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Quem é Tia Ciata, a grande matriarca do samba e da Pequena África no Rio

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Quem é Tia Ciata, a grande matriarca do samba e da Pequena África no Rio

Foi no quintal de Tia Ciata que nasceu o primeiro samba, 'Pelo Telefone' (Reprodução)

Quando se fala das origens do samba no Brasil, Bahia e Rio de Janeiro surgem como bases diferentes de uma mesma história. Na Bahia, o samba nasceu como ritmo; no Rio, ganhou forma de gênero musical. E, entre esses dois mundos, uma mulher negra baiana radicada em terras cariocas foi decisiva para seu desenvolvimento: Tia Ciata.

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Hilária Batista de Almeida, líder comunitária e religiosa da virada do Século XX, é o nome mais conhecido de uma geração que revolucionou a vida cultural do país. Mulheres e homens que, a partir das tradições afro-brasileiras ancestrais, inventaram a mais brasileira das músicas. 

O Rio de Janeiro vivia intensas transformações sociais no final do século XIX, com a abolição da escravidão em 1888 e a Proclamação da República no ano seguinte. Muitos negros baianos migraram para a então capital federal em busca de mais oportunidades. Assim, formou-se na região portuária uma comunidade chamada de “Pequena África”, onde a cultura afro-brasileira borbulhava.

Tia Ciata e as rodas de samba

Tia Ciata fez parte desse êxodo baiano. Nascida em 1854 na cidade baiana de Santo Amaro, ela foi para o Rio de Janeiro aos 22 anos, levando na bagagem o samba de roda do Recôncavo Baiano e uma forte formação religiosa do candomblé. No Rio, integrou-se à comunidade local e rapidamente se tornou uma respeitada mãe de santo. 

A casa de Tia Ciata, primeiro na Pedra do Sal e depois próxima à Praça Onze, logo se tornou um ponto de encontro e de circulação de saberes. Em sua residência, realizavam-se frequentes rodas de samba, normalmente após celebrações religiosas. Músicos e compositores se reuniam no fundo de seu quintal, mais distante dos ouvidos da rua, para tocar e cantar. 

A própria Tia Ciata brilhava nessas rodas: ela era uma partideira experiente e dançava o famoso “miudinho”, um bailado elegante e sutil da velha-guarda que nos dias de hoje tem Paulinho da Viola como grande representante. 

“Pelo Telefone”: o primeiro samba gravado

Vale lembrar que, naquela época, o samba era criminalizado como “vadiagem” e tais reuniões eram frequentemente reprimidas pela polícia a cacetadas. Mas a influência de Tia Ciata ajudou a contornar essa repressão. Famosa rezadeira, ela chegou a ser chamada ao Palácio do Catete para tratar de uma grave ferida do presidente Venceslau Brás. A cura bem-sucedida fez com que o presidente passasse a proteger as festas em sua casa de um jeitinho bem brasileiro: Tia Ciata ganhou permissão extraoficial para promover rodas de samba, seu marido foi nomeado a um cargo na chefia de polícia, e até soldados foram designados para fazer a segurança dos encontros.

Nesse cenário de gradual aceitação pelas autoridades, o samba se fortaleceu e nasceram canções históricas. O primeiro samba gravado do Brasil, “Pelo Telefone” (1917), foi composto durante uma das rodas de Tia Ciata. A canção, criação coletiva lançada por Donga e Mauro de Almeida, fez sucesso e é considerada um marco fundador do gênero. 

A ala das baianas nas escolas de samba nasce em homenagem às tias como Ciata (Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press via AFP)
A ala das baianas nas escolas de samba nasce em homenagem às tias como Ciata (Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press via AFP)

A partir de então, o samba começou a se difundir aos poucos pelos Carnavais e pelas ruas do Rio de Janeiro, ganhando cada vez mais espaço na vida cultural brasileira. Tia Ciata morreu em 1924, pouco antes de ver o samba se consagrar definitivamente como símbolo nacional incontestável. No entanto, seu legado já estava firmado para as próximas gerações.

A ala das baianas nas escolas de samba surgiu em homenagem às “tias baianas” — mães de santo, cozinheiras e quituteiras que trabalhavam e vendiam seus pratos na região do Cais do Porto, no Rio de Janeiro, vestidas com seus trajes tradicionais. Elas transformavam suas casas em pontos de encontro para cultos de religiões de matriz africana, rodas de capoeira e música. Entre todas, Tia Ciata foi a mais conhecida.

 

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