. Mas, sinceramente, eu estou muito serena. Acho que… Acho, não, tenho certeza do que eu fiz. Meu pé está muito no chão, a cabeça está muito alinhada com meu sentimento, o meu desejo está muito alinhado com o que eu estou sentindo. É muito precioso viver uma fase em que você está em paz com seu trabalho, com você mesma, com sua autoestima. Estou muito preparada. Eu estava ansiosa para lançar este disco, obviamente, porque colocar um segundo filho no mundo é um desafio, mas estou bastante em paz com tudo o que eu construí.

Mas obviamente que ‘‘Indigo’ foi um trabalho que me abriu portas gigantescas. Não só pelo Grammy [Latino], mas pelos lugares que eu acessei, por esse novo lugar aonde minha música chegou, de furar uma bolha sendo e permanecendo uma artista independente

Esse sentimento de serenidade é algo inédito para você?
Totalmente. Eu experimentei várias sensações. Eu tive banda por muito tempo, lancei disco solo, fiz um álbum durante a pandemia, vivi uma turnê voltando desse isolamento. Experimentar esse sentimento de serenidade e paz é muito confortável, muito gostoso. Eu penso: ‘Nossa, está sendo possível’. E é algo de verdade. Não estou inventando isso para parecer bonitinha. Eu realmente sinto isso, de uma forma muito sincera. Acho que tem a ver com a maturidade. Quando você se olha no espelho e vê que está trocando de pele para uma mais madura, sabe? Hoje eu consigo tocar as coisas e saber exatamente –e geograficamente– onde eu estou.

Isso veio com a repercussão que sua carreira teve nos últimos anos? Você viveu uma virada muito grande, né?
Acho que tem a ver com a explosão do ‘Indigo’, mas também com o meu momento de vida. Processo de análise, de terapia, mergulho espiritual, saber de mim de uma forma muito mais segura e confiante do que antes. Acho que também tem a ver com a chegada dos 30 anos. No ano que vem, completo 30. Este é um momento de retorno de Saturno, em que a cabeça fica tão doida. ‘Para onde eu estou indo? O que está acontecendo?’ Então acho que estou bem aterrada. Mas obviamente que ‘‘Indigo’ foi um trabalho que me abriu portas gigantescas. Não só pelo Grammy [Latino], mas pelos lugares que eu acessei, por esse novo lugar aonde minha música chegou, de furar uma bolha sendo e permanecendo uma artista independente. Obviamente teve um impacto diferente do que os meus outros álbuns, mas isso também tem a ver com o impacto da carreira solo. Não deixa de ter medo. Até porque eu estava vindo de uma relação de trabalho de seis anos em uma banda em que a gente fez dois discos, e foi uma coisa superapoteótica, que nasceu de um viral. Tinha aquela coisa de consolidar mês a mês, a gente não possuia um álbum quando lançou [o viral], e depois toda a caixinha de fósforo aconteceu… E me deu uma carreira, né? Consolidada. A sensação que eu tenho é que o ‘Indigo’ foi o disco que me deixou em pé, e o ‘Caju’ é o álbum com o qual eu vou correr. Como uma atleta olímpica.

Espero que venha uma medalha de ouro.
Que assim seja, e assim será.

Liniker durante show do CandleLight
Liniker durante show em São Paulo (Rony Hernandes/Divulgação)

Como você avalia essa questão do viral? “Baby 95”, por exemplo, foi uma música que estourou a bolha e levou seu trabalho para vários lugares. É algo que passa pela sua cabeça quando você está ali, criando um projeto novo?
Eu não penso no viral, mas na qualidade. Eu gosto de trabalhar com muita minúcia e ser específica na produção musical, principalmente. “Baby 95” nasceu de um experimento, de querer trazer o R&B e o pagode, entendendo que o pagode é o R&B brasileiro [leia mais na página 22]. Eu, como uma criança que cresceu nos anos 1990, vendo minha mãe e minhas tias sofrendo com aquela coisa tão ‘na garganta’, tão passional —algo que o R&B tem na sua essência. Acho que essa mudança do R&B para o pagode foi um experimento que deu muito certo, mas, ao mesmo tempo, tem uma produção musical excelente.

Além do viral, “Baby 95” foi o grande hino dos romances nos últimos anos, né? Qual sua aposta para “Caju”?
Defender uma música só é difícil, mas a música que me fez chorar copiosamente quando eu estava no estúdio e me causa um rebuliço até hoje quando eu ouço, mesmo tendo escrito, produzido e pensado, é ‘Veludo Marrom’. É para os corações que estão desesperados para serem amados. Acho que eu fiz [essa música] por um desejo de… Ai, às vezes a gente fica naquelas, né? Eu quero viver uma coisa que parece que não existe ainda. Sabe quando você entra nesse lugar de ter quase uma lista de desejos? Se eu pudesse viver tudo o que eu quero viver hoje, o que eu destrincharia aqui? O que eu viveria? Acho que ‘Veludo Marrom’ traz o melhor do que eu quero viver. Obviamente tem o fato de eu ser uma cantora romântica e, para além de tudo, canceriana. O amor para mim é um negócio que me deixa revirada.

É muito precioso viver uma fase em que você está em paz com seu trabalho, com você mesma, com sua autoestima.

Falar sobre o amor com tanta intensidade é algo que pretende manter na sua carreira?
É o que eu sou. É uma meta de vida, um propósito e também é político. É uma pessoa preta, trans, falando sobre como quer ser tratada. Falando sobre as coisas que quer viver. Eu não sei… pode ser que meu discurso mude. Sou uma artista em rotação, em transformação, em transição de pensamento, de estilo de vida, de muita coisa. Pode ser que daqui a alguns anos eu fale sobre meio ambiente, que é importante também. Mas o afeto é a forma que eu sei escrever, onde eu consigo me derreter 100% e me sentir viva.

Você foi convidada para participar dos DVDs de Thiaguinho e Péricles. Acha que tem tido uma abertura no público desses artistas para o seu trabalho?
Tem um acolhimento muito grande. O Péricles e o Thiaguinho me abraçaram de um jeito muito bonito. Eu sou extremamente grata. Principalmente neste último lançamento, que foi com o projeto ‘Sorte’, do Thiaguinho. A música que cantamos juntos, ‘Febre’, é uma composição 100% minha. Ser uma artista independente vista por gente que eu cresci ouvindo, e já está aí fazendo e acontecendo de um jeito muito grandão… Fico muito feliz de ser acolhida por essas pessoas.

Assista a entrevista de Liniker completa no YouTube

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