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Lauryn Hill lota o palco The One provando que é a Nossa Senhora da Música Preta

Lauryn Hill lota o palco The One provando que é a Nossa Senhora da Música Preta

Show contou com participação de Wyclef Jean, do Fugees

Ms. Lauryn Hill (Sidinei Lopes/@oberservadordaimagem/BillboardBrasil)

Acompanhada dos filhos YG e Zion Marley (sim, netos do rei do reggae), Lauryn Noelle Hill subiu ao palco The One no festival The Town neste sábado (6) encoberta por um mistério: como uma artista pode gerar tanto fandom e expectativa mesmo tendo lançado um único álbum na carreira – e há exatos 27 anos.

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Ms. Hill é muito mais do que uma artista, é um exemplar raro de como uma cantora pode criar demanda combinando genialidade, personalidade e, por que não, escassez.

Num tempo em que bandas e cantores precisam alimentar algoritmos com lançamentos constantes e cheios de estratégia de lançamento, ela foi para o extremo oposto. Já já voltamos ao assunto, porque agora vamos falar do show no The Town.

Numa noite populada principalmente por jovens fãs de trap, chegou a ser dúvida nos bastidores – será que o show dela vai flopar?

Limpando a energia

Quando subiu ao palco The One, com uns 20 minutos de atraso, a cama estava feita: fãs lotaram o espaço até as laterais e a DJ Reborn já havia previamente tratado de atiçar todo mundo com hits de brasilidades.

Foi aí que Ms. Hill ganhou o centro do palco emulando uma estátua de Nossa Senhora, só que da Música Preta. Junto com os filhos YG e Zion (que foi homenageado, enquanto recém-nascido, no mítico e único disco da cantora, “The Miseducation of Lauryn Hill”, de 1998), ela trouxe o The Town para uma vibe diferente da que tomava conta do festival até então. Saíam de cena as roupas pretas e a energia “macha” do trap e entrava a vibe solar de uma entidade que sabe seu valor para a música.

Envolta em seu manto dourado de diva de toda uma geração do hip hop, ela atacou uma versão de “Lost Ones” com pegada próxima de um ska, acentuada por um trio de metais e duas dançarinas frenéticas que pareciam homenagear as Iketes de Tina Turner no início da carreira. Talvez não fosse a versão da música que a plateia queria, desconstruída demais, mas Ms. Hill sabe que quem fica parado é poste.

A versão longa me deu a chance de voltar à digressão sobre sua carreira. Símbolo de autenticidade e uma das vozes mais influentes de sua geração, Hill tem sua trajetória marcada por picos vertiginosos de sucesso, escolhas pessoais radicais e uma relação complexa com a fama.

Mais um hit chega totalmente repaginado, “Ex-Factor” ficou menos romântica, mas não menos potente. Aos 50 anos, Hill mostra a facilidade com que passeia por uma estrada que conhece como a própria mão, só que plantando bananeira. Não facilitou a vida para os fãs que vieram com as músicas do disco decoradas.

Ms. Lauryn Hill (Sidinei Lopes/@oberservadordaimagem/BillboardBrasil)
Ms. Lauryn Hill (Sidinei Lopes/@oberservadordaimagem/BillboardBrasil)

Os primeiros acordes de “Zion”, mais roqueiros, não dariam a pista de que seria servida para o The Town uma versão com  pegada latina. Mais um hit desconstruído com sucesso – para desespero dos fãs virginianos.

Mas o fã raiz, como eu, se emocionou ao ver o (agora não mais tão) pequeno Zion, homenageado da música, em carne e osso, mandando ver no toasting (o equivalente do rap no reggae) enquanto a mãe cantava a sua música.

O palco The One viu mais fumaça no horizonte com a família cantando “Three Little Birds”, do vovô Bob Marley, jogando as bençãos de Jah sobre Interlagos. Ao ouvir Zion cantando ninguém precisaria de um teste de DNA para saber que ele é um dos cinco netos de Marley gestados por Lauryn Hill.

Num interlúdio reggaeiro, os meninos dominaram o palco por uns 20 minutos. Primeiro Zion, depois YG. A festa em família seguiu no mood jamaicano. Realmente Ms. Hill não veio a São Paulo para fazer um show de flashback. Uma debandada se notou enquanto os meninos mostravam músicas novas.

Àquela altura, batia um desespero em alguns na plateia (em mim, inclusive) – será que não viria uma mísera música dos Fugees, supergrupo de hip hop do qual Lauryn Hill foi vocalista e maior estrela?

Antes da carreira solo, no início dos anos 90, Lauryn Hill uniu-se a Wyclef Jean e Pras Michel para formar os Fugees (uma abreviação de “Refugees”). Ela se tornou o centro das atenções e, no segundo álbum, The Score (1996), o grupo transformou o hip hop, adicionando soul e reggae a letras conscientes. Venderam mais de 17 milhões de cópias e cravaram hits como “Killing Me Softly” (Roberta Flack) e “Ready or Not”.

Verdade seja dita, os filhos de Ms. Hill são gatos e talentosos. Mas ninguém estava no the Town pra vê-los.

A reza braba para tocar Fugees saiu melhor que a encomenda. Do nada, a cantora convida ao palco seu ex-parceiro, Wyclef Jean! E veio a pedrada “Killing me Softly”. Choraram bem alto os humanos do The Town.

Hill sabe que camarão que dorme a onda leva. O hit romântico de Roberta Flack virou um sambão com direito à participação de integrantes da bateria do grupo Sambô no palco do The Town. Ela tira muita onda essa Lauryn Hill.

O baile terminou com energia renovada com o hit “Fu-gee-la” com a dupla original do Fugees no palco, reafirmando a fé em todos nós que estivemos neste sábado na presença de Nossa Senhora da Música Preta.

Nota da Redação: alguns minutos após o show terminar, a diva desceu do palco e ficou por cerca de 15 minutos acenando, apertando mãos e tirando fotos com o público, separado da cantora apenas pelo gradil do festival. Diferenciada.

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