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Oasis mostra que irmãos unidos são ‘absolutamente bíblicos’

Oasis mostra que irmãos unidos são ‘absolutamente bíblicos’

Saiba como foi o show do Oasis no Morumbis

Liam Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)

No figurativo festival “grandes shows no Brasil em 2025”, o Oasis é o headliner. É a grande banda no coração de milhares de fãs que esperaram muitos anos pela volta dos irmãos brigões. E não dá para ignorar que essa  reunião familiar do rock é um evento com grande potencial de despertar o FOMO, sigla para “Fear of Missing Out” (medo de ficar de fora), nas pessoas.

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Oasis homenageia Pepe Guardiola com um boneco de papelão, em São Paulo (Patrícia Devoares/Brazil News)

A expectativa se justifica: Liam e Noel Gallagher eram os reis da era pré digital e, agora, em seu retorno triunfal na Live ’25 Tour, o Brasil acompanhou o mundo todo emocionado com os shows do Oasis . O país foi o último que a banda desembarcou com seus hits.

Por isso, na noite de temperatura amena deste sábado (22), no estádio do Morumbis, em São Paulo, o Oasis começou a encerrar a turnê e encarou a versão brasileira de um desafio: oferecer uma grande experiência com algum ineditismo para um público estimado de 68 mil pessoas “armadas de celulares” e todas as informações na palma da mão. Ou seja, uma multidão de gente que sabia o roteiro do espetáculo e da setlist  de trás para frente, mesmo antes do primeiro acorde de guitarra distorcida.

Mas calma lá. 

No Morumbis, o Oasis se apresentou pela primeira vez em um estádio de futebol no Brasil. Nas outras quatro visitas do grupo de Manchester ao país, os shows não foram realizados nesse espaço de amor compartilhado entre a banda e os brasileiros. 

E esse fator inédito é determinante para explicar o show bíblico, molhado de cerveja e emocionante que o Oasis entregou.

A fórmula explosiva foi uma boa dose de  hinos atemporais, nostalgia dos anos 1990 e ritos de arquibancada que só uma banda e seus fãs que amam futebol conseguiriam reproduzir.

Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)

Como foi o show do Oasis em São Paulo

O show de abertura de Richard Ashcroft, um dos principais nomes da cena britpop e ex-vocalista do The Verve, teve contornos de nostalgia tão forte quanto a banda principal. O ponto negativo foi o telão com pouca visibilidade.

Caixas de som ficaram posicionadas no meio das duas laterais da imagem e a parte central não exibiu o show. Quem estava em um local mais distante não viu o carismático bandleader apresentar os super hits  “Bitter Sweet Symphony” e “Lucky Man”.

Quando o Oasis surgiu no palco com Liam e Noel de mãos dadas, o estádio explodiu em gritos como se estivesse presenciando um gol importante perto do fim do jogo. E essa foi a única vez que os irmãos interagiram e ficaram mais próximos durante todo o show.

O Oasis contou ainda com o simpático cofundador da banda, o guitarrista Paul “Bonehead” Arthurs vestindo uma camiseta da seleção brasileira, a outra guitarra de Gem Archer, o baixista Andy Bell, o baterista Joey Waronker, o teclado de Christian Madden, e mais os músicos de apoio: Joe Auckland no trompete, Alastair White no trombone, Steve Hamilton no saxofone e Jessica Greenfield no backing vocal.

E dá-lhe som no talo com as guitarras distorcidas como o velho rock and roll pede. Não é pouco, afinal, há poucas semanas, no mesmo estádio, o bom show do Linkin Park entregou um som baixo. 

A primeira leva da setlist do Oasis se concentrou no clássico álbum (What’s the Story) Morning Glory?, de 1995. Na música “Hello” que abre o show, a mensagem resume o sentimento: “Olá! Bom estar de volta”.

No segundo hit,  “Acquiesce”, a voz de Noel, que não tem os drives característicos de Liam, mas é sempre encorpada, cantou junto das arquibancadas o refrão “Because we need each other, we believe in one another” (Porque nós precisamos um do outro, nós acreditamos um no outro). 

Faz sentido. Foram anos de briga interminável que serviu entretenimentos como um irmão chamando o outro de batata e piadas sobre um retorno impossível. 

Por isso, o refrão de “Acquiesce” traz alegria para os fãs que sabem que Gallanguer’s  juntos são ainda mais mortíferos.

Veja trecho de “Acquiesce”

Liam precisa de pouco para dominar totalmente o palco e os olhares. A velha pose do corpo inclinado, cabeça erguida e mãos para trás funciona mais que cambalhotas feitas para o TikTok.

Ritos de futebol

Em “Cigarettes & Alcohol”,  Liam pede para o público virar de costas para o palco, abraçar a pessoa do lado e pular.   Chamado de Poznan,o gesto é inspirado pela torcida do Manchester City, time do coração dos dois irmãos. O amor é tanto, que a banda colocou um boneco de papelão no palco para homenagear o treinador espanhol Pepe Guardiola, atual técnico do Manchester City e amigo do grupo.

