Pepita: ‘Travesti também sente desejo, saudade e vontade’
Cantora estrelou capa da Billboard Brasil ao lado de Raquel e Mel
Priscila Nogueira, 40 anos, mais conhecida como Pepita, nasceu e foi criada no Rio de Janeiro, cidade em que surgiu também o funk –gênero que a tornou conhecida no universo da música. Ficou famosa primeiramente na internet, por suas frases de efeito e pela presença constante nas figurinhas de WhatsApp. Assim, tornou-se uma das poucas travestis a furar sua bolha e alcançar o grande público.
“A música entrou na minha vida de um jeito muito louco. Sou carioca e, no Rio, o funk muda histórias e sonhos”, conta Pepita, que, além de cantora, é apresentadora, mãe e empresária. Ela estrelou a capa da Billboard Brasil ao lado de Mel Gonçalves e Raquel.
Ela começou na carreira quando o DJ Chacal a convidou para colocar uma fala na faixa que ele estava gravando. Depois, foi chamada para gravar sua primeira canção. “Me perguntei que maluquice era aquela. Mas a música se tornou viral na internet, foi uma loucura”, lembra.
Cheia de atitude, destemida e poderosa, Pepita não cogita parar diante de obstáculos. Fala de sexualidade com a mesma franqueza que canta sobre o assunto. “Falar de prazer é muito fácil para mim. Sou uma pessoa pansexual, gosto de quem me faz bem, como gosto de tocar funk e de sensualizar –apesar de marginalizarem e vulgarizarem o funk. Recentemente, regravei uma música da MC Kátia, que fala que vou dar o cu de cabeça para baixo. Quando lancei o clipe, as pessoas ficaram impressionadas.”
Recentemente, Pepita e seu marido, Kaique Nogueira, aumentaram a família com a chegada do pequeno Lucca Antonio, 2 anos –momento que ela encara como um divisor de águas em sua vida. “Ser mãe é surreal, um verdadeiro reality, um monte de sensações. O momento para mim é de realização, de mostrar para a sociedade que estou viva.”
E a sexualidade e o afeto são temas importantes nesse contexto. “Eu falo para as pessoas que mãe faz tudo isso. E que travesti também faz sexo, sente desejo, saudade e vontade.”
No mundo da música, o fenômeno só cresceu. Depois da primeira canção viral, Pepita começou a se apresentar no Quintal do Funk, em Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro. “Quando cheguei lá, era eu e mais duas travestis que dançavam para mim. Dali saíram muitas músicas, muitos bordões e a faixa ‘Chifrudo’, que escrevi com a Lia Clark.”
O hit coleciona 14 milhões de visualizações no YouTube e brilhou no Carnaval de 2017, tocando em bares, festas e blocos. Mas esse não foi o único sucesso de Pepita. Um dos feitos mais importantes foi emplacar a música “Chama a Beleza” no “Big Brother Brasil”. E o título de Rainha dos Bordões não é o único: a MC foi coroada Rainha de Bateria da Unidos de São Lucas, posto que já foi ocupado por Vera Verão, e foi coroada Musa da Tom Maior, ambas em São Paulo.
Para este ano, Pepita conta que está cheia de novidades. Seu livro “Cartas pra Pepita”, de 2019, que na pandemia se tornou um programa, vai levá-la aos palcos do teatro pela primeira vez. Ela também volta para as telas do cinema com um filme e, na carreira musical, deve lançar seu primeiro trabalho de pagode.
Sobre chegar aos 40 anos fazendo tanto sucesso, ela afirma: “É uma grande responsabilidade representar tanta coisa, mas é muito bom estar aqui e ver novas meninas chegando para fazer a diferença”.