‘Queria botar a boce… na mesa’, diz Pocah sobre música ‘anti-macho’
Ex-'@vivianerbd' no Flogão, cantora lança disco e relembra fase new-meta
Viviane de Queiroz Pereira, a Pocah, quer que “Cria de Caxias”, seu segundo álbum, surpreenda. Com hino anti-homem e “momentos de superação”, como ela mesmo classifica, o álbum traz convidadas de diferentes gerações (como Tati Quebra Barraco e Triz) e completa o passeio pela biografia da funkeira mãe da Vitória, dona do clássico “Sento Rebolando Chamando Seu Nome”, fã de RBD e… do new metal da banda Limp Bizkit.
“Eu vi aqui na agenda de agosto que eu só tive duas folgas. Eu quase não dormi esse mês. As poucas horas de descanso que tenho, não consigo dormir.”, inicia introduzindo sua principal adversária, a ansiedade. “Eu sinto que eu me arrasto durante o dia, eu choro, eu grito, entro no meu quarto, fico sozinha gritando —como se fosse resolver alguma coisa”, detalha. Só ela sabe o quanto as coisas deram errado para dar certo.
Há um ano, em entrevista à Billboard Brasil, repercurtindo o lançamento do álbum “A Braba é Ela”, a cantora detalhou alguns dos traumas que a invadiram após A ter sido agredida, roubada e abusada psicologicamente e sexualmente pelo ex-marido. “Eu trato a minha ansiedade. Intensivão mesmo, para não voltar com remédio. Eu estava desde fevereiro sem crises de ansiedade. O que eu estou passando agora é bem diferente. Mas, ainda assim, para não chegar na crise eu vou puxar ferro, dar uns gritos para nunca mais viver como era antes”, conta. Desde 2021, a cantora busca tratamento com psicólogos e psiquiatras. A preocupação também se estendeu para a filha Vitória, hoje com oito anos.
“Eu sou toda traumatizada e só de pensar que a minha filha pode passar um por cento do que já vivi… Mas, graças a Deus, meu trabalho e minha visão de mundo me fez ter dado esse gosto por terapia para ela. Isso já é um grande passo. Se eu tivesse feito isso comigo, teria sido melhor para mim. Já a Vitória faz terapia desde os três anos de idade. Ela sofre com a psoríase, uma condição que se mostra muito por causa do humor também. E a gente trata isso com muito cuidado, já que não tem cura, mas querer atenção. E eu a vejo agindo e fico ‘gente, essa menina é bizarra! É surpreendente observa-la no dia-a-dia. Quanto mais cedo isso for introduzido na vida de nossos filhos, melhor”, analisa.
Resposta feminina e Rock in Rio
Um dos carros-chefe de “Cria de Caxias” é “Só de Raiva”, do refrão “Eu odeio homem / sento nele só de raiva”, do verso “te boto pra mamar / mas não vou te adotar” e participações de Tati Quebra Barraco e Rebecca. Quando perguntada no estúdio sobre o que ia cantar, Pocah não hesitou. “Eu falei que queria botar, desculpe a expressão, a buceta na mesa. Desde o tempo da minha avó que existe esse descontentamento com as atitudes masculinas. Toda diva pop tem uma música falando mal ou matando um homem. E eu queria a Tati Quebra Barraco nessa música, fomos escrevendo pensando nela.”, explica a cantora que, apesar da canção, derrete-se ao falar de Ronan Sousa, seu noivo desde 2021. “É a pessoa em quem confio”, diz.
Além das duas MCs, o álbum traz a funkeira paulistana Triz e a voz de MC GW em “Venenosa” —com timbres do funk de Belo Horizonte—, o MC Durrony em “Assanhadinha” —faixa reprisada do álbum anterior— e L7nnon na biográfica “Brilho Nos Olhos”. Agora, o desafio é transpor a Viviane de Caxias, a MC Pocahontas e a atual Pocah para o palco Espaço Favela, do Rock In Rio.
“É um show que vai surpreender inclusive quem já me viu ao vivo. Teremos canções que nem sempre irão na onda do pancadão, como ‘Nunca Tá Bom'”. Ela se apresenta no mesmo dia da popstar Katy Perry e dois antes de Mariah Carey. Apesar de conhecer muito do pop, Pocah era do new metal. Meses atrás, a cantora estava pulando na companhia do irmão no show da banda norte-americana Limp Bizkit. “Eu devo tudo isso ao meu irmão, Vinicius. Foi ele que introduziu no rock e, sem vaidade, também dizia que todos nós na família deveríamos cantar. Agradeço muito a ele por ter me apresentado o mundo da música”.
O lado roqueira-new-metal não impediu que a adolescente Pocah vissesse uma clássica salada musical que passava pelo pop americano e pela sensação mexicana RBD. “Mas, nessa mesma época, eu estava postando também muitas letras da Mariah Carey no meu Flogão”, diz a ex-flogao.com.br/vivianerbd que, anos depois, pode dizer que divide uma edição de Rock In Rio com a ídola —Mariah se apresenta no dia 22 de setembro no Palco Sunset.