Oasis homenageia Pepe Guardiola com um boneco de papelão, em São Paulo (Patrícia Devoares/Brazil News)
Oasis homenageia Pepe Guardiola com um boneco de papelão, em São Paulo (Patrícia Devoares/Brazil News)

E só o futebol para explicar a emoção coletiva de pular com um desconhecido e tomar um banho de cerveja.

Veja trecho do público de costas no show do Oasis

O sentimento em comunhão também se deu em “Live Forever”, por conta da homenagem do Oasis para Gary Manny “Mani” Mounfield,  baixista inglês, mais conhecido por ter sido membro das bandas The Stone Roses e Primal Scream. A morte de Mounfield foi anunciada em 20 de novembro de 2025 por seu irmão.

Homenagem do Oasis para Gary ‘Mani’ Mounfield, baixista do The Stone Roses (divulgação)
Homenagem do Oasis para Gary ‘Mani’ Mounfield, baixista do The Stone Roses (Alexandre de Melo)

Em “Stand By Me”, o telão exibiu a imagem de irmãos, família e casais. Confesso que me emocionei.

Por enquanto, vale explicar o contexto da música: Noel Gallagher compôs a canção depois de passar por uma intoxicação alimentar ao tentar preparar um almoço de domingo para sua mãe, Peggy.

A letra começa com “Preparei uma comida e passei mal no domingo” e remete a essa vivência pessoal de fragilidade, convertendo o episódio cotidiano em uma metáfora sobre enfrentar obstáculos e o valor do apoio mútuo diante das incertezas do que está por vir.

A própria reunião e trégua entre os irmãos do Oasis, além da óbvia motivação financeira, foi articulada pelo guitarrista Bonehead, a mãe Peggy, a filha de Noel, a modelo, fotógrafa Anaïs Gallaguer, e os filhos de Liam, Lennon e Gene. Apesar de Liam e Noel não demonstrarem no palco, há muito carinho familiar envolvido no show.

Veja trecho de “Stand By Me”

Antes da parte final, durante um curto intervalo, o público cantou “Stop Crying Your Heart Out” na tentativa de convencer a banda a sair um pouco do roteiro no bis. Porém, os marrentos mais amados de Manchester não cederam ao apelo brasileiro.

Mesmo sem atender o pedido, o bis do Oasis traz uma sequência de tirar o fôlego “The Masterplan”,  “Don’t Look Back in Anger”, “Wonderwall” e “Champagne Supernova”.

Veja trecho de “Wonderwall”

É o poder dessas canções compostas por Noel que faz cada segundo do show de retorno valer a pena. Mas o atual Oasis está ainda mais afiado com todos os ritos de arquibancada e pequenos truques como o deslumbrante trabalho gráfico exibido no telão e fogos de artifício no final do show. 

Quem assistir o show de domingo (23), pode presenciar o último show da história do Oasis, já que os irmãos não falam concretamente sobre continuidade da turnê ou gravações de material inédito. Eles se divertem sem demonstrar muito, diga-se. Se decidirem continuar com novos trabalhos, certamente o rock and roll e as experiências absolutamente bíblicas feitas coletivamente agradecem. 

Em tempos digitais que a inteligência artificial toma conta de tantas coisas, o Oasis ensina que curtir música em grupo segue sendo uma atividade humana que nenhum robô seria capaz de entender.

Se o “impossível” encontro de Liam e Noel aconteceu, não custa sonhar por mais.  “Ninguém sabe como as coisas vão ser”. A propósito da citação e do choro feliz em “Stand By Me”, eu dedico esse texto, as reflexões e esperanças ao meu irmão.

Veja Setlist do Oasis em São Paulo

  1. “Hello”

  2. “Acquiesce”

  3. “Morning Glory”

  4. “Some Might Say”

  5. “Bring It On Down”

  6. “Cigarettes & Alcohol” (com o Poznan, momento em que o público fica de costas para o palco)

  7. “Fade Away”

  8. “Supersonic”

  9. “Roll With It”

  10. “Talk Tonight”

  11. “Half the World Away”

  12. “Little by Little”

  13. “D’You Know What I Mean?”

  14. “Stand by Me”

  15. “Cast No Shadow” (dedicada a Richard Ashcroft)

  16. “Slide Away”

  17. “Whatever” (com trecho de “Octopus’s Garden”, dos Beatles)

  18. “Live Forever” (com homenagem ao baixista inglês Gary Manny “Mani” Mounfield)

  19. “Rock ‘n’ Roll Star”

Bis

20.”The Masterplan” (precedida por apresentação dos músicos)

21. “Don’t Look Back in Anger”

22. “Wonderwall”

23. “Champagne Supernova” (com fogos ao fim)

Veja fotos do show do Oasis em São Paulo

Liam Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Liam Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Liam Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Liam Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Noel Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Noel Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Noel Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Noel Gallaguer do Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
Oasis em SP (@JOSHUAHALLING)
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Oasis em SP @JOSHUAHALLING
Oasis presta homenagem para Gary “Mani” Mounfield, baixista da banda Stone Roses e Primal Scream (@JOSHUAHALLING)
Público vibra no show do Oasis em São Paulo (@JOSHUAHALLING)
Público vibra no show do Oasis em São Paulo (@JOSHUAHALLING)

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