Quem é a fã brasileira que afirma ter jogado uma Bíblia em Lady Gaga?
Conheça Perfume Tropical, a cantora gospel que virou meme no Rock in Rio 2017
O que você estava fazendo no dia 14 de setembro de 2017? Bom, se você estava no Rio de Janeiro, pela região de Ipanema, você com certeza pode ter se deparado com uma multidão de pessoas encarando o hotel Fasano, um dos mais luxuosos da cidade. Algo rotineiro, já que diversas celebridades internacionais que visitam a capital carioca se hospedam no prédio.
Naquela quinta-feira, Lady Gaga, a cantora a qual todos os fãs ali presentes aguardavam, comunicou seu cancelamento como headliner do Rock in Rio, que aconteceria em dois dias.
A ausência, que aconteceu devido a doença crônica que a cantora tem, a fibromialgia, foi um balde de água fria em seus fãs, apelidados carinhosamente como “little monsters” (monstrinhos, em português).
Um balde de água fria que, bom, rendeu muitos, mas muitos memes. – Quem não lembra de frases como “Ela não vem mais”, ou o tweet da cantora, “Brazil, I’m devastated”, ou seja, Brasil, eu estou devastada? – Entre os fãs presentes, o depoimento para a TV de uma pessoa se destacou, ao surgir preocupado ao alegar que, em suas palavras, havia jogado uma Bíblia que acidentalmente atingiu o quadril da cantora quando ela veio se apresentar no Brasil em 2012, fazendo relação com a sua doença. Ele ainda garantiu que fazia versões gospel de suas músicas, e rezava por ela.
Seis anos depois do cancelamento – e ainda sem nenhum show de Lady Gaga em solo brasileiro desde então– o vídeo foi revivido nas redes sociais durante o mês de setembro. Nas replies, usuários ainda procuravam quem era aquele fã “icônico”. Nos comentários do YouTube, é possível achar uma pista em um comentário: “Eu que taquei a Bíblia na Lady Gaga. Sou Perfume Tropical em toda rede social”, e acrescentou: “Deus te abençoe. Te amo em Jesus.”
Quem é Perfume Tropical?
Flor Késia de Perfume Tropical, de 31 anos, é natural de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Ela conversou com a Billboard Brasil após chegar em casa do trabalho, um projeto remunerado da prefeitura para as mulheres trans e travestis.
Mesmo com as dificuldades, Perfume se apega a suas crenças – ela já realizou uma “turnê” para conhecer diversas religiões brasileiras, até criou uma para chamar dela, batizada como “Frésia, A Grande Flor do Universo”, e cria músicas gospel se inspirando em sua fé – e, também, em seu mundo de fantasias, um hábito que a faz sobreviver desde que se entende por gente. Inclusive, graças a Lady Gaga.
Isso porque, desde os cinco anos, a jovem se identifica no gênero feminino, mas não pode expressar sua identidade e sexualidade por conta do berço evangélico em que foi criada. “Quando eu era criança, criava e desenhava sempre a mesma personagem, só mudando de cabelo e roupa.
“Quando eu conheci a Lady Gaga, vi a personificação daquilo”, conta. “A igreja evangélica causa muito medo e culpa, então, eu tinha muito medo daquela música. Eu ouvia orando em línguas. Mas eu entendi que queria vencer aquele preconceito. Passei muitos anos com depressão, então me apeguei na arte e em Jesus… e via a Lady Gaga falando sobre saúde mental, depressão, e eu não queria que ela passasse por isso, como eu enfrentava.”
A carta, a Bíblia, e o quadril
Compartilhar suas preocupações com a cantora se tornou uma possibilidade durante a sua vinda ao Brasil em 2012, com os shows no Rio de Janeiro e em São Paulo da turnê “Born This Way Ball”. Isso porque Perfume tinha um plano ao comparecer a apresentação na capital carioca.
“Eu botei um capuz preto e invadi a pista premium do show. Conheci o rapaz que estava montando o camarim dela, e ele entregou para ela o meu CD que tinha gravado na época”, relembra.
Além do disco, ela afirma ter levado uma Bíblia com uma carta escrita em inglês para a cantora. “Escrevi sobre o meu amor por ela, e por Jesus, vê se pode?”, conta aos risos. O “presente”, no entanto, acabou, segundo ela, atingindo o quadril de Gaga. A cantora, logo após a passagem pelo Brasil, cancelou apresentações por conta de uma severa dor na região do corpo.
O Rock in Rio de 2017
Cinco anos após o ocorrido, Gaga retornou ao Rio de Janeiro como uma das atrações principais do Rock in Rio. Mas, como já comentamos acima, a cantora teve que cancelar sua apresentação dois dias antes do show devido à fibromialgia.
“Eu não sei o que aconteceu comigo naquele dia. Eu estava em casa, em Caxias, e me veio na cabeça: ‘pede uma moto e vai!’. Naquele dia, fui como eu mesma, não como uma personagem”, relembrou Perfume.
“Eu cheguei lá e perguntei se podia contar meu testemunho. Falei com dois repórteres, mas eles não me deram atenção, só o terceiro. Quando foi 18 horas, o pessoal começou a me mandar mensagem falando que tinha viralizado.”
“As pessoas acham que eu estava brincando, mas eu realmente estava orando por ela, mergulhada na fé e na arte. Eu cantava algumas músicas dela versão gospel, mas algumas pessoas não gostaram, achavam que eu estava mexendo no sagrado, ou seja, nas músicas dela”.
A vida de meme não a desagradou, pelo contrário, Perfume conta que fica triste porque, na época, não usava seu nome atual, para que o público que a conheceu na entrevista pudesse acompanhar sua missão espiritual e artística que ela quer compartilhar com o mundo.
“Sou muito influenciada, além da Gaga, por artistas como Björk e Linn da Quebrada. Também tenho muita vontade de dar continuidade ao disco ‘ARTPOP’“, revela.
Sua história com a cantora também a inspira para encontrar sua voz como uma criativa trans. “Eu via ela falando com autoridade sobre essas causas, e percebi que eu tinha autoridade também. Eu tenho espaço, vez, e voz. A Gaga se tornou parte da minha religião, da minha fé”, diz.
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