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TOKiMONSTA: a DJ que superou ‘sons irritantes’ após síndrome chega ao Primavera Sound

TOKiMONSTA: a DJ que superou ‘sons irritantes’ após síndrome chega ao Primavera Sound

Em 2015, Jeniffer Lee perdeu a capacidade de compreender música

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O maior assunto nas entrevistas de Jennifer Lee, a TOKiMONSTA, é a síndrome de Moyamoya. Ela chega ao Brasil em dezembro, como atração do Primavera Sound São Paulo. “Eu não conseguia me comunicar. Perdi o meu idioma principal, que é o inglês. Tudo parecia soar como uma língua estranha aos meus ouvidos”, relata. O diagnóstico de 2015 foi seguido de duas cirurgias cerebrais, um ano depois. A DJ e produtora teve que aprender a ouvir o mundo novamente. Tudo parecia soar metálico, irritante.

“Uhm…”, diz enquanto reflete longamente sobre se a síndrome se compara a um DJ perdendo seus HDs cheios de informação, músicas, samples. “Não, a Moyamoya não é bem assim. Tecnicamente, o sangue drena completamente seu cérebro. Ele força o cérebro a se desligar. Aí, pode acontecer um aneurisma e, então, você morre. Os efeitos da cirurgia para tratar a síndrome me trouxeram muitos problemas. Quando você, literalmente, abre sua cabeça muitas coisas ruins podem acontecer”, relata à Billboard Brasil.

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A artista se apresenta no dia 3 de dezembro, segundo do festival.

Um mês depois da cirurgia, ela bem que tentou abrir o laptop e criar música. Mas alguma coisa ainda tava estranha. “Ao invés de ficar ali me mutilando ou entrar em depressão, eu decidi desligar o laptop, me dar um tempo para a cura. Havia passado apenas um mês da cirurgia. Como é que eu ia fazer uma música?”, relembra. Durante o processo pós-cirúrgico, Jennifer só escutava ruídos, barulhos, chiados, quase todos metálicos. Até hoje, ela não consegue nem brincar de tentar reproduzí-los em sua música.

“Cara, essa é uma pergunta muito interessante”, ela diz, pausando a fala enquanto digere o questionamento se, como produtora, ela nunca teve vontade de “samplear o cérebro” traumatizado pela cirurgia. “Mas é que passou tanto tempo já dessa parada que o que eu tenho agora é uma memória daquela época. Eu não sei se eu conseguiria. E mesmo que eu conseguisse, será que ia ficar bom? Sabe com o que ia parecer? Com o barulho do caminhão do lixo, com pessoas batendo em latas de metal. Não eram coisas que as pessoas iam querer ouvir, era só barulho”, atesta a DJ que, de certa forma, ignora os fãs dos gêneros noise ou drone, todos apaixonados por ruídos.

Fato é que a DJ nem queria falar desse assunto, para começo de conversa. “Eu tive que aprender que falar me fazia bem. No começo era horrível”. Nos vídeos do YouTube em que relata o processo, é possível ver uma série de comentários felizes com os depoimentos da DJ, pessoas que se sentiram tocadas pelo trauma e que, mesmo sem entender na veia o que é passar pelo Moyamoya, se sentem inspiradas por Jennifer em outros lugares ou traumas de suas vidas. “Eu não costumo ler nada, mas eu fico feliz de ouvir o que você está me contando”, brinca expondo um lado um pouco impaciente com a internet em geral.

“Eu? Não! Eu amo a internet, juro! É que eu estou cansada de ter que produzir conteúdo, de toda uma pressão para gerar entretenimento nas redes sociais. Eu não quero ser uma tiktoker. Essa pressão de ter que ser visto nas redes sociais me incomoda muito. Aí você entende todos esses problemas de saúde mental que estamos vendo. Essa galera tá tentando muito, muito, ser vista. Isso tem feito-me pensar muito sobre”.

Apesar de enérgica no palco, a TOKiMONSTA é mesmo outra Jennifer quando está em casa. Quando pedimos que ela compartilhasse, então, dois memes recentes conosco, revela-se que, de fato, a vibe fora do nome artístico tem sido bem mais do aconchego do que da piração.

“Meu trabalho é dar festa, oferecer vibes para as pessoas. Então… quando me chamam para sair, geralmente é essa minha resposta”:

“E eu também fico no celular como todo mundo, rolando conteúdo pra cima e pra baixo. De repente, estou encantada com um gatinho cantando com seu tutor ao violão”, diz graciosamente.

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