Qual a diferença entre o sample e a interpolação?
Entenda os conceitos das técnicas utilizadas na criação de novas canções
É muito comum escutarmos uma música e ficar com aquela sensação de “acho que já ouvi isso em algum lugar”. Pode ser coincidência ou realmente você já escutou, isso acontece devido a algo comum na produção musical, o uso de samples e interpolações.
Essa é uma prática muito utilizada na indústria fonográfica, para os dois casos são usados elementos de canções já lançadas para criar novas músicas. Nos últimos anos é notável o crescimento de criações musicais com “efeitos nostálgicos“. Porém, esse é um tema polêmico e gera confusão, pois essas técnicas às vezes são apontadas como plágio.
Para te ajudar vamos explicar a diferença entre samples e interpolações, e dar alguns exemplos para ilustrar.
Sample
Em tradução literal do inglês, sample significa amostra, e não à toa o termo é utilizado dessa forma. “O sample é a utilização de um pedaço do fonograma original de uma outra música”, explica Tiê Castro compositor e CEO do estúdio de produção Canetaria.
É como se fosse um copia da original e cola na nova canção. Essa amostra pode ser uma voz, um solo de instrumento ou parte de uma melodia. Ao utilizar um sample é necessário solicitar autorização aos donos da master da música (gravação original) que podem ser a editora, gravadora ou até mesmo os próprios autores. Assim, os intérpretes evitam dor de cabeça, pois a música não corre o risco de sair do ar e, consequentemente, evitam-se processos por direitos autorais.
Para ilustrar, podemos citar duas músicas da cantora Anitta que se enquadram nessa prática. O sucesso “Girl From Rio” do álbum “Versions Of Me” conta com um sample do clássico “Garota de Ipanema“. Na faixa estão creditados Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Para a liberação do uso, a carioca solicitou autorização aos herdeiros dos compositores.
Outro exemplo é a música “Quiero Rumba” parceria dela com o produtor panamenho Dimelo Flow e o dominicano Chimbala.
Esse single contou com um recorte do clássico do funk carioca “Rap Das Armas” dos MCs Junior e Leonardo. Os autores também foram creditados na versão de Anitta.
Interpolação
Neste caso, o músico faz uma criação em cima de um trecho já gravado. “Você utiliza uma melodia pré-existente em cima de uma base nova”, conta Tiê. A liberação do uso de interpolações é um pouco mais simples, pois é necessário solicitar autorização apenas para o compositor ou produtor do trecho utilizado.
Taylor Swift, que está regravando seus álbuns, é um bom exemplo do uso da técnica. As masters de seis dos seus discos de estúdio pertencem à gravadora Big Time Machine. Como Taylor é uma das compositoras, ela tem livre autorização para recriar suas obras.
Aqui no Brasil, duas interpolações que chamaram atenção aconteceram com a cantora Treyce. A primeira foi com a música “Lovezinho“, sucesso no carnaval desse ano. O single fazia uma interpolação não autorizada de “Say It Right” de Nelly Furtado. As equipes das artistas não entraram em concesso sobre os direitos de uso e “Lovezinho” foi retirada do ar.
Outra faixa de Treyce que conta com uma interpolação é “Favela“. A base utilizada foi a de “Umbrella”, de Rihanna.
Agora desde o início, a carioca possui a autorização e os autores, o duo de produtores Stargate, foram devidamente creditados.
Falando do mercado brasileiro, o uso de samples e interpolações é algo comum, seria aquilo que conhecemos como versão abrasileirada. Muitas vezes, os produtores e compositores não tomam o devido cuidado ao tema. Com a propagação das músicas pela internet e as redes sociais, é mais fácil que os autores das obras originais tenham acesso à nova e reivindiquem os diretos autorais das músicas.