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O hit do pagode que ninguém queria gravar e que viralizou por causa da cunhada

O hit do pagode que ninguém queria gravar e que viralizou por causa da cunhada

'Instinto' foi escrita por filho de Péricles e rejeitada até chegar em Gamadinho

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gamadinho chuva de arroz instinto

“Me manda aí uma música que ninguém quis gravar”, pediu Gamadinho —nome artístico e amoroso de Felipe Ribeiro—, intérprete da canção “Instinto” que, recentemente, ficou vulgarmente conhecida como “Chuva de Arroz” após viralizar nas redes sociais do pagode no final do ano passado. Puxada para o repertório do “Numanice” por Ludmilla, o hit havia sido dispensado por figurões do pagode. Ferrugem, por exemplo, foi um.

“Ninguém entendeu a música”, disse o diretor artístico Carlos Miranda antes de enviar a composição de Luccas Morato, filho do cantor Péricles, com Munir Trad e Brunno Gabriel. Gravada em quatro projetos antes de viralizar, a canção precisou ser gravada em um pagode informal e na voz de uma criança de 10 anos para conhecer as luzes do sucesso.

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“A gente está acostumado com músicas mais fáceis. O mercado está muito descartável. Você acha que vai cantar duas estrofes, refrão e já foi. Ela, não. É uma história.”, explica Gamadinho, cuja história no pagode vem de longe, quase 20 anos de carreira, com passagens por grupos como Pique Novo e Swing e Simpatia.

O sucesso, então, veio inesperado: a cunhada de Gamadinho, queria fazer um churrasco de aniversário e, obviamente, chamou o parente para fazer as honras musicais. “A Suelen [a cunhada] é muito amiga, ela queria um pagode”. Além do presente em forma de show improvisado em um terraço no Recreio dos Bandeirantes, o cantor resolveu registrar o momento informal. “Eu conheço um amigo, Vini, que tem uma produtora. E ele falou para eu pagar só o custo de operação”, conta. O valor não chegou a bater R$ 1.500.

“É muito doido. Foi tudo em um pagode de mesa! Meu projeto anterior tinha banda gigante, gravado em uma casa de show enorme. E aí o sucesso vem assim, com todo mundo de chinelo, bebendo”, reflete.

A canção já havia frequentado as frequências das rádios de pagode, mas naquele esquema que os gêneros populares estão acostumados a fazer: uma parceria comercial com as rádios —prática moderna do famoso “jabá”. “Antes foi negociado. Mas, depois, ela voltou de forma orgânica. Amigo meu acabou de me mandar um vídeo, inclusive, com ela tocando. Era um sonho que eu via muito distante. Você não acha que vai acontecer. Sou de uma época em que, para o meu pai, sucesso era gravar um CD. Você imagina ligar o rádio e tocar sua música? É uma sensação que vai passando um filme na nossa cabeça. Não tem fórmula”, explica o cantor.

 

A filha Antônia e a inclusão no ‘Numanice’, de Ludmilla

“Ela é muito agarrada comigo, meu amuleto da sorte”, diz o pai babão sobre a filha Antônia. Ela é uma personagem crucial na viralização do hit —o que mostra que uma boa composição também precisa de bons intérpretes. Além da persistência de Gamadinho e do diretor musical para levar a canção à frente, Antônia é a responsável por captar boa parte da audiência que ficou presa no vídeo despretensioso.

Agora, ela é parada na rua para fotos, virou símbolo da canção. A cada 10 comentários no vídeo, nove são sobre Antônia. “A quantidade de criança que está indo aos shows é absurda”, conta o pai.

O segundo passo da viralização foi a chegada da música no mainstream do “popgode” brasileiro. Como se não bastasse, “Instinto” passou a frequentar o repertório de Ludmilla nos shows pagodeiros do “Numanice” —de quebra, virou motivo de discussão entre fãs da cantora carioca e da pagodeira Gica, pagodeira paulistana que também adotou o hit —e de voz questionada pelos fãs do gênero.

@ludmillaversos LUDMILLA, Gamadinho – Instinto [Numanice RJ] | #fy #ludmilla #numanice ♬ Instinto (Ao Vivo) – Gamadinho

Depois de quatro gravações, “Instinto” chega como hit absoluto no projeto “Pagode de Amor, vol. 1”. “Eu tenho aprendido a me portar. As coisas eram menores antes.”, diz Gamadinho —cujo apelido veio da escola, quando ficou apaixonado por uma menina chamada Esther, companheira de escola e do bairro Jardim Tropical, localizado em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Apesar dos mais de 15 anos de pagode e carreira em grupos famosos do pagode carioca como Pique Novo e Swing & Simpatia, Gamadinho somente agora está curtindo viver, de fato, do pagode. “Eu trabalhava de carteira assinada, em Nilópolis, como encarregado de serviços gerais, como limpeza, capinagem. Estava ficando complicado. Tive que escolher”, relembra.

“Quem chega agora para me ouvir pega o ‘suco’, né? É a minha virada de chave, da minha vida. Agora está tudo em nossas mãos. Repertório, cenário, tudo do jeito que eu quis. A nossa vontade não é a vontade de Deus. Quando a gente elabora, nem tudo sai como a gente imagina. Mas o trabalho está bonito, estou apostando em uma continuidade de ‘Instinto'”, projeta.

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