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Nando Reis relembra amizade e bastidores e avalia o legado de Cássia Eller

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Nando Reis relembra amizade e bastidores e avalia o legado de Cássia Eller

Nando Reis durante a gravação do Corona Luau MTV (Rafa Leforte)

A parceria entre Nando Reis e Cássia Eller foi uma das mais frutíferas da Música Popular Brasileira. Embora a amizade tenha durado apenas três anos, eles produziram canções que entraram no cânone dos sucessos radiofônicos do país, como “Relicário” e “Segundo Sol”. Ele como compositor e ela como intérprete se completavam de um modo inexplicável e tinham uma química evidente em cima do palco. Convidado para ser a espinha dorsal da homenagem à cantora no Corona Luau MTV 2025, o artista conversou com a Billboard Brasil e relembrou a relação com sua grande amiga.

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Como começou sua amizade com a Cássia? Como foi o primeiro encontro?

Nos conhecemos na casa da Marisa Monte em 1993. Chamamos a Cássia para ouvir as minhas composições. Ela entrou, em silêncio, pegou o gravador, eu toquei as músicas, ela desligou, falou “tchau” e foi embora. A convivência real, a proximidade e a amizade começaram em 1998, quando eu estava no Rio para gravar com os Titãs o “Volume Dois”. Tínhamos amigos em comum e muito tempo ocioso no estúdio. Passei a frequentar a casa dela. E ali surgiu o convite para eu produzir o disco dela. Usei esses encontros para conversar, entender quem ela era, o que queria e como deveria ser esse disco.

Um compositor às vezes escreve já pensando na voz de quem vai cantar. Quais temas você acha que encaixavam na voz da Cássia Eller? E você pensa em músicas que compôs depois de 2001 que poderiam ter sido cantadas por ela?

A Cássia podia cantar qualquer coisa. Poderia cantar inúmeras das músicas que compus depois da morte dela. Penso nisso, sim. Porque sinto muita falta dela… E porque ouvir uma canção minha na voz de outra pessoa é talvez a coisa que eu mais gosto na minha profissão, especialmente na voz de uma mulher. E, no caso da Cássia, ainda mais, porque eu a amava e ela era uma cantora magnífica. Nunca compus para ela. Todas as músicas que ela gravou já haviam sido compostas. Ou, como em “All Star”, foram escritas sobre a gente, mas sem imaginar que ela fosse cantar. A única música que compus diretamente para ela foi “Nenhum Roberto”, por encomenda, para um show chamado “Violões”. Mas, do repertório mais conhecido, “O Meu Mundo Ficaria Completo” só tinha duas estrofes. Compus a terceira depois de uma conversa nossa, já com a gravação do disco definida. Isso foi para ela.

Entre as músicas suas que a Cássia gravou, qual ainda te emociona mais ao cantar hoje em dia?

A Cássia foi a cantora que mais gravou músicas minhas. E uma das que ela gravou fala da nossa amizade, da nossa relação: “All Star”. Quando mostrei essa música para ela, ela não teve nenhuma reação. Achei até que não tivesse gostado. Depois, ela passou a cantar a música sem mim, foi uma surpresa. Canto ela em todos os shows. Alguns dias são mais emocionantes do que outros, mas todas as vezes que eu canto me lembro dela. O que é sempre muito bom.

Você dividiu o palco com duas gerações diferentes da sua: Os Garotin e a Céu. Como foi esse processo de interação com os artistas?

O formato do programa tem algumas características que eu não só precisei respeitar, como considerar. Como a escolha dos convidados, que foram sugeridos. Isso é muito bom, porque eu não gostaria que em nenhum momento parecesse que havia predileção da minha parte. Por coincidência, indicaram a Céu, que é uma grande artista, uma grande cantora, que conheço, de quem sou amigo, já gravou músicas minhas. E Os Garotin, muito mais jovens, que eu não conhecia pessoalmente, embora, como todo o Brasil, tenha sido inundado pela música deles na novela. 

No Coala Festival, você cantou com o Chicão. Como é reconhecer sua amiga Cássia no filho dela, em cima do palco?

Cantar com o Chico foi muito emocionante. Especialmente vê-lo cantando músicas que a Cássia gravou. Além de ser filho dela, que conheci quando era pequenininho, ele tem um timbre de voz muito semelhante ao dela. E também os trejeitos da mãe. Eu não conheci bem o Toninho, mas a Cássia, sim. É bonito. Tenho filhos e vejo neles as semelhanças, mas é difícil identificar. Já, de fora, consigo ver no Chico traços muito semelhantes. Ver isso tudo, a história, o tempo passando, o desenvolvimento… É algo que a gente nunca consegue controlar. Essa é a beleza e a desgraça da vida. E esse foi um dos momentos mais bonitos.

Você também gravou um Luau MTV com os Titãs e com os Infernais, em 2007. Qual a diferença entre o Nando Reis de 2007 e o de 2025?

A diferença é grande. A tendência é sempre idolatrar a juventude ou supervalorizar o amadurecimento. Não é nem um nem outro. Mas consigo identificar naquele de 2007 traços de insegurança. Alguns deles eu resolvi melhor hoje. Antes havia muita fricção dentro de mim. Hoje sou mais calmo com minhas imperfeições. 

Hoje, mais do que nunca, o Brasil precisaria da Cássia Eller?

O Brasil e o mundo merecem pessoas talentosas, que não se acomodam, que são autênticas. Mas isso não significa que o mundo reconheça. Em geral, rejeita, especialmente quem foge ao padrão, como era a Cássia. Sinto muita falta. O Brasil virou um país muito inclinado a um excesso de valorização da moral, do comportamento, o que achata a compreensão da vida social, do indivíduo. A imposição de qualquer modelo de vida é anti-liberdade. Pessoas como a Cássia são libertárias. E é preciso combater isso. É preciso se manifestar. É difícil, porque o grau de violência hoje é muito grande e há muita intolerância. A Cássia se colocava sem necessariamente militar ou ser apologética. Ela simplesmente era. Ela e o Ney Matogrosso são exemplos de pessoas que não precisam falar: são. Eu falo demais. Cássia falava o estritamente necessário e tudo que ela precisava dizer era dito com muita clareza.

Turnê Corona Luau MTV – Tributo a Cássia Eller
Artistas: Nando Reis, Céu e Os Garotin

São Paulo (SP): dom, 21/12, 17h30
Parque Ibirapuera

Ingressos: Eventin (https://www.eventim.com.br/artist/corona-luau-mtv/)

Especial Corona Luau MTV – Tributo a Cássia Eller
Disponível na íntegra: YouTube de Corona e da MTV Brasil e na Pluto TV

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