Pocah lança EP em que relembra MC Pocahontas e conta vitória após ida ao ‘inferno’
Cantora virou MC "no susto" e lança projeto autobiográfico após reality e abusos
“Graças a Deus me enfiaram naquele reality em um momento mais zen”, reflete Viviane, que quase foi Vanessa, mas hoje é a Pocah, fenômeno que surgiu em Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, mas que também virou rosto conhecido para muitos após participação no reality “Big Brother Brasil”. Nesta sexta-feira (15), ela lança “A Braba É Ela”, primeiro de dois EPs que revisitam sua biografia. “Quero que conheçam minha história. Só quem viveu sabe”, diz soltando uma gargalhada.
A filha da evangélica dona Marinês (que estará no clipe de “Assanhadinha”, primeiro single do projeto), começou a beijar na boca de meninas e meninos aos 14 anos, pulou muro para ir no Baile da RQ (antigo baile frequentado pela cantora, em Caxias) e virou MC por acaso. “Comecei com as meninas e me descobri bissexual. Quando fui ver já tinha beijado o bairro inteiro — e depois fui beijar o bairro do lado. Pular o muro pra ir ao baile só fiz uma vez. Tomei-lhe um esporro. Minha mãe disse que se eu quisesse sair, ela me levaria ao baile. Até no meu primeiro beijo ela tava”, conta ao desnudar o passado. “Foi assim que eu conheci um namorado de uma amiga minha. Ele era DJ, me chamou pra gravar e foi nessa que gravei ‘Eu Sento Rebolando Chamando Seu Nome’. Aí, esquece”, diz em carioquês rasgado.
“Eu fui no inferno”
Em 2019, a cantora terminou seu relacionamento amoroso e profissional de seis anos com o MC Roba Cena. A cantora não esconde que foi agredida, roubada e abusada sexualmente e psicologicamente. “Eu tava na fossa. Venderam meu carro, me tiraram tudo sem meu consentimento. Quando fui ver já tinham zerado minha conta, não tinha nada. Pedi dinheiro emprestado para um pastor. E eu tava tocando, fazendo sucesso, sabe?”, conta à Billboard Brasil.
A cantora conta que sua filha se chama Vitória exatamente por causa disso. “Tive que me humilhar. A única coisa que eu tinha era minha filha nos meus braços e muita força de vontade de vencer por ela. Eu fui no inferno. Minha filha veio ao mundo e minha maturidade mudou. Meu amor sobressaiu. Nada era capaz de me cegar outra vez”, rememora.
Em “A Braba É Ela”, Pocah manda mais recados a homens intrusivos, como em “Olha E Baba”. “Tem aquela história que se repetiu várias vezes na minha vida que são vários caras que tomam chute na bunda ou que ganharam meu ‘não’ e, daí, você não presta, você é louca, você é safada… Mas nada mais é que ego ferido, sentimento encubado de amor. E se me encostar, já era”.
“Sabe aquilo de ‘vamos ali no beco ver um negócio?’ Vivi tudo isso”
Pocah compôs 50 músicas desde 2021. “Eu queria lançar um projeto de funk com um rumo pra contar uma historia pra geral entender. Então, eu perdi a linha. Precisava soltar [as 50 músicas]. Foram feitas em cima da minha vivência e contadas com batidão de funk”. O projeto é uma volta ao clima instaurado no funk por cantoras como Tati Quebra Barraco e MC Katia que dialogavam e respondiam os funks feitos por artistas homens com funks chamados de “respostas”. “Naquela época era assim. Baile lotado, todo mundo com musiquinha de resposta, com dedo pro alto. E tudo isso é real. Sabe aquela historinha de ‘vamo ali no beco ver um negócio?’? Vivi tudo isso”, explica a artista.
O álbum traz uma parceria com Piso 21, grupo colombiano que, desde 2019, já se reuniu com Anitta e um time de compositores brasileiros. “Encontrei com eles no estúdio e eles queriam gravar um funk. Fluiu super a resenha, mas eu nunca tinha gravado espanhol na vida. Ficou ruim demais! Niguém falou, mas eu sei que ficou ruim”. Pocah já estudava espanhol, mas precisou regravar a canção “Solta-te”. “Tadinhos… Eles foram fofíssimos, ninguém me criticou. Mas fui e regravei. Tem três anos que eu estudo, dei uma bela evoluída”.
Baile, tenda, Kevin O Chris, Pabllo Vittar e salgadinhos de cria
Para reviver o clima da adolescência, Pocah gravou o clipe de “Assanhadinha” no pique de Baile da RQ, que rolava no Campos Elísios, onde morava. “Me senti muito Bibi Perigosa [traficante potiguar interpretada por Juliana Paes na novela “A Força do Querer”]. Cheguei falando ‘quero tenda! Quero paredão! Distribuí bebida pra geral, fiquei me sentindo. Dava pra ver meu brilho no olhar”, se diverte. Apesar de não frequentar mais os bailes de favela (“Eu não tenho ido… Mas morro de vontade, juro pra você”), a artista listou seus três bailes prediletos do Rio. “Baile da RQ, claro, Baile da Mangueirinha, também em Caxias, e o Baile da Penha”.
O segundo volume autobiográfico ainda não tem nome, mas a cantora adiantou, com exclusividade, que Pabllo Vittar estará em modo funk na faixa “Bandidona”. “O segundo EP tem Pabllo e Biel do Furduncinho. É meio que uma segunda parte de ‘Bandida’, sabe? A Pabllo vai cantar num tamborzão, tambor brabo e eu já tô viajando na vibe estética e visual. A gente só precisa encontrar uma brecha pra gravar esse clipe. Amo trabalhar com a Pabllo”, adianta mencionando a faixa que gravou com a drag em 2020.
Para “A Braba É Ela”, Pocah revisita-se mas também os bailes, inspirações e, de quebra, tem dois hitmakers no álbum. O Complexo da Penha e o Baile da Selva (como agora se chama o antigo Baile da Penha e Baile da Gaiola) estão representados por Kevin O Chris (que divide “Barulinho”). Já Caxias cola no álbum por meio da participação de MC Durrony (na faixa “Assanhadinha”) e pelos salgadinhos “com gosto de infância”. “Foi legal gravar no bairro onde cresci, vários amigos presente. Eu ficava relembrando os velhos tempos na resenha com eles, amigos que eu brincava na rua de pique-esconde, de garrafão. Eu sempre quis gravar lá, mas com uma musica que contasse minha historia. E pude contar com ajuda de todo mundo, meus amigos moveram mundos! Disponibilizaram casas pra cenografia, a tenda que faz o baile, o salgadinho com o mesmo gosto da infância. Muito bonito de ver que não é algo de hoje, mas de sempre”, finaliza.