Raquel: ‘Ser artista é uma das coisas que eu mais amo’
Cantora foi uma das estrelas da capa da Billboard Brasil em janeiro
“Eu não estou segura, não! Estou morrendo de medo.” É o que diz a cantora e empresária Raquel, 35 anos, que volta neste ano aos palcos brasileiros com seu primeiro álbum solo, “Raquel à Venda!”, que será lançado no primeiro semestre. A cantora começou sua carreira musical no trio As Bahias e a Cozinha Mineira, grupo que nasceu em 2011, produzindo uma MPB visceral, que colecionou indicações e prêmios importantes da música. O grupo acabou em 2021, abrindo novos caminhos para a música de Raquel.
Morrendo de medo, mas cheia de coragem, a artista embarca agora no projeto que marca um momento importante de sua vida e uma mudança em busca de seu lado erótico. “Essa nova Raquel é debochada, metafórica. Deixa dúvidas sobre se está falando sério ou não. Ninguém sabe!”, diz ela, que abandonou o nome composto Raquel Virgínia para ser reconhecida apenas como Raquel.
O novo álbum, segundo ela, deve misturar novas referências dignas da diversidade brasileira, navegando por Lady Gaga, É o Tchan e o pop do artista belga Stromae. “Estou amando. Tenho a sensação de que a música feita por pessoas trans raramente atinge esse espaço popular no Brasil. É um lugar que temos que disputar, e não sei se vou conseguir com esse álbum, mas vou tentar”, afirma, determinada e com a maturidade de quem conhece os desafios da indústria musical.
O projeto musical de Raquel deve ser uma trilogia, que começará com “Raquel à Venda” e terminará com “Decadência de Raquel”. “Vou fazer esse arco”, conta, sem dar tantos detalhes. Esse também é o primeiro projeto em que Raquel escolheu ser intérprete, fazendo apenas pequenas participações como compositora em algumas faixas. “Eu me desafiei a gostar da música dos outros. E, em termos de produção, isso muda radicalmente. Uma coisa é escrever, outra é interpretar.”
Raquel é uma das mulheres trans acima dos 30 que cavaram a duras penas espaços significativos em suas áreas de atuação. Ela investiu na carreira como empresária para continuar a produzir suas canções. Sendo filha de mãe solteira, sempre teve
a música presente em sua vida, seja em grandes auditórios, seja usando o barranco que tinha na casa de sua avó, no Jardim Miriam (zona sul de SP), como palco. Raquel é a história da musicalidade trans brasileira.
“Eu fiz 35 anos recentemente e me perguntei o que perdi e o que continua dentro de mim. A única coisa que eu tenho certeza de que ficou dentro de mim é a vontade. Ser artista é uma das coisas que eu mais amo e faço tudo por isso.”